Inspirada em ‘Rei Leão’, startup quer pôr grilo na dieta do brasileiro

Com alto valor proteico, inseto será base para barrinhas de "cereal" e farinhas fabricadas pela Hakkuna; startup nasceu em Ribeirão Preto, mas tem escritório em Piracicaba

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Por Paulo Beraldo
Atualização:

Enquanto algumas startups se dedicam a aumentar a produtividade no campo, outras buscam alternativas para a mesa dos brasileiros com ideias ousadas. “No futuro, a gente vai comer inseto sim”, diz, sem cerimônia, o engenheiro agrônomo Marcelo Romano Teixeira. Ele é hoje o responsável pela tecnologia de produção da Hakkuna, startup que produz insetos comestíveis – o nome da empresa vem da canção da animação O Rei Leão, no qual o leãozinho Simba acaba tendo de comer grilos para sobreviver. 

No caso da startup de Ribeirão Preto, mas que conta com um escritório próprio em Piracicaba, a visão vai além da subsistência. Segundo Teixeira, o grilo é um animal rico em proteínas e vitamina B12 – tem mais gramas desse nutriente que o salmão, por exemplo. Lá fora, o bicho já é valorizado no mercado de alimentação saudável, algo que a Hakkuna quer popularizar por aqui com barrinhas “de cereal” e farinhas. 

Inseto é rico em nutrientes, diz Teixeira Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Para isso, pretende instalar uma “fazenda experimental” com criação de grilos anexa ao AgTech Garage, outro dos hubs de inovação de Piracicaba. No futuro, a startup, que já tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) também pretende atacar o mercado de alimentação animal, com uma mosca que come resíduos orgânicos. “Podemos transformá-la em proteína e vender para pecuaristas”, diz Teixeira. 

A Hakkuna é um bom exemplo do que pode se chamar de foodtech – empresa que usa tecnologia para repensar a produção de alimentos, às vezes até com ingredientes ousados. É algo que pode mudar a cara do setor. “Temos que deixar de ser o celeiro do mundo para ser o supermercado do mundo”, defende o engenheiro Paulo Silveira, criador do Food Tech Hub, iniciativa dedicada a startups do setor criada neste ano. 

Paulo Silveira, criador do Food Tech Hub Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem ter um espaço físico definido, o Food Tech Hub conta com o apoio de instituições de pesquisa, como o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), além da indústria alimentícia e de uma rede internacional com integrantes em Israel, no Reino Unido e na Holanda – nos três locais, hoje já existem importantes hubs de produção de alimentos. 

"Não vejo razão para o Brasil não ser referência em alimentos. Só é preciso determinar o valor que um polo de inovação na produção de alimentos irá adicionar ao agronegócio brasileiro", afirmou Roger Van Hoesel, diretor do Food Valley, iniciativa que une startups do agronegócio e da alimentação na Holanda. 

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