A primavera chegou e os termômetros já passaram dos 30 graus em vários municípios do estado de São Paulo. Nesse calor, refeições mais leves e refrescantes são mais desejadas, por isso a alface e o tomate são itens indispensáveis. Buscando garantir a sanidade desses produtos, o Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, recomenda atenção dos produtores ao vírus vira-cabeça, que afeta essas culturas e pode causar perda total na produção. Esse é um dos raros vírus que chega a matar as plantas. O período com maior ocorrência do vetor acontece nos meses mais quentes, porém o IAC alerta que a epidemia do vira-cabeça está acontecendo durante todo o ano. Esse vírus já está presente em todo Brasil.
“O motivo desta mudança na epidemiologia do vírus ainda não foi esclarecido, entretanto, parece estar associado ao plantio contínuo das culturas, praticamente sem interrupção durante o ano todo, tanto em campo, como em estufas”, afirma Valdir Atsushi Yuki, pesquisador do IAC.
Yuki esclarece que com esse cultivo contínuo não há quebra no ciclo do vetor Frankliniella schultzei. Outra causa pode estar relacionada ao aumento da temperatura global. De acordo com o pesquisador, é raro um vírus conseguir matar as plantas, mas esse tem potencial para acabar com a produção, mesmo as instaladas em estufas.
No tomateiro, o vírus provoca necroses em toda a planta, paralisação de crescimento, manchas necróticas que podem ser circulares ou não, e deformação, tornando os frutos impróprios à comercialização. Na alface, causa manchas necróticas arredondadas, normalmente começando de uma folha, onde o vírus foi inoculado pelo tripes, e rapidamente toma toda a planta, inviabilizando também o comércio.
Entre as recomendações para o controle do vírus está o preparo do solo com pelo menos 20 dias de antecedência do plantio, remoção de plantas daninhas antes e durante o plantio. O horticultor também pode usar o inseticida recomendado, porém nunca deve repetir o mesmo princípio ativo mais que duas vezes. Ao final do ciclo do cultivo, é preciso destruir imediatamente os restos da cultura. Em caso de cultivos em canteiros, se houver a incidência do vírus vira-cabeça, deve-se evitar plantios próximos. “Hoje, ocorrem casos em todas as regiões do estado de São Paulo, causando perdas elevadas nas culturas quando ocorre epidemias”, diz o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
O nome curioso desse vírus foi dado pelos próprios produtores. Yuki relata que, no passado, os horticultores perceberam que as plantas infectadas pelo vírus tinham os sintomas nas pontas de crescimento e se voltavam para baixo, por isso o nome vira-cabeça.
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) comercializa cerca de 1,5 milhão de toneladas, por ano, de alface, com valor estimado de R$ 8 bilhões no varejo. O tomate é o segundo produto mais comercializado na CEAGESP, atrás da melancia.
O IAC está colaborando com a Universidade Estadual Paulista (UNESP/Botucatu) na identificação de espécies de tripes que ocorrem em São Paulo, especialmente em culturas de soja, pois mais recentemente foi verificado que o vírus vira-cabeça está infectando também essa oleaginosa.
Por Carla Gomes e Mônica Galdino
Assessoria de Imprensa - IAC