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“Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou”

São Paulo está em plena safra de pêssego, que pode ser consumido in natura, sucos e geleias. Esses produtos vêm perfumando as gôndolas de varejões e supermercados. Para auxiliar os agricultores na obtenção de produtos de qualidade, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Agronômico (IAC-APTA), desenvolve uma pesquisa inédita no Brasil com o sistema de produção em paredão frutal na cultura do pêssego. Os ganhos são vários: aumento em torno de 10% no peso do fruto, que também apresenta polpa mais firme, melhor coloração e sabor, características que agregam valor ao produto. Outros benefícios são a redução do porte da planta, facilitando a colheita, e a facilitação da aplicação de agroquímicos, reduzindo as doses usadas.

Segundo a pesquisadora do IAC, Graciela da Rocha Sobierajski, no novo sistema, a produtividade da polpa é de 92.42 gramas por fruto, o peso médio do fruto é de 97.56 gramas e a firmeza da polpa, de 4.27 quilos por centímetro. No sistema convencional em Y, esses números são 85.70, 90.44 e 3.50, respectivamente. “Esses ganhos de qualidade do produto agregam valor, pois a firmeza resulta em frutos menos danificados na pós-colheita, proporcionando maior tempo de duração nas gôndolas, além de frutos mais suculentos”, explica. As polpas maiores também trazem a opção de uso para a indústria, segundo a pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

Considerando os dois métodos — o sistema de produção em paredão frutal e o sistema convencional em Y —, a principal diferença está no modo de fazer a poda dos ramos. No sistema em paredão frutal, a poda é feita com o objetivo de manter os ramos voltados para a área interna da linha de plantio. No sistema convencional em Y, o corte direciona os ramos para a rua.

De acordo com a pesquisadora, com o desbaste feito no sistema de produção em paredão frutal, tem-se melhor cobertura da copa, resultando em menor incidência de sol nos galhos e, consequentemente, maior proteção da planta a queimaduras por radiação solar. Ainda assim, essa poda proporciona acesso do sol na medida certa aos frutos, que apresentam melhor coloração e sabor. A pesquisadora do IAC e o produtor que participa do estudo, Waldir Parisi, acreditam que a tecnologia traz ainda maior longevidade aos pomares, podendo prorrogar de dez para até 15 anos. “A queimadura da planta é principal responsável pela redução da vida produtiva do pessegueiro”, diz Parisi.
Outro benefício desse sistema de produção é a redução do porte das plantas que, por ficarem mais baixas, facilitam tanto a colheita manual quanto a mecanizada.

Independentemente do método de produção, o cultivo de pêssego depende da poda dos ramos, que deve ser realizada por profissionais especializados para que haja o florescimento. “Algumas espécies exigem cortes maiores e outras, menores; por isso conhecer bem a variedade e suas características é importante para uma boa produção”, afirma Graciela.

O estudo é desenvolvido, desde 2015, em parceria entre o IAC e o agricultor Waldir Parisi. Naquele momento, em um congresso na Austrália, Graciela havia conhecido o desempenho desse sistema na produção de pêssegos, adotado na Itália. Parisi, naquele mesmo período, tinha visto o sistema em uma visita técnica ao Uruguai. “Quando voltei quis iniciar a pesquisa e foi uma feliz coincidência, pois ele também tinha o interesse de testar o novo método”, relata a pesquisadora.

A variedade de pêssego escolhida para a pesquisa no sistema em paredão frutal foi a Tropic Beauty, originária dos Estados Unidos, que foi introduzida no Brasil e teve boa adaptação climática e aceitação pelos produtores e consumidores, além de ser precoce.

O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional, mas São Paulo tem uma produção antecipada, que disponibiliza frutos para comercialização a partir de agosto. Nos pomares paulistas, a produção está concentrada nos municípios de Atibaia, Jarinu e região Sul do Parapanema. Apenas em dezembro as cultivares do Rio Grande do Sul, Argentina, Chile e Uruguai chegam ao mercado.

“Vou adotar sempre essa tecnologia porque ela é mais vantajosa”, diz fruticultor.

O fruticultor Waldir Parisi destaca a melhora da qualidade dos frutos e do manejo e espera que seus pomares tenham maior longevidade. Até o momento, oito hectares já foram reformados para o novo sistema, com perspectivas de remodelação de mais cinco hectares em 2020. “Vou adotar sempre essa tecnologia porque ela é mais vantajosa”, afirma.

De acordo com Parisi, embora o custo de renovação do pomar seja o mesmo que no sistema convencional, em torno de R$ 40 mil, por hectare, a nova técnica proporciona uma redução nos custos de aplicação de defensivo e, futuramente, trará mais economia com a mecanização da colheita. “Esperamos que, em breve, a colheita possa ser mecanizada, pois há melhores condições para a prática; além de uma avaliação futura sobre a diminuição do uso na aplicação de defensivo”, acredita.

O estudo está na terceira etapa, de um total de cinco. O objetivo é analisar as safras em todos os cenários possíveis. A pesquisadora do IAC espera que essa técnica seja transferida em breve para outros estados. Ela ainda pretende, após a finalização das últimas duas etapas, retomar o estudo com foco nos componentes nutricionais. “Como os frutos apresentam melhor fitossanidade e maior incidência de radiação, pode ter um acréscimo de nutrientes, mas que só será comprovado em um futuro projeto de pesquisa”, diz.

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