Como toda estrutura usada continuamente, o solo também sofre o desgaste natural do tempo e das ações do homem, dentre elas, a atividade agrícola. A fim de recuperá-lo, conservá-lo e mantê-lo em condições produtivas, já que o sucesso dos cultivos de plantas está diretamente ligado à qualidade deste recurso natural, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, dedica-se a estudá-lo desde as primeiras décadas do século passado. Com essa temática, o IAC realiza o VII Seminário sobre Conservação do Solo e Proteção de Recursos Naturais, nesta quarta e quinta, 15 e 16 de abril de 2015, a partir das 8h, na Sede do IAC, em Campinas. O evento terá palestrantes de diversas instituições.
O evento, que se inicia no Dia Nacional da Conservação do Solo, tem o objetivo de mostrar novos estudos e tecnologias para profissionais das ciências agrárias e ambientais, administradores e gerentes de fazenda e demais interessados pelo tema. No Seminário, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, assinará um protocolo de intenções com a Agência de Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) voltado à preservação dos recursos hídricos. Jardim também irá assinar uma resolução dos procedimentos para fiscalização da lei do uso do solo.
O IAC trabalha há 72 anos no desenvolvimento de pacotes tecnológicos para os produtores manejarem e conservarem o solo. Pioneiro nos trabalhos de conservação do solo, o IAC contribui para fazer de São Paulo o Estado com maior acervo de informações sobre solos. Dentre os inúmeros estudos conduzidos pelo IAC, há o desenvolvimento de modelos matemáticos sobre previsibilidade e diretrizes de gestão para readequação produtiva dos solos agrícolas. Segundo o pesquisador do IAC, Afonso Peche Filho, os estudos do Instituto contempla a nova ordem mundial que considera a degradação antrópica causada pelo uso e ocupação das terras.
Com foco em readequação das condições hídricas da superfície do solo, as pesquisas do IAC abordam as cinco principais questões: infiltração, captação, condução, dissipação e cobertura. Agricultores de alguns municípios paulistas, como Jundiaí e Louveira, já utilizam a tecnologia desenvolvida pelo Instituto Agronômico com essa abordagem.
Segundo Peche, São Paulo é o Estado brasileiro com maior tempo de ocupação agrícola das terras. “Nesses mais de 200 anos de uso da terra, São Paulo já passou por diversos ciclos de cultura, como cana-de-açúcar, café, citros e algodão. Essa ocupação resulta em uma situação de vulnerabilidade do solo, pois a cobertura vegetal dos ecossistemas foi retirada e, ao longo dos anos, substituída por uma cobertura agrícola diferente”, explica o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Cada uma dessas culturas vem acompanhada de operações agrícolas que fragilizam o solo de forma particular. Daí a necessidade de a pesquisa paulista gerar e transferir tecnologias conservacionistas.
De acordo com Peche, a cada atividade agrícola pode ocorrer alguma forma de alteração negativa nas propriedades produtivas do solo. Para resolver o problema, é necessário manejar o solo nos aspectos químicos, físicos e biológicos. Um dos reflexos do esgotamento do solo está na capacidade de infiltração. “No passado, numa chuva de 120 milímetros, 90 milímetros infiltravam no solo. Hoje, essa infiltração pode ter sido reduzida a 30 milímetros ou menos”, diz. A explicação para a diminuição na infiltração está na impermeabilidade do solo, causada pela degradação. Com menor capacidade de infiltração, sobra maior volume de água na superfície dos solos, causando problemas de erosão. Frente a este problema, a pesquisa paulista vem desenvolvendo tecnologias que contribuam para melhorar as etapas de infiltração, captação, condução, dissipação e cobertura, de forma conjunta.
De acordo com Peche, um diferencial do modelo em desenvolvimento no IAC está no redirecionamento dos períodos de preparo de solo e da aplicação do calcário. Antes se recomendava fazer a calagem três meses antes do plantio. Já a orientação mais recente é fazer esse procedimento, prioritariamente, durante o outono, principalmente em áreas com problemas de erosão. “Fazer a calagem no outono é uma boa opção, pois a terra ainda está úmida, a incorporação do corretivo pode ser seguida da semeadura da cultura de inverno, cobrindo o solo, diminuindo as possibilidades de perda do solo”, diz o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Imediatamente após a calagem, pode ser feito de alguma cultura de inverno, como trigo, aveia ou adubo verde. Com esse processo, no verão o solo vai estar corrigido e com a proteção da palha. “Desta forma, inicia-se a implantação definitiva do sistema de plantio direto, com o plantio de verão em cima da palhada da cultura de inverno”, explica Peche. As recomendações do IAC podem servir para todas as espécies de culturas de verão.
Ano Internacional dos Solos
O ano de 2015 foi escolhido pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) como o Ano Internacional dos Solos. O IAC atende à chamada da Organização e adota esta temática para a comemoração do seu 128o aniversário, que será em junho. Ao longo deste ano, o IAC realizará diversos eventos, como o Seminário de Conservação de Solos, para públicos diversos, a fim de levar aos interessados informações, ciência e tecnologias geradas pelo Instituto.
A FAO e o IAC objetivam informar a população em geral sobre o caráter não renovável deste recurso natural, essencial para a vida em todos os seus aspectos. Espera-se que, ao conhecer os benefícios proporcionados pelo solo, a população colabore para a sua preservação.
Segundo Peche Filho, a escolha da FAO sobre o Ano Internacional dos Solos chama atenção para a vulnerabilidade e fragilização dos solos em áreas agrícolas. De acordo com estudos do IAC, para a produção de um quilo de alimento é necessário gastar, no máximo, um quilo de solo. “Sabemos que hoje ocorrem perdas exageradas, por isso a necessidade de se atentar para a conservação do solo e proteção de recursos naturais”, explica o pesquisador do IAC.
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