Mineira e comunicativa, Laís Moreira Granato nutria desde a infância o desejo de trabalhar com genética, “mesmo antes de saber o que era”, conta. Ela se define como “encantada por tudo que é relacionado à vida”. E foi esse encantamento que a impulsionou ao curso de bacharelado em Ciências Biológicas, na Universidade Federal de Alfenas, onde ingressou em 2003.
“Me encantava a ideia de um curso que estudasse a vida e como sempre fui apaixonada por genética, queria uma profissão em que eu pudesse trabalhar com isso, mas durante a graduação não tive essa oportunidade”, relata.
Ao final da faculdade, porém, teve a chance de trabalhar, por um ano, com citogenética, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Em 2008, Laís foi aprovada no mestrado na pós-graduação em Agricultura Tropical e Subtropical oferecida pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA). Ao final da pesquisa, na área de genética, melhoramento e biotecnologia, seu estudo sobre citogenética de café arabusta foi publicado na Bragantia, revista de ciências agronômicas editada pelo IAC.
“Mas ainda faltava algo”, comenta ao lembrar que ela foi em busca da biologia molecular e da biotecnologia por querer trabalhar com engenharia genética. Laís então iniciou uma nova etapa, em 2011: o doutorado na Unicamp, no programa de genética e biologia molecular. Seu orientador foi o pesquisador da área de citricultura do IAC e atual diretor-geral do Instituto, Marcos Antônio Machado. Sua pesquisa com a caracterização genética da bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico em plantas de laranja, a possibilitou realizar um estágio na Universidade da Flórida, em Lake Alfred, nos Estados Unidos, e resultou na publicação de dois artigos científicos em revistas internacionais.
Seguindo na área da citricultura, atualmente a bióloga realiza o pós-doutorado no Centro de Citricultura do IAC, trabalhando com transformação genética visando resistência ao HLB, principal desafio atual para os pomares citrícolas.
Apesar de os estudos seguirem plenamente, Laís trazia consigo um desconforto que chegou ainda durante o doutorado. Ela se sentia incomodada pelo fato de as pessoas próximas desconhecerem o trabalho por ela realizado na pesquisa, apesar da relevância. “Eu via que as pessoas fora da ciência não entendiam meu trabalho; o que a gente faz, nossa pesquisa não chega para essas pessoas. Foi aí que eu descobri a divulgação científica através de alguns canais do YouTube e alguns colegas”, relembra.
“Preciso encontrar uma maneira mais simples de passar para as pessoas o que eu faço”
O depoimento de uma bióloga que se alegra por compartilhar com as pessoas - de forma simples e interessante - informações sobre ciência.
Desde a faculdade de Biologia, Laís Moreira Granato teve a oportunidade de fazer iniciação científica e receber “bolsa”, pagamento feito aos pesquisadores com recursos públicos. E o desejo da pesquisadora era contar sobre suas pesquisas de modo que a população pudesse compreendê-las. Afinal, os investimentos em ciência vêm dos impostos pagos pela sociedade.
“Sempre tive bolsa de pesquisa, desde a iniciação científica, depois no mestrado, no doutorado e no pós-doc, são recursos públicos que financiaram minhas pesquisas e eu queria que as pessoas que pagam seus impostos tivessem acesso a essa ciência. A gente sabe que o que divulgamos em artigos científicos são para as pessoas da área mesmo, os cientistas. As pessoas que não têm contato com nossa área não entendem. Esse incômodo ficou guardado comigo, até que em uma reunião, no Centro de Citricultura do IAC, comentei sobre o cientista estar fechado na sua ‘bolha’. Então, buscamos uma maneira de colocar a sociedade que toma suco de laranja mais próxima dos pesquisadores que ajudam a manter a citricultura em pé. Como fazer isso? Tivemos algumas ideias. Eu e um colega, Paulo Camargo (também biólogo), fizemos um curso de blogs, oferecido pela Unicamp. A partir daí surgiu o Descascando a Ciência (https://www.blogs.unicamp.br/descascandoaciencia/), que é um blog que traz de maneira mais simples o que fazemos. Inicialmente, nós dois mantínhamos o blog voltado às pesquisas da citricultura, mas hoje somos um grupo. Lançamos recentemente um canal do YouTube e somos muito ativos nas redes sociais, principalmente no Instagram, onde já temos mais de 5 mil seguidores e divulgamos pesquisas científicas relacionadas à área agrícola. O Descascando a Ciência mostra a ciência de maneira simples, divertida, ilustrada e colorida para as pessoas terem acesso ao que a gente faz. Somos um dos únicos canais que faz isso, há poucos canais sobre agricultura. Eu sou muito feliz com o Descascando a Ciência, sou apaixonada por plantas, meu trabalho me traz alegria por permitir relacionar genética com plantas e consigo chegar às pessoas. Cada pessoa que tem acesso às nossas informações, e que não teria de outra forma, já é uma grande felicidade para mim.”
Por Carla Gomes
Assessoria de Imprensa – IAC
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