Data da postagem: 14 Maio 2008
Por Carla Gomes
Quem foi rei já representou 60% das exportações brasileiras, mas tem agora parcos 3% desse universo precisa lutar para não perder seus súditos. Ou melhor, apreciadores e consumidores. Esse é o caso do café, cultura que marcou a economia brasileira e que agora reúne esforços para conquistar clientes e mercados. Apesar de os números perderem força sob o aspecto financeiro, é no caráter social que o cafeeiro segue mostrando relevância. A cultura ainda é responsável pelo sustento de muitas famílias. Afinal, o café está fincado em 370 mil propriedades rurais brasileiras, de onde os agricultores não pretendem arredar o pé, especialmente por 25% delas serem de agricultura familiar.
Nesse contexto socioeconômico, o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, tem desenvolvido linha de pesquisa para a produção sustentável de café, perfil que agrega valor ao produto, por meio da certificação, e abre nichos de mercados externos. Com o objetivo de divulgar informações com esse enfoque, o Instituto Agronômico organiza o I Simpósio de Certificação de Cafés Sustentáveis, que será realizado de 19 a 21 de maio, em Poços de Caldas, Sul de Minas Gerais.
De acordo com o pesquisador do IAC e responsável pelo evento, Sérgio Parreiras Pereira, as pesquisas desenvolvidas no Instituto atentam para a demanda potencial de cafés no mercado mundial com crescimento para o diferencial trazido pela qualidade. Neste aspecto, consideram-se a qualidade intrínseca (sabor, aroma e outros) e a qualidade sanitária, relacionada a pragas e doenças. A responsabilidade social, com respeito e atenção aos trabalhadores, e a produção ambiental correta também integra esse estudo.
No evento, o pesquisador do IAC irá palestrar sobre como as escolhas do consumidor refletem em cafeicultores e ambiente. Ele explica que o café sustentável reúne atributos econômicos, sociais e ambientais sistema de valores diferenciados que requer, do outro lado, um cliente interessado nessas características. Pereira ressalta que o Brasil é o maior produtor e o segundo maior consumidor de café, mas que as pessoas ainda escolhem o produto pelo preço. A valorização dos atributos social e ambiental é uma outra fase e nós ainda temos que caminhar muito nesse sentido, assim como outros países, afirma.
Os cafés certificados encontram consumidores nos Estados Unidos, Japão, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, entre outros. É de olho no mercado dessas nações que já incorporaram outros meios de apreciar o bom café, que o Instituto Agronômico tem levado informações sobre sustentabilidade para cafeicultores. O café brasileiro certificado é destinado a esses mercados.
A produção está concentrada nos estados de Minas Gerais e São Paulo, reunindo 80% do total. Em 2005, durante pesquisa, o IAC esteve em 28 fazendas certificadas no Brasil, incluindo as duas maiores, em Alfenas, Minas Gerais. Os pesquisadores estiveram em contato também com os pequenos produtores familiares da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo, que têm certificação Fairtrade e Orgânica (veja abaixo a descrição). A pesquisa revelou que, em geral, a certificação tem resultado no aumento da renda dos cafeicultores certificados e na facilitação de acesso aos mercados exportadores. Segundo os pesquisadores, esse ganho destaca-se entre os cafeicultores que possuem selo Fairtrade. Todas as informações sobre esse estudo estão no livro Do Grão à Xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente, lançado pelo IAC em 2007.
Do final do ano passado para cá, o IAC visitou também cerca de dez propriedades paulistas e mineiras, além de cinco áreas de cafeicultura em Uganda, na África, e outras cinco no Vietnã. As visitas fazem parte de estudo que envolve também os indicadores socioeconômico e ambiental. Nesse projeto, pesquisadores do Centro de Café do IAC foram convidados para coordenar estudo a fim de desenvolver um modelo para monitorar os impactos da adoção do Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C) sobre a sustentabilidade da cadeia produtiva do café, em alguns países produtores. Esse estudo tem apoio financeiro e logístico da Oxfam Novib (Países Baixos) e da Secretaria da Associação 4C. Escolhemos essas regiões para ter representatividade da África e da Ásia, além da América, explica Pereira. Ressalta-se ainda o fato de o Vietnã ter crescente produção cafeeira, com impactos ambientais significantes.
Atento às alterações no mercado e às exigências dos consumidores e de o todo agronegócio café o IAC desenvolve projetos que focam a produção, comercialização e consumo de cafés sustentáveis, principalmente aqueles certificados, ou seja, em conformidade aos requisitos das normas e códigos de conduta, diz Pereira. Segundo ele, o Instituto participa efetivamente da elaboração da norma da Produção Integrada de Café (PIC), que permitirá a rastreabilidade da produção e o desenvolvimento de uma certificação nacional, com normas que atendem às exigências internacionais, com custos reduzidos e fácil aplicabilidade.
Programação do Simpósio
O Simpósio irá aprofundar o debate sobre de cafés sustentáveis certificados, com a apresentação dos principais programas de certificação e suas prioridades de atuação: Comércio Justo (Fairtrade), Certificação Orgânica, Rainforest Alliance, Utz Certified, Produção Integrada de Café (PIC), Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C), Café do Cerrado e Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA) são exemplos de programas implementados nas diferentes regiões produtoras e que serão apresentados por seus respectivos representantes.
A programação do evento traz temas como consumo responsável, traçando o perfil do cliente que busca o produto gerado de forma correta. A ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) irá tratar do Programa de Café Sustentável criado pela Associação. A Produção Integrada de Café (PIC) será abordada com informações sobre as normas de certificação elaboradas por técnicos brasileiros. O público terá acesso ainda a informações sobre todos os modelos de certificação existentes e os benefícios resultantes. As políticas públicas envolvendo Estados e municípios também serão apresentadas no Simpósio. O evento tem o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), do Conselho Nacional do Café (CNC) e da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Participam também a Prefeitura de Poços de Caldas.
Conheça os tipos de certificação (definições constam no livro Do Grão à Xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente):
Certificação de comércio justo (Fairtrade): voltado ao sistema de comercialização, assegurando que os produtores recebam um preço mínimo por seu café mais um prêmio adicional para investimento em projetos comunitários. Inclui também alguns critérios de proteção ambiental.
Certificação orgânica: exige a eliminação dos fertilizantes químicos e agrotóxicos, bem como a implementação de práticas para a conservação e melhoria da estrutura do solo.
Certificação Rainforest Alliance: envolve todos os aspectos da agricultura sustentável meio ambiente, direitos e bem-estar dos trabalhadores e os interesses das comunidades locais. Não proíbe o uso de agroquímicos, porém exige o manejo integrado de pragas, a manutenção da cobertura arbórea e/ou a recuperação das reservas de vegetação nativa.
Certificação Utz Kapeh: apresenta um conjunto amplo de critérios, que compreende práticas agrícolas adequadas para a produção de café e para o bem-estar dos trabalhadores, incluindo o acesso à saúde e educação. Enfatiza mais a produção responsável do que a sustentabilidade, embora as duas questões sejam contempladas.
Certificação favorável aos pássaros (Bird friendly): exige a produção orgânica e a arborização da lavoura, visando proporcionar um habitat favorável aos pássaros.
O I Simpósio de Certificação de Cafés Sustentáveis será realizado no Espaço Cultural da Urca (em frente à Praça Getúlio Vargas, entre o relógio Floral e o Museu Histórico de Poços de Caldas). As inscrições podem ser feitas pelo site: http://www.cafeculturaminas.com.br, até 16 de maio, com desconto, ou no dia do evento. Estudantes com comprovante têm 50% de desconto. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (35) 3721-3851.
Assessoria de Comunicação Social
(19) 3231-5422, r. 124 (IAC - Campinas)
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