Terra da Gente

Por *Gabriela Brumatti, Terra da Gente


A facilidade no consumo é consequência da ligação mais frágil entre os gomos — Foto: Martinho Caires/IAC

Um vídeo dos gominhos de abacaxi se destacando do fruto, um por um, circula nas redes com o alerta: “você sempre comeu abacaxi errado”. Talvez o problema não fosse a forma em si, mas sim, o abacaxi: nem todas as espécies permitem consumo da fruta com a casca, mas um modelo específico tem a finalidade de ser despedaçado pelos gomos.

A fruta existe no Brasil e é chamada de “Abacaxi IAC Gomo de Mel”, pois começou a ser produzida há quase 30 anos no Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

O comércio da variedade foi interrompido por conta de sua fragilidade a doenças e, hoje, pode ser encontrada apenas com produtores independentes. Com um futuro promissor, pesquisadores estimam que em três ou quatro anos o fruto possa voltar ao mercado.

Sem intervenção humana, o “Gomo de Mel” foi desenvolvido por cruzamento natural entre espécies já existentes na China, introduzidas no Brasil. A estrutura que “solda” os gomos é mais frágil e, portanto, facilita o destaque.

Alguns exemplares podem ser encontrados com produtores independentes — Foto: Martinho Caires/IAC

O estudo sobre a produção foi iniciado em 1991 e permaneceu por 11 anos. A partir de então, os plantios comerciais começaram. Além do diferencial do consumo sem a necessidade de descascá-lo, o fruto tem um peso inferior aos tradicionais. Assim, o sabor reserva espaço para a baixa acidez e a doçura: quase o dobro de açúcar do que estamos acostumados.

De amargo, apenas o preço: quase três vezes maior do que de um abacaxi comum. “É um valor agregado pela praticidade e qualidade”, justifica Mara Fernandes de Moura, pesquisadora do IAC.

Se o preço poderia ser a única barreira aos consumidores, aos produtores o desenvolvimento da safra também não foi nada fácil. A fusariose, uma doença típica da espécie, causou grandes perdas na produção do “Abacaxi IAC Gomo de Mel”. Ele se mostrou mais suscetível à doença do que em outros exemplares do mercado.

Apesar do tamanho inferior, os gomos são mais avantajados com relação a outros abacaxis — Foto: Martinho Caires/IAC

Mara Fernandes atualmente está responsável pela manutenção e multiplicação do fruto no Instituto, que desde 2005 realiza ensaios para verificação da resistência do abacaxi a pragas e outros distúrbios.

A última variedade de espécie de abacaxi lançada pelo órgão é chamada de “IAC Fantástico”. “Apesar de não destacar os gomos, ele possui maior demanda por ser resistente à fusariose, mais produtivo, saboroso e sem espinhos nas folhas”, explica a pesquisadora que torce para que o “Gomo de Mel” siga o mesmo caminho.

Com origem na América Tropical, fruta é hoje uma das mais populares no mundo — Foto: Arquivo/Terra da Gente

Os gomos do abacaxi

O que se parece um único fruto é, na verdade, um conjunto de centenas de frutos aglomerados. Cada “olho” ou “gominho” do abacaxi cresceu a partir de uma flor e fundiu-se em um grande corpo, a partir do qual se desenvolve a coroa.

Essa forma curiosa de constituição também permanece no cultivo: os frutos não abrigam sementes e, por isso, uma das formas de plantá-lo é através da coroa.

*Supervisionado por Fábio Gallacci

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