Pré-processamento da semente de urucum traz vantagens a produtores e empresas
Data da postagem: 14 Novembro 2008
Por Leila Ming Bratfisch
Um método de pré-processamento da semente de urucum com o objetivo de extrair o corante ainda na propriedade do produtor foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA), com a colaboração de profissionais do Instituto Agronômico (IAC-APTA) e do Pólo Regional Centro Norte/APTA, vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. O processo que é estudado pelo pesquisador do ITAL Paulo Roberto Nogueira Carvalho desde 2003 usa água como solvente e apresenta diversas vantagens aos produtores e à indústria de corantes.
O projeto, financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), melhorou o rendimento da extração. Além disso, teve diversos outros desdobramentos, que incluem uma reunião nacional da cadeia de produção do urucum e a publicação de um livro.
Por dar origem ao corante mais utilizado no mundo, o urucum tem larga aplicação na indústria de alimentos, sendo empregado, por exemplo, na fabricação de laticínios, doces, massas, bebidas e desidratados. E, neste segmento, a tendência é de ampliação, já que há uma busca cada vez maior dos consumidores por alimentos que substituam os corantes artificiais por naturais em sua formulação. Além disso, seu uso tem sido bastante difundido nas indústrias de cosméticos e farmacêutica. O Estado de São Paulo, com destaque para a região da Alta Paulista, é o maior produtor da semente no País. E a idéia do projeto foi atuar justamente junto aos produtores, na maioria pequenos, no início do processamento que resulta na fabricação do corante.
O objetivo central foi, deste modo, elaborar um método de pré-processamento da semente para ser feito nos locais de colheita de urucum, por associações, cooperativas ou pelos próprios produtores. Esta extração simples resulta em um pré-corante que mantém a estrutura química original do pigmento para ser vendido para as indústrias de corantes. Hoje, a semente é transportada para as empresas e é lá que o pigmento é extraído. Coordenador do projeto, Carvalho explica as vantagens do novo procedimento. Os produtores economizam no custo de transporte, já que o volume é muito menor, pois a semente vai ficar no campo; o que eles vão mandar para a indústria representa aproximadamente 10% do peso. Outra vantagem é que essa semente pode ser utilizada como alimentação animal no campo, principalmente na ração de galinhas poedeiras, que usa o corante residual das sementes para a coloração da gema do ovo, revela.
Há, ainda, benefícios ambientais. A metodologia desenvolvida emprega água como solvente, o que gera como resíduos do processo apenas a semente e água, que não causam prejuízos ao meio ambiente, ao contrário de outros solventes que poderiam ser adotados. E, se o pré-corante for armazenado em barris fechados ou desidratado, sob refrigeração, pode ter sua degradação um dos grandes problemas de pigmentos como o presente no urucum retardada. Isso viabiliza a possibilidade de comercialização do pré-corante na entressafra. Carvalho destaca, por fim, a conveniência para a indústria de corantes. A adequação que elas teriam que fazer, partindo da padronização, seria compensada pela eliminação do transtorno de ter que descartar o resíduo da extração.
Embora o processo de pré-extração com água já tivesse sido desenvolvido em projeto anterior, ele foi aperfeiçoado no trabalho atual, etapa que contou com a colaboração do também pesquisador do ITAL Paulo Eduardo da Rocha Tavares. Antes, o rendimento da extração era prejudicado no caso de sementes com maiores teores de lipídios. Esta dificuldade foi sanada e o rendimento partiu de 60% de extração para valores superiores a 90%. Outro objetivo cumprido pela pesquisa foi a conservação, revitalização e caracterização quanto aos teores de óleo e bixina [corante presente na semente do urucum] da coleção de acessos de urucum mantida em Pindorama, pelo Pólo Apta Centro Norte. A coleção que poderia ser desativada se o projeto não fosse realizado conta, atualmente, com a curadoria da pesquisadora do IAC Eliane Gomes Fabri.
Mesmo antes de sua conclusão, o trabalho gerou a realização da I Reunião Nacional da Cadeia Produtiva do Urucum, em dezembro de 2007. Nela, estiveram reunidos integrantes de diferentes elos da cadeia, os quais obtiveram informações sobre o manejo da cultura, controle de doenças e pragas e adoção de tecnologias para melhorar a qualidade do corante, entre outros temas. E, em fevereiro deste ano, foi lançado, no ITAL, o livro Urucum: sistemas de produção para o Brasil, iniciativa concebida na ocasião da reunião.
Acerca dos próximos passos, Carvalho revela que será realizado um anteprojeto de aplicação industrial da metodologia de extração, a qual foi desenvolvida em escala laboratorial. Além disso, o desejo dos integrantes do projeto é disseminar os resultados junto aos produtores, para que eles possam se apropriar dos benefícios possibilitados por ele. Deste modo, o relatório final será divulgado como artigo científico e em eventos e os pesquisadores se colocam à disposição dos interessados.
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