Data da postagem: 07 Abril 2008
Sabe-se que é possível contar a História por meio das bebidas. Cerveja, vinho, destilados, chá e até a Coca-Cola cada uma a seu tempo marcam processos culturais e representam dinâmicas sociais, econômicas e políticas distintas. Não foi diferente com o café, que se propagou do Oriente para o Ocidente, prestando-se às demandas mercantilistas que alimentaram o capitalismo, acompanhando as revoluções científicas e financeiras que presidiram a sociedade moderna, figurando como um de seus motores. Com este espírito, a Editora Contexto acaba de lançar o livro História do Café, da historiadora Ana Luiza Martins, do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT).
O livro destaca, entre outras coisas, a importância da região de Campinas, como pólo de transição da fazenda imperial, assentada na mão-de-obra escrava, para o outro tipo de fazenda, espaço, sobretudo, da produção empresarial, que advém com o emprego da mão-de-obra livre e as modernidades técnicas, em paralelo ao avanço para as terras virgens do oeste paulista. Neste contexto, destaca a criação em 1887 do Instituto Agronômico (IAC), e instituições complementares que consolidaram a área como propulsora do aperfeiçoamento agroindustrial do país. O IAC é atualmente vinculado à Agência de Pesquisa de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Na apresentação do livro, afirma-se que a publicação veio suprir a ausência de obra historiográfica sobre a matéria no Brasil, de produção recente, tratada em um só volume, se possível de forma sucinta e interdisciplinar, que contemplasse de suas origens até o presente. Assim, procurou-se preencher essa lacuna numa abordagem de tratamento tópico, de linguagem acessível aos leigos sobre o tema, mas presidida pelo rigor documental de fontes diversificadas e pelo cuidado com a noção de processo, com a crítica historiográfica, com as novas metodologias de produção da História.
O livro está dividido em quatro capítulos, que possibilitam acompanhar a trajetória do café no Brasil em seus principais desdobramentos: Origens (que trata das origens da planta na África e seu avanço pelo Oriente); Império do café (volta-se para a difusão do café no Brasil no século XIX e sua preponderância na construção do Império); República do café (contempla o papel decisivo do café na República); e Goles finais de uma história (analisa-se o avanço contemporâneo dos cafezais e as práticas que vêm definindo seu uso, manejo e consumo no novo milênio).
Além disso, o livro destaca o caráter predatório da trajetória do cafeeiro no Brasil, postura esta que decorreu, sobretudo, do inicial despreparo dos governos e produtores que presidiram sua implantação no país. Também enfatiza que a leitura deve esclarecer hábitos equivocados de nossa história, quando, até o presente, na terra em que o agronegócio se viabiliza com sucesso, ainda persiste a secular tendência à monocultura, ao produto da vez, selando nossa secular e cíclica dependência econômica.
Segundo a autora, desde a sua descoberta, a Coffea arabica traçou novas rotas comerciais, aproximou países distantes, criou espaços de sociabilidade até então inexistentes, estimulou movimentos revolucionários, inspirou a literatura e a música, desafiou monopólios consagrados, mobilizou trabalhadores a serviço da Revolução Industrial, tornou-se o elixir do mundo moderno, consolidando as cafeterias como referências internacionais de convívio, debate e lazer.
Entre as fontes bibliográficas, a autora cita o livro Café: um guia do apreciador, dos pesquisadores Francisco Pino e Celso Luís Rodrigues Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA).
Por José Venâncio de Resende,
do Gabinete da APTA