INSTITUTO DE PESCA E APTA PÓLOS DESENVOLVEM TÉCNICA PIONEIRA DE PLANTIO DE ARROZ COM PRODUÇÃO DE CAMARÃO
Data da postagem: 11 Fevereiro 2008
A integração entre o cultivo de arroz e a produção de camarão é uma prática
utilizada há algum tempo em países asiáticos. No Brasil existe um bom
potencial em termos de áreas de cultivo de arroz irrigado por inundação que
podem servir à implantação de "rizicarciniculturas": associação do plantio
de arroz com produção de camarão.
Essa prática certamente pode melhorar a sustentabilidade econômica e
ambiental desses sistemas de produção, com pequeno investimento adicional.
Sabe-se que a agricultura sustentável contempla, simultaneamente, os
aspectos econômico, ecológico e social. O cultivo consorciado de arroz de
várzea com camarões situa-se na interface desses três aspectos, agregando
valor à rizicultura e, ao mesmo tempo, podendo reduzir a quantidade de
agrotóxicos aplicados no ambiente, melhorando a qualidade do produto final.
Desde 2002, o Instituto de Pesca desenvolve pesquisas sobre
rizicarcinicultura, coordenadas pelo pesquisador científico Hélcio Luis de
Almeida Marques, hlamarques@sp.gov.br, que foram inicialmente realizadas no
APTA Pólo Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba (SP), com a espécie de camarão Macrobrachium rosenbergii. Nessa etapa, definiram-se as principais
adaptações para tabuleiros de arroz receberem os camarões. Em dezembro de
2006, uma outra fase do projeto foi iniciada no APTA Pólo Nordeste Paulista, sediado em Mococa, sob a coordenação do pesquisador
científico Marcello Villar Boock, marcelloboock@apta.sp.gov.br, utilizando
a espécie Macrobrachium amazonicum. Nessa nova etapa estudam-se as
densidades de camarões e as épocas mais favoráveis ao início do cultivo, a
estrutura populacional dos camarões e o aproveitamento dos subprodutos do
beneficiamento do crustáceo (cabeça e carapaça). Ainda prevêem-se pesquisas
sobre a necessidade ou não do fornecimento de ração aos camarões e também
cuidados no processamento do produto, explica Hélcio Marques.
Segundo o pesquisador, pretende-se ainda definir o manejo de adubação e
critérios de aplicação segura de defensivos no cultivo do cereal. A
possibilidade de eliminar a adubação nitrogenada de cobertura no arroz será
também avaliada, já que as excreções do camarão são ricas em nitrogênio e
podem suprir as necessidades da cultura. Integram ainda o projeto as
pesquisadoras Helenice Pereira de Barros e Margarete Mallasen, do Instituto
de Pesca, além de pesquisadores do Centro de Aqüicultura da UNESP, campus de
Jaboticabal.
Os resultados iniciais das pesquisas indicam uma produção estimada de cerca
de 6,7 toneladas de arroz e 98 quilos de camarão/hectare.safra. Os custos
de produção de camarão restringiram-se às pós-larvas e à mão-de-obra para
realizar as adaptações nos tabuleiros e na despesca, já que não houve
fornecimento de ração artificial para o crustáceo. Neste contexto, a
agregação de valor ao arrozal, proporcionada pelo camarão, pode atingir
cerca de R$ 1.960,00/hectare.safra.
Ainda não há rizicarciniculturas comerciais no Brasil, pois a tecnologia
está em fase de aperfeiçoamento. Entretanto os pesquisadores buscam agora
selecionar produtores que queiram trabalhar de forma associada ao projeto.
Esses produtores reservariam uma pequena área de plantio de arroz e
mão-de-obra para o cultivo consorciado, revela Hélcio Marques. Nós
forneceríamos a assistência técnica, admite. Para os pesquisadores Hélcio e
Marcello, os resultados dessas parcerias validariam a pesquisa em escala
comercial e, ao mesmo tempo, contribuiriam para o aperfeiçoamento do
sistema.
O Instituto de Pesca é um órgão de pesquisas vinculado à APTA (Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo. Criado em 8 de abril de 1969 e
dedicado à pesquisa científica e tecnológica, o Instituto de Pesca
desenvolve projetos nas áreas de pesca e aqüicultura, com ênfase em novas
estratégias e tecnologias destinadas à melhoria do agronegócio do pescado e
à sustentabilidade da qualidade ambiental.