O Instituto Agronômico (IAC) é uma das instituições de pesquisa com programa de melhoramento genético da batata-doce biofortificada. Essa raiz tuberosa é fonte de carboidratos, minerais, vitaminas, fibras e proteínas. Não por acaso, é a queridinha nas dietas saudáveis. O IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, está trabalhando no desenvolvimento de uma nova cultivar de batata-doce de polpa alaranjada, coloração que indica alta concentração de betacaroteno, e também mais produtiva. O projeto está nos últimos estágios de seleção.
Segundo Valdemir Antonio Peressin, pesquisador do IAC responsável pela pesquisa, quanto mais escura for a tonalidade alaranjada da polpa, maior será a concentração de vitamina A. A batata-doce de polpa alaranjada é uma das espécies que mais apresentam potencial para a biofortificação de alimentos.
A batata-doce de polpa alaranjada é atrativa por conta de seus atributos nutricionais, tornando-a mais interessante também para a gastronomia. Esse perfil completa seu pacote tecnológico, que atrai toda a cadeia de produção até o comércio.
“Além dos aspectos nutricionais, esse material demonstrou alta produtividade”, afirma. Os clones analisados superaram 32 toneladas por hectare, com ciclos de 120 a 150 dias. Esse desempenho é mais que o dobro da produtividade média no Brasil, que é 14,06 toneladas por hectare.
Segundo dados do IBGE (2019) o Brasil colheu 805.412 toneladas em 57.290 hectares. O Estado do Rio Grande do Sul, o maior produtor nacional, colheu 175.041 toneladas em 11.983 hectares, com produtividade média de 14,61 toneladas por hectare. O líder é seguido por São Paulo, com 140.727 toneladas em 8.650 hectares e produtividade média de 16,27 toneladas por hectare. A produção é realizada principalmente por pequenos produtores.
A cultivar em desenvolvimento busca atender aos produtores paulistas e de outras regiões onde há clima e solo em condições similares. Ela também pode ser produzida por pequenos produtores e em hortas de fundo de quintal.
Atualmente, quatro variedades são as mais cultivadas em lavouras paulistas, sendo que duas são materiais IAC 66-118 (Monalisa) e IAC 2-71 (Americana).
Os estudos, iniciados em 2016, contaram com experimentos nos municípios de Campinas, Mococa e Piracicaba, interior paulista. No primeiro momento foram feitos cruzamentos de variedades que geraram 30 mil sementes botânicas. Estas originaram dois mil clones, na primeira etapa. Na etapa posterior, foram selecionados os 170 clones melhores. Os dados forneceram subsídios para a seleção de um grupo elite de 16 clones. “A previsão de finalização desse projeto é para agosto de 2021, com posterior pedido de registro dos materiais e disponibilização dos mesmo em meados de 2022”, diz o pesquisador.
Típica de clima tropical e subtropical, a batata-doce pode ser cultivada durante o ano todo, praticamente, no território nacional. “A batata-doce apresenta elevada resistência às pragas e doenças e demanda poucos tratos culturais e poucos fertilizantes químicos para seu cultivo”, diz o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Entre os principais problemas do setor, Peressin destaca a baixa produtividade, resultante do baixo nível tecnológico e utilização de cultivares não adequadas à região. “Por se tratar de uma planta rústica, os produtores nem sempre realizam o manejo do solo, não investem em adubação e em controle de pragas e doenças”, afirma. Outro erro cometido é instalar novas lavouras com material vegetativo obtido de uma lavoura anterior, muitas vezes contaminadas. Com isso, a cada cultivo é possível aumentar o acúmulo de doenças viróticas nos materiais, trata-se da chamada degenerescência do material reprodutivo.
Com perfil de ser totalmente aproveitada, a batata-doce é atrativa também para a indústria. Ela pode ser consumida in natura, cozida, assada, frita ou processada, dando origem a produtos como farinhas, açúcar, fécula, doces e chips. As ramas são utilizadas para a alimentação animal e as raízes para a indústria de tapioca e derivados, além de produção de álcool e derivados.
As diferentes cores da batata-doce
Com diversas texturas e diferentes colorações, essa raiz versátil na gastronomia pode ser usada em receitas de doces e salgados. Se no passado o mais comum era encontrar apenas a polpa creme, hoje os mercados e feiras dispõem de variedades com raízes alongadas, cheias ou arredondadas, com casca de coloração branca, creme, cobre, vermelha, rosa e roxa e com polpa de coloração creme, amarela, laranja e roxa. As raízes de coloração amarelada e alaranjadas são ricas em betacaroteno, precursor de vitamina A.
As de coloração roxa possuem maior teor de antocianinas, considerados antioxidantes, que evitam a ação dos radicais livres no organismo, contribuindo para a melhoria da saúde.
Reforço nutricional: baixo índice glicêmico e presença de fibras
Peressin reforça o compromisso do Instituto Agronômico em desenvolver uma variedade que atenda ao mercado e que também possa contribuir no combate à deficiência nutricional da população.
Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que 48% das crianças com menos de cinco anos de idade apresentam anemia devido à carência de ferro e 30% têm deficiência de vitamina A. No Brasil, 55% das crianças nessa mesma faixa etária apresentam carência de ferro e 13% têm níveis baixos de vitamina A.
A vitamina A é fundamental para o sistema imunológico, auxilia na saúde oftalmológica, proliferação e diferenciação celular, responsável pela manutenção da pele saudável, e na expressão gênica. “A batata-doce também é muito indicada por nutricionistas e personal trainers, pois contribui para a recuperação muscular, além de ter baixo índice glicêmico e presença de fibras, o que faz a liberação lenta dos açúcares no organismo, evitando o consumo excessivo de alimentos e o acúmulo de gorduras”, afirma Peressin.
Por Mônica Galdino e Carla Gomes
Assessoria de Imprensa IAC