Projeto reduziu em 25% os custos com antibiótico para tratamento da mastite e em 60% o número de produtores que não conseguiam controlar a doença
Conhecimento aliado à aplicabilidade pode ser a equação perfeita para melhoria da qualidade de produção – e de vida – de pequenos produtores rurais. Foi o que aconteceu com os 22 produtores de leite do Vale Histórico do Rio Paraíba, localizados nos municípios de São José do Barreiro e Areias, que contaram com o auxílio da pesquisa cientifica do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para tratar de um problema grave e silencioso na produção leiteira: a mastite. Juntos, os dois municípios produzem cerca de 24 milhões de litros de leite por ano.
O projeto do IB na região se iniciou em 2017, após recebimento de demanda por parte dos pequenos e médios produtores dos municípios, que tinham problemas relacionados ao controle da mastite, uma doença que pode causar até 40% de perda na produção de leite, além de reduzir a qualidade final do produto, o que impacta no preço pago ao produtor.
A partir do trabalho de coleta, análise laboratorial e orientação aos produtores pelo IB foi possível reduzir em 25% o valor gasto com produtos veterinários e diminuir em 60% o número de produtores que tinham dificuldade em controlar a doença. Os dados são da SEI – Assessoria em Sustentabilidade, parceira do projeto.
“Muitas vezes, o produtor compra um antibiótico inadequado para o tratamento da mastite. É comum que eles comprem o produto mais vendido no mercado, sem conhecer o agente que está causando a doença, o que reduz a eficiência do medicamento. Com esse projeto, coletamos materiais e fizemos análise para saber qual bactéria era causadora da doença e qual o melhor medicamento para tratá-la”, explica Alessandra Nassar, pesquisadora do IB.
Segundo Alessandra, essa análise cuidadosa para escolha do medicamento também é importante porque alguns antibióticos não são indicados por gerarem resíduo na produção de leite, deixando o produto impróprio para o consumo.
Para João Paulo Altenfelder, sócio gestor da SEI – Assessoria Sustentabilidade, o projeto mostra o resultado positivo quando se alia conhecimento e aplicabilidade, dois pontos-chaves da atuação do IB. “O conhecimento sem a aplicabilidade não significa nada para esses produtores. O Instituto foi um parceiro de grande importância por aliar esses dois pontos, capazes de mudar a realidade dessas famílias”, afirma.
De acordo com Ricardo Moraes Vicalvi, diretor de comunicação corporativa, responsabilidade social e assuntos institucionais da Zoetis, empresa patrocinadora de todo o projeto, que também contou com transferência do conhecimento em genética, reprodução, manejo e gestão da propriedade, o grande benefício da ação foi levar conhecimento para um público que muitas vezes não consegue participar de treinamentos ou fazer cursos, seja por falta de tempo, como também distância e até mesmo recursos financeiros.
“Quase todos os municípios brasileiros possuem atividade leiteira e a grande maioria dos produtores são considerados pequenos e médios. Por meio deste projeto, levamos conhecimento com aplicação prática aos produtores. Ao longo de dois anos, eles aumentaram sua produção em 20% em média, obtendo assim maior qualidade de vida e renda disponível para melhorar seu rebanho, suas propriedades e embarcar em um ciclo virtuoso”, conta.
“O projeto foi nota dez”, afirma produtor
Marcio Braga Diniz, pequeno produtor de leite de São José do Barreiro, estava com dificuldade para controlar a mastite em suas 30 vacas leiteiras. A partir do trabalho realizado pelos pesquisadores do Instituto Biológico aprendeu como deveriam ser as práticas de higiene para a ordenha dos animais, o que o ajudou a controlar a doença no seu rebanho.
“O projeto foi nota dez. Me ajudou muito mesmo, porque aqui eu não tinha veterinário para me ajudar e eu não estava conseguindo resolver esse problema. Hoje, meu leite tem ótima qualidade e em vez de eu vendê-lo para a indústria de leite, passei a fabricar meus próprios produtos, como queijo, manteiga, doces e bolachas”, conta o produtor, que entrega seus quitutes, da marca MBD, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O produtor conta que, atualmente, mantém 17 vacas em seu rebanho, mas tem produção maior do que quando tinha quase o dobro de animais. “Antes eu tinha muita vaca e pouco leite. Agora tenho pouca vaca e bastante leite”, constata.
Conhecimento é contínuo
Como a ciência é um processo contínuo, feito a muitas mãos, o projeto piloto do IB ganhará mais profundidade a partir do desenvolvimento de uma pesquisa de doutorado, conduzida pela pesquisadora científica e aluna da Pós-Graduação em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio do Instituto, Vanessa Castro.
A pesquisa orientada por Alessandra Nassar tem como ineditismo a educação sanitária dos produtores rurais, avaliação de aspectos econômicos e sociais da mastite em duas importantes regiões produtoras de leite em São Paulo, o Vale do Paraíba e Araçatuba.
A ideia do projeto é acompanhar dois perfis de produtores: os pequenos e os tecnificados para verificar a ocorrência da doença. O projeto prevê a realização de visitas aos produtores, coleta de amostras, análises laboratoriais e transferência de tecnologia e conhecimento. “Além de juntar os pontos da educação sanitária e avaliação econômica e social, o projeto tem potencial para descobrir o gene da resistência do principal agente causador da mastite”, conta Vanessa.
O compartilhamento de conhecimentos relacionados à educação sanitária é fundamental, segundo as pesquisadoras, pois esta é uma das principais medidas para evitar a ocorrência da doença tanto na mastite subclínica, quanto na mastite ambiental. “Algumas medidas são bastante simples e podem fazer grande diferença para evitar a doença, como lavar muito bem as mãos e instrumentos utilizados com os animais, o uso de solução iodada antes e depois da ordenha e utilização de material descartável para secar os tetos das vacas”, explica Vanessa.
Alessandra completa com outra dica: após a ordenha manter as vacas em ambiente limpo e concretado por pelo menos 20 minutos. Só depois desse tempo os animais devem ser levados ao pasto. “Isso porque leva um tempo até o teto se fechar, impedindo a entrada de bactérias. Se a vaca vai para o pasto, ela vai se alimentar do capim e depois se deitar em um ambiente que pode ter bactérias, o que poderá resultar na mastite ambiental”, diz a pesquisadora.
A pesquisa também contará com o apoio dos pesquisadores Daniel de Jesus Cardoso de Oliveira, da Unidade do IB em Araçatuba, e Sergio Monteiro e Ricardo Harakava, pesquisadores do IB de São Paulo.
Por Fernanda Domiciano
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