IEA divulga estudo sobre impactos da crise mundial no agronegócio em 2009
Data da postagem: 27 Março 2009
O cenário para os dois principais grãos do agronegócio brasileiro (milho e soja), no curto prazo, está sujeito à grande volatilidade de preços, condição característica do mercado de commodities que deverá ser enfatizada em 2009. Já no médio e longo prazos, o cenário é mais favorável. De modo geral, para os produtos agrícolas componentes da cesta básica, provavelmente, a diminuição esperada no consumo mundial deverá ser menos acentuada do que prevêem os analistas mundiais. É o que conclui o estudo Crise Mundial e Agronegócio: perspectivas para 2009, do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA) vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Diante do fechamento de alguns mercados tradicionais compradores de alimentos do Brasil, sobretudo de grãos e proteína animal, os autores do trabalho defendem a procura de alternativas geográficas para a exportação e, sobretudo planejamento da produção, evitando assim o aviltamento de preços e futuros desequilíbrios de suprimentos.
Tendo como pano de fundo a crise econômica mundial, os pesquisadores do IEA analisam as ações do governo, principalmente no campo do crédito, para assegurar a liquidez necessária ao início da próxima safra. Também analisam o setor de máquinas agrícolas automotrizes, a produção animal, o café, a cana, a laranja e os principais grãos.
No caso do mercado de máquinas agrícolas, eles manifestam-se pessimistas com o desempenho do setor em 2009, comparado ao dos dois anos anteriores. Assim, estima-se produção e vendas acima das 70 mil máquinas em 2009. Programas voltados para a aquisição de máquinas agrícolas como os criados pelos Estados de São Paulo e do Paraná, e mais recentemente pelo Governo Federal, trazem um impulso adicional para esse período de expectativas econômicas pessimistas.
Já as exportações serão prejudicadas pelo acentuado distúrbio climático ocorrido nos países que formam o bloco do MERCOSUL (expandido), tradicionalmente os principais clientes da indústria de máquinas agrícolas automotrizes brasileiras, comprometendo a renda dos produtores. Além disso, o empenho das montadoras brasileiras em diversificar o mercado, com algum sucesso junto à África do Sul e a países do Leste Europeu, não será suficiente para repor a redução que se observará nos clientes tradicionais
Carnes
Na área animal, a expectativa dos técnicos do IEA é de que, quanto maior o impacto da crise no bolso dos consumidores, maior deverá ser o remanejamento do consumo de outras carnes para a de frango, seja no mercado interno, seja em outros países, com conseqüente sustentação da produção brasileira. Além disso, possível redução na produção de milho e soja, devido a problemas climáticos, não deve atrapalhar a avicultura nacional, pois o abastecimento está garantido pela existência de grande estoque de passagem no caso do milho. Países concorrentes, em especial os EUA, estão em condições mais desfavoráveis.
No caso da carne bovina, dizem, as exportações devem permanecer estáveis, devido às restrições impostas por alguns importadores (reflexos ainda de questões sanitárias pendentes), ou até mesmo apresentar um ligeiro aumento dado pela sinalização destes em retomar as importações. Entretanto, principalmente com a redução das vendas externas, há a possibilidade de se focar o mercado interno, melhorando a qualidade, apresentação e marketing, para atender nichos de mercado que exigem produtos de melhor qualidade.
Na carne suína, afirmam, a interferência da crise econômica internacional sobre o setor será proporcional aos seus impactos sobre a economia brasileira. Por isso, esperam que as negociações do Governo Federal no mercado externo contribuam para uma melhora da situação no segundo semestre, principalmente se os resultados das negociações com os russos forem positivos e ocorrer a abertura esperada de novos mercados, como os dos EUA e do Chile.
Café, cana e laranja
A safra brasileira de café, prossegue o estudo, com colheita a se iniciar em maio de 2009, somará 40 milhões de sacas com estoques de passagem distribuídos pelo mundo acima das 35 milhões de sacas e estimativas sobre a evolução do consumo de crescimento de 2,5% entre os otimistas, de 1,0% pelos moderados e ausência de crescimento ou até queda para os pessimistas. Assim, diante de tantas possibilidades para a construção de cenários futuros, apegar-se aos fundamentos parece pouco eficaz. Medidas protecionistas ou aumento de impostos nos Estados Unidos afetarão o mercado de café, que poderá ser compensado pela demanda sustentável no mercado brasileiro com a emergência da classe C.
Em relação à cana, avaliam os técnicos, a abertura do mercado indiano para o açúcar deverá favorecer países exportadores, como o Brasil,com perspectivas no médio e longo prazos de elevação nas cotações internacionais. Já para o etanol as expectativas no médio prazo são de maiores exportações para os Estados Unidos, com a efetivação da política de adição de combustíveis renováveis em consonância a medidas de mitigação ao aquecimento global. Também novos mercados estão sendo construídos com a entrada do setor na produção de energia elétrica advindos do uso do bagaço da cana, bem como da palha em futuro próximo para geração de mais energia elétrica e produção de etanol celulósico.
No caso da laranja, mostra o estudo, os estoques mundiais de suco estão altos (60% maiores que no ano passado) e a demanda pelo produto, retraída. Estes fatores determinaram a queda do preço do suco de laranja e do preço recebido pelos produtores na última safra. O impacto da crise na demanda mundial em 2009 reforça este processo. Mesmo assim, o mercado do suco de laranja, dominado internacionalmente pelas indústrias brasileiras, que respondem por 80% das exportações mundiais do produto, continua com grande potencial no médio e no longo prazo.
O estudo foi elaborado pelos pesquisadores Alfredo Tsunechiro; Célia R. R. P. T. Ferreira; Celso L. R. Vegro; César R. Leite da Silva; Éder Pinatti; Katia Nachiluk; Maximiliano Miura; Priscilla Rocha Silva; Rosana de O. Pithan e Silva; Sebastião Nogueira Jr; Sérgio Alves Torquato; e Sônia S. Martins.
A íntegra está disponível no site www.iea.sp.gov.br.
Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
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