Pesquisadores da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que atuam no Instituto de Pesca (IP-APTA), coordenam projeto de pesquisa inédito para verificar a viabilidade do chamado Dispositivo Exclusor de Tartarugas (TED, em inglês), equipamento de uso obrigatório para a pesca de camarão no Brasil. O estudo, desenvolvido em parceria com o Projeto Tamar e Projeto "Manejo Sustentável da Fauna Acompanhante na Pesca de Arrasto na América Latina e Caribe - REBYC-LAC II", busca analisar se o dispositivo é mesmo eficiente para evitar a captura de tartarugas durante a pesca de arrasto do camarão, visto que seu uso deve ser obrigatório em toda a costa brasileira, e avaliar se o uso do equipamento diminui o rendimento pesqueiro. O projeto recebe apoio da Secretaria Municipal de Pesca e Agricultura de Ubatuba e pescadores que atuam nesta modalidade pesqueira.
Segundo o pesquisador do IP, Venâncio Guedes de Azevedo, o estudo é uma demanda antiga dos pescadores brasileiros, como os da Colônia Z10, de Ubatuba, no litoral norte paulista. O uso do TED passou a ser obrigatório em embarcações acima de 11 metros de comprimento e com tração motorizada que atuam na pesca do camarão em 2004. A obrigatoriedade surgiu após determinação dos Estados Unidos de que só importaria camarões de países que frotas utilizam o dispositivo.
O TED, segundo Venâncio, é uma grade metálica que é instalada no corpo da rede de arrasto de camarão permitindo que animais pequenos, como os camarões, passem pelo espaçamento entre as grades e sejam capturados, enquanto animais maiores como tartarugas, tubarões e raias são barrados e conseguem ser excluídos da rede por uma “janela de escape”.
“O equipamento surgiu nos Estados Unidos para evitar a pesca de águas vivas. Em alguns locais da costa americana, porém, existe um fenômeno chamado arribada, que é quando há uma enorme subida de tartarugas para fazer a desova. Ao perceber que durante a pesca do camarão eram capturadas muitas tartarugas, os pescadores começaram a usar o TED e o dispositivo serviu para esta finalidade”, conta Azevedo.
O pesquisador do Instituto de Pesca lembra que na época, o Brasil era exportador de camarão para os Estados Unidos – o que não ocorre mais na atualidade –, por isso, o governo brasileiro obrigou os pescadores a usarem o equipamento. “Foi uma orientação, porém, sem discussão com a cadeia produtiva, por isso, há uma demanda antiga dos pescadores para que seja avaliado se de fato há eficiência e necessidade do uso em todas as localidades do País. Muitos pescadores reclamam que o uso do TED reduz o rendimento do camarão. Vamos verificar, por meio de pesquisa científica, se isso ocorre”, explica.
Os experimentos serão feitos em Ubatuba (SP), Vitória e Pirambu (ES) e Rio de Janeiro (RJ). Serão realizados 30 arrastos com a presença de observador de bordo, onde uma rede estará com o TED e outra sem. O trabalho, iniciado em julho de 2019, está sendo feito em embarcações de pescadores dessas localidades, sendo usadas as mesmas técnicas que eles utilizam no dia a dia. Os pesquisadores do IP, Tamar e REBYC farão as análises referentes à pesca. A expectativa é que o estudo seja finalizado até outubro deste ano
Por Fernanda Domiciano
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