Produtores de São Paulo e de Goiás já estão conseguindo antecipar a sangria dos seus seringais, em até dois anos. Isto é possível com o uso da tecnologia de irrigação por gotejamento na implantação da cultura da seringueira, cuja adoção foi incentivada há cerca de quatro anos por pesquisadores do Pólo Alta Mogiana/APTA Regional, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), em parceria com produtores.
O propósito deste trabalho era o de antecipar o início da sangria e acelerar o retorno do investimento, por meio de eventos de capacitação como palestras, cursos e dias de campo, diz a pesquisadora Elaine Cristine Piffer Gonçalves. “Nas nossas condições, os seringais entram em sangria com cerca de sete anos, quando a árvore atinge 45 cm de perímetro de tronco para 1,20 m de altura e 6 mm de casca. Em plantios irrigados, as árvores conseguem atingir estes valores aos cinco anos, enfatizando a importância desta nova tecnologia.”
Neste período, foram instalados experimentos em propriedades particulares, como Fazenda Córrego do Ouro, em Pontes Gestal (SP), e fazenda do grupo Moraes Ferrari, no município goiano de Nova Crixás, além do próprio Polo Regional Alta Mogiana, em parceria com a empresa Netafim e com a UNESP-Jaboticabal. Em Nova Crixás (GO), por exemplo, 50% das árvores do seringal já foram colocados em sangria com 4,5 anos e 80% com 5,5 anos, conta Elaine.
O uso desta tecnologia, além de garantir água suficiente para o desenvolvimento pleno das plantas e a homogeneidade do plantio, permite o parcelamento das adubações (quinzenais e/ou mensais), explica Elaine. “Isto faz com que ocorra maior aproveitamento por parte das plantas, economia de mão de obra e antecipação do processo de extração do látex. Os resultados preliminares dos experimentos realizados e daqueles em andamento no Polo Regional permitem inferir que a irrigação garante homogeneidade e diminui a porcentagem de perdas (de 8 a 10% no plantio normal para 1% no irrigado) das mudas de seringueira.”
Além de Elaine, atua no projeto o pesquisador José Fernando Canuto Benesi, bem como pesquisadores da área de fitotecnia (vegetal).
Competição de clones
De acordo com a pesquisadora do Polo Alta Mogiana, está em fase de instalação, na Fazenda Cônego do Ouro (Pontes Gestal), experimento inédito com a finalidade de promover a competição entre clones nacionais (série IAC) e internacionais (originários de Índia, Malásia, Indonésia etc.), em parceria com o Instituto Agronômico (IAC-APTA) e o Viveiro Citrosol. Hoje, 80% dos seringais de São Paulo e do Brasil são baseados em plantios de um único clone (RRIM 600), explica a pesquisadora. “Se aparecer nova praga ou doença, e este clone não for suscetível, a cultura será comprometida.”
O objetivo do projeto é ajudar futuramente na recomendação regionalizada de clones para o Estado, informa Elaine. “Este trabalho vem sendo feito há muitos anos pelo IAC, a fim de reduzir possíveis problemas fitossanitários e de alcançar maiores produtividades, em consonância com as características regionais e com os sistemas de produção e manejo adotados. Temos de considerar que o programa de melhoramento genético da seringueira é demorado – o horizonte é de 15 anos, no mínimo.”
Cultura intercalar e consórcio
No Polo Centro Norte/APTA Regional/SAA, o carro-chefe das pesquisas em seringueiras é o melhoramento genético, conduzido em parceria com o IAC, que se constitui de avaliação e criação de clones de seringueira. Fruto deste trabalho é o lançamento nos últimos anos de 14 clones, que são classificados em classes II e IIIA, de acordo com avaliações que provaram o seu mérito ao longo do tempo.
Os clones da classe II (plantio em escala moderada) podem ocupar mais de 50% da área total de plantio da propriedade, enquanto os da classe IIIA (plantio em escala experimental) são recomendados para até 15% da área total, de acordo com o pesquisador Antonio Lucio Mello Martins. “Assim, pretende-se estimular a diversificação dos clones utilizados pelos agricultores de maneira a minimizar os perigos do uso de pouca variabilidade genética.”
Mas já está sendo recomendada a adoção de alternativas de culturas intercaladas ou de consórcios, diz Antonio Lúcio. “Como a seringueira leva tempo para dar retorno, o produtor pode utilizar cultura intercalar para gerar renda até a seringueira produzir. Isto é possível até o quarto ano, antes de se criar sombreamento (fechamento da copa).”
A diferença entre as duas técnicas é que a cultura intercalar (milho, amendoim, soja, mandioca etc.) produz temporariamente até a seringueira entrar em produção. Já no consórcio com seringueira a produção da outra cultura (urucum, café, limão etc.) estende-se por um período mais longo, até terminar a sua vida útil. Mas cresce a procura por plantas que suportam o sombreamento, conta Antonio Lucio. Já tem produtor utilizando palmeira juçara para explorar o fruto (fazer polpa).
No Sítio São José, em Itajobi, o produtor Reinaldo Aparecido Gotardo - em parceria com a mãe Passion - experimenta limão em consórcio com a seringueira. Ele produz limão Taiti há 20 anos, quando abandonou o café. Atualmente, colhe cerca de cinco mil caixas por ano, que vende para a empresa Itacitros, de Itajobi.
Há cerca de quatro anos, decidiu inovar, plantando 420 pés de limão Taiti e um ano depois implantou um seringal consorciado de mil árvores. O limão foi plantado com 14 metros entre linhas e 4 metros entre plantas, enquanto a seringueira tem média de 7 metros entre linhas e 2,7 metros entre plantas. A rua com limão tem 8 metros, para facilitar o manejo da cultura; já a rua de 6 metros não tem limão.
A intenção de Reinaldo é levar o limão até a seringueira produzir (daqui 3 a 3,5 anos). Mas ele espera que o limão continue produzindo (apesar da tendência de declínio da cultura) mesmo com o sombreamento da seringueira. “A idéia é que o limão pague o custo da seringueira e que ainda sobre um pouco.”
A decisão de fazer o consórcio partiu de projeto da prefeitura municipal que forneceu mudas subsidiadas a agricultores familiares (limão por 50% do valor de mercado e seringueira por R$ 1,00). Reinaldo já está colhendo limão há dois anos e meio (cerca de 500 caixas por ano).
Já a condução do cultivo da seringueira é feita com assistência do técnico agrícola Renato Arantes, da empresa Debor Borracha, que foi estagiário do Polo Regional Centro Norte. Basicamente, ele fornece orientação sobre adubação e combate a doenças, conta Reinaldo.
Competição da braquiária
De volta a Colina, projeto, desenvolvido no período 2008-2010, concluiu que o capim braquiária compete muito com a seringueira e retarda o desenvolvimento da cultura e a consequente entrada em sangria, quando não é manejado adequadamente. Trata-se do projeto “Estudo dos efeitos da faixa de controle e dos períodos de interferência da brachiaria decumbens e seus reflexos na implantação da cultura da seringueira”, coordenado por Elaine Gonçalves, em parceria com o professor Pedro Alves (UNESP-Jaboticabal) e o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que resultou em dissertação de mestrado do aluno Caio Guzzo.
Em áreas onde não se faz o controle da braquiária no primeiro ano de plantio, explica Elaine, ocorre redução de até 57% na altura das plantas e de 42% com relação ao perímetro (a planta desenvolve menos). Assim, recomenda-se que seja mantida uma faixa mínima, no primeiro ano de implantação, de 50 cm de cada lado da linha de plantio livre de plantas daninhas que competem com a seringueira. Esta faixa aumenta de acordo com o desenvolvimento da cultura.
Os resultados de pesquisas com seringueira são divulgados em eventos regionais ou no ciclo de palestras sobre heveicultura paulista, realizado a cada dois anos pela comissão técnica de seringueira do Estado de São Paulo (da SAA), em parceria com a Associação Paulista de Produtores de Borracha (APABOR). Também são promovidos, duas vezes por ano, cursos de sangria e de produção de mudas, para suprir a falta de mão-de-obra no mercado.
Em Pindorama, Antonio Lucio destaca, na área de fitotecnia, estudo concluído em 2009, que define clones de seringueira para a produção de sementes em porta-enxerto. Outro trabalho, terminado na safra 2008/09, define a utilização de leguminosas na formação de seringueira. Em andamento, ele cita o estudo da freqüência de sangria e da concentração de estimulantes (hormônio para aumentar a produção da seringueira) com o clone comercial PB-235. Também se encontra em andamento projeto de análise da qualidade do látex em parceria com a Embrapa e o IAC.
Jardins clonais
Antonio Lucio destaca, ainda, o jardim clonal do Polo Regional, que fornece borbulhas dos vários clones comerciais e garante a característica genética de novos pomares, além de material genético para experimentação. “Os produtores buscam, cada vez mais, borbulhas nos jardins clonais dos Polos Regionais Centro Norte (Pindorama), Alta Mogiana (Colina) e Noroeste Paulista (Votuporanga). Estão para ser regulamentadas normas de produção de mudas de seringueira, o que vai aumentar a importância dos jardins clonais.”
O valor da produção paulista de borracha é de R$ 514,75 milhões, o que coloca o setor na 14ª posição no Estado, segundo estimativa preliminar do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA). A produção do seringal em 2010, nas regiões de São José do Rio Preto, Barretos e Catanduva - onde se localizam os Polos Regionais Noroeste Paulista, Alta Mogiana e Centro Norte - foi de 64,28 milhões de kg de coágulo, pouco menos da metade dos 132,64 milhões de kg de coágulo obtidos no Estado.
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