Mesa farta, receitas saborosas, pessoas reunidas e brindes que saúdam o encerramento de um ciclo e o início de outro. Este é o cenário típico das festas de fim de ano em que as pessoas se reúnem para confraternizar, refletir e degustar a imensa variedade de alimentos e bebidas oferecidos pelo agro paulista. Frutas, castanhas, vinhos, queijos, sucos, patês, geleias, carnes, entre outras inúmeras opções.
Por trás desses sabores há o trabalho árduo e diário de milhões de agricultores que trabalham para que não falte alimento e para que essa celebração seja colorida, saudável e apetitosa. Junto com eles está uma empenhada equipe de pesquisadores, extensionistas e inúmeros profissionais da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo que atuam para que a produção, colheita, sanidade, qualidade e distribuição dos alimentos chegue à mesa do cidadão de forma rápida e segura.
Um dos protagonistas da ceia de Natal sempre foi o peru, que faz companhia ou é substituído pelo frango, bacalhau, chester, pernil ou leitão. No entanto, neste ano, os consumidores se mostraram interessados em experimentar novos sabores e é provável que o personagem central do jantar ou almoço natalino seja outra ave: o pato. “Em São Paulo, aumentou em 50% a procura por carne de pato, rica em ferro e selênio, com sabor parecido com a do frango”, informa João Germano, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Aves Raras.
De acordo com ele, outras carnes bastante procuradas em 2019 e que devem estar em alta em 2020 são as de faisão, coelho e carneiro. “Acredito que o aumento da procura está relacionado à entrada de estrangeiros no País e ao interesse das pessoas por sabores diferenciados e exóticos”, diz Germano, que revela que já constatou um aumento de 30% pela procura da carne de faisão e 10% pela de coelho.
Já o frango não deixou de ser procurado. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de carne de frango em São Paulo representa 9,47% da produção brasileira, tendo ficado na 5.a posição do ranking dos principais produtos do Estado. De acordo com o Valor da Produção Agropecuária (VPA), a avicultura rendeu em torno de R$ 6.5 bilhões em 2018, sendo que cerca de R$ 3.7 bilhões resultou da produção carne de frango. Outro levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA) revela que em São Paulo existem 591 milhões de cabeças de frango para abate, que geraram 1,3 bilhão de quilos em 2018.
Uva e Romã
As frutas também não podem ficar de fora. Tradicionais nas comemorações de fim de ano, a uva e a romã fazem parte de conhecidas simpatias. Diz a lenda que, para atrair dinheiro, as pessoas devem comer uma das frutas na noite do dia 31 de dezembro e separar sete sementes que devem ser guardadas na carteira até a próxima passagem do ano. Independentemente do resultado, o que é certo é o benefício das frutas para a saúde.
A romã, que conta com cerca de 12 mil pés no Estado de São Paulo, é um poderoso antioxidante, colabora para a beleza da pele, inibe os índices do LDL - o colesterol ruim -, entre outros benefícios. Um dado interessante, de acordo com Nobuyoshi Narita, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura, é que esta não é a melhor época de comercialização da fruta pelos produtores paulistas. “As romãs americanas e espanholas chegam com força no Brasil e permanecem de novembro a janeiro. Ainda não conseguimos concorrer com as variedades importadas, principalmente com a Wonderful, dos Estados Unidos, que pode chegar até a 1kg cada. No entanto, naquele país, a produção é realizada apenas durante o verão. Já no Brasil, é possível produzir durante todo o ano e comercializar entre fevereiro e outubro, de forma constante. Os principais consumidores da fruta são os árabes e judeus”, diz Narita, que ainda informa que já há pesquisas em andamento para que haja melhorias na fruta.
Já a uva contém vitamina C, vitaminas do complexo B e sais minerais como ferro, cálcio e potássio, combate os radicais livres e também é anticancerígena. Em São Paulo, a produção média é de mais de 29 milhões de caixas de 6kg de produção de uva de mesa, mais de 9 milhões de caixas de 7kg de uva fina para mesa e mais de 1 milhão de quilos de uva para indústria.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/Usp), nesta época do ano, geralmente o consumo de frutas natalinas aumentam, como uva e frutas de caroço. O consumo de frutas consideradas mais refrescantes também sobe, como melão e melancia.
Vinhos e espumantes
Além das comidas e simpatias, o brinde não pode faltar. Vinhos e espumantes estão bastante presentes nas comemorações entre familiares e amigos. Em Jundiaí, considerada a Terra da Uva e do Vinho e uma das cidades do Circuito das Frutas, há vários pequenos produtores que trabalham na produção dessa bebida. Muitos deles estão reunidos na Associação de Viticultores Artesanais de Jundiaí (AVA), que, apesar do nome, já se tornou uma cooperativa atendida pelos extensionistas da CDRS, da Secretaria de Agricultura.
A cooperativa colocou em funcionamento uma linha de envase de vinho itinerante com recursos do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável Microbacias II – Acesso ao Mercado, do governo do Estado, da Secretaria de Agricultura, com apoio do Banco Mundial. Com a ação, conquistaram mais qualidade e novos mercados. De acordo com Amarildo Martins, presidente da AVA, os 25 cooperados, de 15 adegas da região, trabalham arduamente durante todo o ano para que possam atender à demanda destas festividades. “Nesta época do ano, a procura por vinhos e espumantes mais que dobra. A busca maior é por vinhos tintos suaves e pelos rosés. Já a venda dos espumantes, principalmente os demi sec, disparam”, conta, afirmando que além de os nacionais e paulistas serem acessíveis e de muita qualidade, os espumantes podem ser consumidos em ambientes e horários diversificados como em praias, piscinas e reuniões familiares; além de serem uma ótima alternativa para presentear pessoas queridas. “É fato que nesta época o mercado está aquecido e nós, produtores, também ficamos satisfeitos ao ter uma melhor renda”, anima-se.
Castanha
Outro ingrediente que incrementa a ceia de Natal é a castanha portuguesa. Consumida assada ou cozida, é uma fruta muito procurada nesta época do ano. Produzida de novembro a março, o consumo maior ocorre entre o Natal e o Ano Novo, de acordo com os produtores. “É uma planta de clima temperado e por isso produz melhor em regiões onde há períodos sem chuvas e com temperaturas amenas. Ela exige um solo bem preparado e o segredo também está na escolha de boas cultivares”, informa Silvana Catarina Sales Bueno, engenheira agrônoma do Núcleo de Produção de Sementes de São Bento do Sapucaí, da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
“No Núcleo estamos formando um matrizeiro com várias cultivares de características comerciais superiores, que fornecerão uma castanha com bom tamanho, sabor adocicado, com polpa inteira e macia e casca que solta mais fácil”, revela.
Marcelo Motta, produtor de castanhas de São Bento do Sapucaí, explica que a castanha tem origem europeia, mas que as produzidas em São Paulo são de excelente qualidade e propriedades nutricionais. “Herdamos dos portugueses o costume de comer castanhas, pois eles as trouxeram ao Brasil. Esta é a melhor fase para que os produtores lucrem com as vendas desse produto, justamente pela tradição das famílias brasileiras. Muitos confundem as castanhas portuguesas importadas com as produzidas no Brasil. A diferença é que as nacionais são mais frescas e consequentemente têm mais água; são mais brilhantes e adocicadas. Podem ser usadas in natura, em farofas, no arroz e até em doces. Ficaria feliz se as pessoas consumissem as castanhas durante todo o ano e não só nesta época. Elas são saudáveis, isentas de óleo e apresentam bastante amido, vitaminas B e C e tanto potássio quanto a banana”.
Saladas
A olericultura possui um potencial promissor no Estado de São Paulo e está se expandindo rapidamente, sendo umas das cadeias produtivas mais presentes em solos paulistas. Quase todos os municípios do Estado têm na produção de olerícolas (hortaliças folhosas, hortaliças frutos e hortaliças raízes e tubérculos), uma das principais fontes de geração de renda e empregos na área rural. São até 25 pessoas por hectare, em trabalho fixo ou temporário, e cerca de 115 mil hectares de área cultivada no Estado.
Pensando neste público, em janeiro deste ano foi assinado pelo governo paulista o decreto que zera de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) os produtos agrícolas minimamente processados, sobre os quais incidia tributação de 18%. Com a medida, cerca de 50 mil agricultores paulistas puderam ser beneficiados, bem como toda a população, que pode passar a adquirir esses itens, de excelente qualidade, com preços mais baixos.
Então, na mesa da população, as hortaliças farão uma ótima parceria com as receitas saborosas da Ceia, como maionese, saladas e, refogados. Tudo em prol do sabor e da saúde dos consumidores que optam cada vez mais por produtos naturais e saudáveis.
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/Usp), em 2019, o consumo de hortifrutis foi praticamente estável em relação a 2018. Para 2020, com as perspectivas de incremento na oferta de frutas e hortaliças, de consequente queda nos preços e de aumento na renda, o poder aquisitivo do consumidor pode ser recuperado.
O varejo em 2020 deve continuar explorando as questões ligadas à praticidade, saúde e variedade de produtos. Os minimamente processados e prontos para consumo devem movimentar o mercado, visto que há oferta cada vez maior desse tipo de produto nas gôndolas dos supermercados e, por isso, o consumidor vem comprando de maneira mais expressiva.
O consumidor busca saudabilidade e também cobra mais sabor. Com isso o ponto de colheita e variedades que mais agradam ao paladar ganham maior espaço de vendas. Outra categoria que segue crescendo é a de orgânicos. O brasileiro também está experimentando aumentar a variedade de suas compras, diversificando a escolha de legumes, frutas e verduras.
Árvore de Natal natural e Flores
E para completar esse cenário de sabores e aromas estão as cores e os perfumes da árvore de Natal e das flores, que são ingredientes especiais para embelezarem ainda mais as festividades. De acordo com produtores de Holambra, a procura por árvores de Natal naturais deve ser de 15%, sendo as espécies preferidas no Brasil e em vários países europeus as tuias, tanto da variedade holandesa como da Strickta.
As tuias têm como características os troncos retos e folhas compostas com vários filamentos formados por pequenas escamas verdes, em formato de pirâmide. O cheiro do pinheiro natural, meio cítrico, é a sua característica especial e deixa a casa aromatizada - o que combina com o clima das festas de fim de ano.
Com uma produção neste ano de 700 mil unidades de tuias, a equipe da Fazenda Terra Viva, de Holambra, acredita que o crescimento das vendas em 2019 deve ser de 10% a 15% em relação ao ano passado. “Os motivos são a preferência cada vez maior do consumidor por plantas naturais e a diversidade de tamanhos, que vão desde as minis, com cerca de 35cm de altura, até as árvores maiores, com cerca de 1,30m. Além disso, as plantas verdes englobam vários benefícios, como a umidificação e a limpeza do ar, a redução dos níveis de estresse e o estímulo à concentração. Também fornecem energia e acalmam os olhos”, informa Tiago Passarelli, gerente de marketing da Fazenda Terra Viva, que repassa a orientação de floricultores: “Se bem cuidada, essa árvore pode ser reutilizada no próximo ano. É uma planta que requer rega diária. No interior das casas ou no jardim, a tuia pode ser transplantada. Para tanto, basta colocá-la em um lugar com bastante incidência de luz solar e irrigar todos os dias até que se acostume com o seu novo habitat”.
O mercado de flores também seguiu movimentado em São Paulo durante 2019. Foram criados 209 mil postos de trabalho no setor, sendo que 54% dessas vagas são no varejo, 39% na produção, 4% no atacado e 3% em outras funções. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), em 2018, a área de produção de flores em São Paulo era de 9.360 hectares, equivalente a 60% da área nacional. Trabalham atualmente no cultivo das flores quatro mil produtores, uma cadeia produtiva que gera 125 mil empregos por ano. Atibaia e Holambra são os principais municípios produtores de São Paulo com a área de produção de, respectivamente, 891,5 e 397,1 hectares de flores de corte e ornamentais, floricultura de vaso, crisântemo e rosa.
Para a decoração natalina as flores mais consumidas são as que têm uma tonalidade mais puxada para o vermelho, como poinsettias e antúrios. Também são buscadas as echeverias, além das já citadas tuias holandesas e Stricktas. Já para o Réveillon, há maior demanda pelas flores amarelas e brancas, como orquídeas, antúrios (brancos) e kalanchoes. As rosas também são muito procuradas para as homenagens prestadas a Iemanjá.