Espécies possuem múltiplos usos comerciais e auxiliam na recuperação de ecossistemas
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vem desenvolvendo projetos de pesquisa com diferentes espécies de palmeiras nativas do Brasil. Com base em estudos genéticos, seleção de genótipos e agregação de valor, os trabalhos focam tanto nas aplicações comerciais das espécies quanto em sua conservação e uso na restauração florestal.
“Palmeiras estão entre os grupos de plantas tropicais mais diversos do mundo, de grande importância para o uso humano e para os serviços ecossistêmicos”, diz a pesquisadora da APTA Regional de Piracicaba Maria Imaculada Zucchi. Conforme conta, elas podem prover derivados como óleos, fibras, madeiras, alimentos e utilização na produção de biocombustíveis, além de possuírem amplo uso ornamental. “No Polo de Piracicaba, estamos estudando 19 espécies de palmeiras nativas com potencial para produção de alimentos e também na indústria de forma geral”, diz Zucchi. O projeto, detalha, busca descrever a variabilidade genética das espécies e entender melhor sua evolução e o processo de domesticação. Dessa forma, pode-se compreender as relações ecológicas das quais fazem parte, propondo sua utilização em sistemas agroflorestais de produção e na restauração de florestas. Além disso, o trabalho visa analisar a composição química dos derivados e ampliar suas possibilidades de uso industrial. “Com esse projeto, estamos gerando informações que poderão em breve ser utilizadas em manejo, restauração e melhoria de sistemas agrícolas, e que contribuirão para a sustentabilidade, segurança alimentar e desenvolvimento comunitário e regional”, enfatiza a pesquisadora.
Conservar e recuperar
De acordo com Zucchi, as palmeiras têm sido muito utilizadas nas ações de recuperação ambiental. “Podemos destacar a juçara, que agrega muito, enriquecendo os fragmentos florestais e gerando, com seus frutos, alimentos para uma grande comunidade de pássaros e outros animais”, ressalta a pesquisadora da APTA Regional. “É uma espécie-chave para manter várias outras em uma floresta”, complementa. Conforme explana, a restauração tem como foco restabelecer a biodiversidade da região e as relações ecológicas existentes, podendo ser gerados usos alternativos do solo e, inclusive, perspectivas de aproveitamento econômico. “Nesse contexto, as palmeiras mostram-se potenciais para a restauração em diferentes biomas”.
Buscando contribuir com a preservação das espécies, a pesquisadora explica que o foco dos estudos é determinar a diversidade genômica para estimar parâmetros populacionais que são fundamentais na tomada de decisões visando a conservação das populações. “Com os dados que estamos obtendo, será possível, entre outras coisas, contribuir com informações para políticas públicas visando a conservação das espécies em estudo”, coloca Zucchi. Ela acrescenta que a pesquisa também procura entender o papel das palmeiras no cotidiano de comunidades tradicionais e promover a difusão destas espécies em função de sua relevância socioambiental.
Usos comerciais
Conforme explica a pesquisadora da APTA Regional, as palmeiras têm usos bem estabelecidos principalmente no paisagismo (buriti e butiá, por exemplo) e na produção de alimentos (palmito, frutos e óleos). Seus subprodutos encontram, ainda, espaço em diferentes segmentos industriais. São muitos os exemplos da grandeza de aplicações:
“Os açaizeiros valem ser mencionados por sua multiplicidade de usos, destacando-se como fonte de extração de palmito e, principalmente, de frutos”, cita Zucchi. Segundo ela, estima-se que a produção de açaí tenha aumentado quase 8 vezes nos últimos 20 anos. “A polpa do fruto, que antes era destinada ao consumo local, conquistou novos mercados, se tornando uma importante fonte de renda e emprego”, afirma.
A carnaúba é outro caso de palmeira polivalente, com inúmeras utilidades para as populações do semiárido nordestino. Segundo a especialista, é conhecida como “árvore da vida”, pois a planta toda tem utilidade, empregada desde a construção civil até o artesanato. “Do ponto de vista comercial, o destaque é o pó extraído das folhas, que dá origem a cera empregada nas indústrias farmacêutica, química e de componentes automotivos”, relata a pesquisadora, que lembra também do potencial para o paisagismo urbano.
Mais próxima de nós, a juçara é um bom representante da Mata Atlântica listado por Zucchi. Tendo sido muito utilizada na extração de palmito - a ponto de se tornar uma espécie ameaçada -, os frutos (apelidados de “açaí da Mata Atlântica”, ou “juçaí”) são agora o foco de atenção por sua cadeia de produção sustentável.
De crescente interesse atualmente, a pesquisadora coloca também a macaúba como outra palmeira de importância comercial, devido ao promissor uso de seu óleo na produção de biocombustíveis. A planta também é fonte de alimento (frutos) e madeira.
Segundo comenta a especialista, um dos gargalos para o plantio dessas palmeiras é a dificuldade na germinação das sementes e, consequentemente, a obtenção de mudas. Dessa forma, um dos focos da pesquisa realizada no Polo Regional é justamente a melhoria desse processo. “A cultura de tecidos vegetais para o agronegócio permite produzir uma grande quantidade de plantas clonadas a partir de genótipos superiores, que poderão ser comercializadas garantindo uma maior homogeneidade no plantio e facilitando, assim, o manejo”, finaliza Zucchi.
Crédito da imagem: Maria Imaculada Zucchi
Por Gustavo Almeida
Assessoria de Imprensa APTA
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