Em 18 de janeiro deste ano foi publicada a Resolução SAA n° 5 no Diário Oficial, DOE instituindo o novo Grupo Técnico (GT) para o controle da mosca-dos-estábulos. Formado por 10 integrantes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, sendo três técnicos da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), três da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) e mais quatro pesquisadores do Instituto Biológico (IB-APTA). Nesta nova formulação, foi designado o médico veterinário Cláudio Camacho Menezes como coordenador do GT e como primeira medida foi marcada uma capacitação on line, a qual ocorreu no dia 9 de fevereiro, com a participação de cerca de 90 participantes. “Foi um sucesso de público, houve grande interesse, principalmente pelo profundo conhecimento do pesquisador convidado para fazer a palestra, o Dr. Paulo Henrique Duarte Cançado, da Embrapa – Gado de Corte, sediada em Mato Grosso do Sul”, explicou Camacho Menezes.
De acordo com Camacho, a necessidade de reformulação do GT surgiu a partir da aposentadoria de técnicos e da pesquisadora que vinham comandando o antigo GT que foi formado em 2015 pela primeira vez. “Nessa ocasião, o Dr. Cançado também nos brindou com uma palestra muito elucidativa, por este motivo achei pertinente convidar técnicos de todas as regiões do Estado de São Paulo para que tivessem a oportunidade de balizar os conhecimentos com os mais antigos envolvidos nessa atividade de controle da mosca e para que todos pudessem se atualizar sobre a situação como um todo, a qual envolve pecuaristas e usineiros em geral”.
Para a médica veterinária Marianne Oliveira, da Comissão Técnica do Leite da CDRS, foi uma palestra muito clara e objetiva, elucidou vários pontos e deixou a satisfação de saber que o Estado de São Paulo tem um grande diferencial em função de ter realizado nos anos de 2017, 2018, 2019 um levantamento que vem permitindo saber onde ocorrem os maiores surtos desde então. Só em 2020 este levantamento não foi feito em razão da pandemia, mas está sendo retomado. “Para mim, que trabalho com a cadeia do leite, que sofre reflexos diretos na perda da capacidade leiteira e até na morte de animais por causa da mosca, é muito bom saber que temos, de certa maneira, feito um controle mais direcionado às regiões de maior ocorrência, capacitando técnicos e produtores e, paralelamente, feito ações também junto às usinas de cana-de-açúcar e aos produtores para que mantenham os estábulos limpos de focos”, afirmou Marianne.
Cláudio Camacho Menezes, que é dos pioneiros a atuar na questão da mosca dos estábulos diz que os trabalhos realizados em São Paulo são referência no tema e tem sido observados, inclusive, por outros países. “A união entre pesquisa, defesa e extensão tem permitido um trabalho mais amplo, porém ainda são poucos os pesquisadores, em nível nacional, que estudam este parasita que tantos danos têm causado aos rebanhos bovídeos, tanto de leite, quanto de corte. Então é com orgulho que um novo trabalho pioneiro em São Paulo e no Brasil está sendo iniciado pelo Instituto Biológico, tendo à frente a pesquisadora Marcia Mendes, usando fungos e nematoides visando o controle da mosca dos estábulos.
O IB iniciará projeto de pesquisa para verificar a possibilidade de controlar as moscas domésticas e dos estábulos com o uso de controle biológico. O Instituto iniciará testes in vitro, ou seja, em laboratório utilizando os fungos Metarhizium anisopliae e Isaria fumosorosea. “Além disso, vamos verificar o uso de nematoides para o controle dessas moscas”, explica Marcia Mendes, pesquisadora do IB, instituição que é referência no Brasil e no exterior em pesquisas relacionadas a controle biológico e bioinsumos. O médico veterinário da CDRS, Cláudio Camacho Menezes, participará do projeto. O Instituto trabalha em projetos relacionados ao uso de controle biológico em plantas, mas também voltados ao controle de ectoparasitas, como carrapatos.
O médico veterinário Valnério (Grilo) de Castro, da CDRS Regional Marília e também membro do GT concorda que não há como erradicar a mosca, apenas reduzir danos e surtos. “Um dos pontos importantes abordados foi em relação aos hábitos específicos desta mosca. Por exemplo, diferentemente da mosca-dos-chifres, que permanece por um dia inteiro na parte de cima do animal, a mosca dos estábulos ataca principalmente a parte baixa e as patas e só fica de dois a cinco minutos no animal, dificultando um controle com banhos e pulverizações, pois não teriam efeito. O Dr. Cançado tem muita informação, é sempre bom ouvi-lo, foram duas horas de muitos detalhes e informações. Sem conhecer todos os hábitos e o ciclo de vida, não temos como orientar e/ou agir no controle da mosca. Por outro lado, muitos participantes estavam entrando em contato com os problemas causados pela mosca e a sua interação com as usinas pela primeira vez, então a palestra teve esse potencial de nivelar os conhecimentos”, afirmou Grilo.
Para o coordenador da CDRS, engenheiro agrônomo José Luiz Fontes, é fundamental monitorar as ocorrências para que os surtos possam ser previstos e algumas ações possam ser desencadeadas antecipadamente, em especial nas regiões de maior ocorrência como no Oeste do Estado de São Paulo. Desde o ano passado, a extensão rural passou a trabalhar com capacitações on line e esta forma de atuação vai ter continuidade na nova atuação da Secretaria de Agricultura. “As reuniões e capacitações on line tornaram as ações mais dinâmicas e essa forma de atuação da extensão rural irá permanecer e se firmar. Nessas capacitações têm sido possível convidar palestrantes importantes no cenário estadual e nacional e a possibilidade de capacitar os técnicos pôde ocorrer sem prejuízo e deve ser ampliada a cada dia em vários segmentos e cadeias produtivas. É uma nova ferramenta de extensão rural, com redução de custos e maior visibilidade e que pode amplificar a capacidade de oferecer treinamentos para toda a rede e também direcionado aos produtores”, afirmou Fontes.
Luiz Henrique Barrochelo, coordenador da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, e também integrante do novo Grupo Técnico da mosca-dos-estábulos na Secretaria de Agricultura, relembrou que desde os primeiros relatos de ocorrência da mosca-dos- estábulos, em 2008, a CDA vem atuando junto às usinas de cana-de-açúcar para constatar possíveis irregularidades como prevenção e controle de surtos durante a safra, quando há acúmulo de matéria orgânica vegetal, como a vinhaça e a palha da cana-de-açúcar. “Somando-se à essa atuação da Defesa Agropecuária, a união da pesquisa e da extensão rural nesse desafio de combate aos surtos da mosca-dos-estábulos é fundamental para que possamos apresentar uma solução definitiva para o produtor e seus animais, que são os maiores prejudicados”, afirmou Barrochelo.
Desde o início da pandemia, o Centro de Treinamento (Cetate) da CDRS disponibilizou um material na intranet do órgão, voltado aos técnicos da rede, dando o passo a passo para que estas capacitações pudessem acontecer, fornecendo todo o suporte necessário e, inclusive, certificados de participação. “Os planos de curso devem ser enviados ao Cetate para análise e aprovação. No ambiente virtual, podemos realizar atividades com um número maior de participantes e atender um público de municípios variados, outros estados e até de outros países, como já ocorreu. Basta que o interessado tenha feito a sua inscrição. A procura no ano passado foi bem grande, tanto para público da rede da SAA quanto externo, conforme demonstraram os relatórios e a tendência dessa demanda é aumentar, pois a nova ferramenta é prática, independe de recursos financeiros e, sobretudo, é uma forma eficiente de promover a extensão rural”, comentou Miriam Abrahão, diretora do Cetate/CDRS.