Começa hoje, 4 de junho de 2018, às 14h30, a 40ª Semana da Citricultura realizada pelo Instituto Agronômico (IAC), em Cordeirópolis, interior paulista. O evento, em que será comemorado o aniversário de 90 anos do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do IAC, segue até o próximo dia 8. As palestras abordam diversos temas sobre os desafios do setor citrícola, envolvendo Fitossanidade, inovação tecnológica, nutrição, HLB, irrigação, economia e política. Na programação, 12 palestras serão proferidas por pesquisadores do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Na semana ocorre também 44ª Expocitros e o 49º Dia do Citricultor. A programação completa está no http://ccsm.br/eventos/semana-da-citricultura-e-expocitros/. Há também palestrantes de outras instituições de pesquisa e ensino e de empresas.
O efeito das mudanças climáticas na citricultura será abordado pelo pesquisador do IAC, Dirceu de Mattos Júnior. Ele afirma que devido à ocorrência de mudanças climáticas, determinantes para o aumento da radiação luminosa e da temperatura do ar nas principais regiões citrícolas no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro, as áreas estão sofrendo limitações à manutenção ou ao aumento da produtividade dos pomares. “Relatórios recentes sobre o levantamento da safra de citros nessas regiões mostram prejuízos à produção, com a redução cerca de 30 milhões de caixas a cada ano, o que corresponde a um valor estimado anual de aproximadamente R$ 540 milhões, associados então às temperaturas altas ocorridas nos meses de outubro de 2013 a 2016”, diz.
Segundo Mattos, meteorologistas afirmam que a frequência da ocorrência de períodos de dez dias com temperaturas extremas, no início da primavera (setembro e outubro) tem aumentado, justamente nestes dois meses que coincidem com o principal ciclo de floração e formação de frutos cítricos. A região norte do estado de São Paulo, onde se verificam as variações mais altas, as temperaturas médias máximas do ar nos decêndios de outubro foram 31,3 °C, em 2009, 36,5 °C em 2012, 38,9 °C em 2014 e 37,7 °C em 2015. Nesses intervalos, mesmo os campos irrigados têm sofrido prejuízos na produção de frutos. “Outra ocorrência é a perda de safra em um dos lados da planta, onde o pomar é plantado com linhas de plantio no sentido Norte-sul, pois o lado da planta voltado para o Oeste recebe maior quantidade de radiação e fica mais sujeito aos prejuízos discutidos”, explica.
Essa preocupação dos estresses causados às plantas devido às mudanças climáticas, tais como excesso de radiação luminosa, altas temperaturas e déficit hídrico vêm sendo foco de diversos pesquisadores nas diversas regiões produtoras de citros, como Estados Unidos, Espanha, Turquia e China. O IAC, em colaboração com o Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), com apoio Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), busca avaliar os efeitos do aquecimento global sobre aspectos bioquímicos e fisiológicos das plantas na manutenção do florescimento e formação dos frutos.
A pesquisa está avaliando plantas de laranjeira-doce, limoeiro e cafeeiro, buscando correlações entre temperatura das folhas, sistema enzimático antioxidante, trocas gasosas e meio de mitigação dos prejuízos ao florescimento e fixação de frutos. Sabe-se que as variações entre a temperatura do ar e das folhas das plantas podem aumentar em até 5 °C nos períodos mais quentes do dia. Segundo o pesquisador, espera-se trazer informações que auxiliem em novas tomadas de decisões de manejo para manutenção da produtividade dos pomares citrícolas frente a esse novo cenário climático.
Mattos explica que as plantas cítricas têm mostrado floradas múltiplas, o que dificulta o controle fitossanitário de doenças das flores e frutos, além de aumentar a falta de uniformidade da qualidade do fruto. “O aumento no número de floradas pode exigir um total de até cinco aplicações adicionais de fungicidas, com um custo médio de R$ 70,00, por aplicação, por hectare”, afirma.
Outro fator que afetou a safra 2016/2017 foi a ocorrência do fenômeno “La Niña”, que está associado ao resfriamento das águas superficiais e sub superficiais do Oceano Pacífico, somado ao atraso nas chuvas de primavera. Como o resfriamento das águas no ano de 2017 teve início apenas na primavera, espera-se a continuidade do “La Niña”, porém com o estabelecimento de condições climatológicas próximas à normalidade, sem grande comprometimento dos pomares para a safra de 2017/18. A palestra de Mattos será dia 6 de junho, às 10h30.
Diversificação de porta-enxertos é estratégia recomendada
Outra estratégia para uma citricultura saudável refere-se à diversificação de porta-enxertos e será tema da palestra da pesquisadora do IAC, Mariângela Cristofani-Yaly, que irá abordar a alteração no mapa de porta-enxertos nos anos recentes. Segundo Mariângela, a muda cítrica é formada pela associação de duas partes de diferentes plantas, a copa, responsável pela reprodução e fotossíntese, e o porta-enxerto, que constitui o sistema radicular. A combinação entre as duas variedades influencia várias características nas plantas, como tamanho da copa, resistência a doenças e ao frio e distribuição do sistema radicular. Nos frutos, a influência se dá sobre o tamanho, teor de sólidos solúveis totais e acidez. A apresentação da pesquisadora será no dia 05 de junho, às 16h.
A pesquisadora destaca que novas estratégias de produção vêm sendo introduzidas devido aos problemas fitossanitários, que resultam em acréscimo nos custos de produção, e ao aumento do custo da terra. Nesse cenário, o adensamento de plantio, o crescimento da área irrigada e a diminuição da vida útil dos pomares levam à necessidade de buscar novas cultivares de porta-enxertos que confiram à copa melhores desempenhos. “O IAC vem desenvolvendo novos porta-enxertos principalmente com citrandarins, que são híbridos das microtangerinas Sunki ou Cleópatra, com Poncirus trifoliata e constituem uma nova geração de porta-enxertos, em que se pretende reunir as vantagens apresentadas pelas tangerinas, como a tolerância a doenças, às dos trifoliatas, que além da resistência a doenças, possui a característica de boa qualidade dos frutos”, diz.
Os estudos com citrandarins enxertados com as variedades de laranjas doces Pera, Valência e lima ácida Tahiti ocorrem nos municípios de Capão Bonito, Colômbia, Cordeirópolis, Matão e Pindorama. Os experimentos vêm revelando diferenças no desenvolvimento vegetativo das plantas, qualidade dos frutos e tolerância à seca.
Mariângela lembra que a pequena diversidade de porta-enxerto no estado de São Paulo fez com que, em 2001, os pomares fossem afetados de forma considerável pelo surgimento e expansão da morte súbita dos citros (MSC), que atinge o limão Cravo, principal porta-enxerto adotado nos campos paulistas. A doença vem afetando tangerineiras e laranjeiras enxertadas em limão Cravo e limão Volkameriano, em Minas Gerais e no Norte do estado de São Paulo. “Por outro lado, árvores enxertadas em tangerineiras Cleópatra e Sunki, no citrumelo Swingle e no Poncirus trifoliata não são afetadas por essa doença”, afirma. Esse fato contribuiu para o aumento na diversificação dos porta-enxertos, especialmente nessas regiões.
Outro tema a ser debatido é o projeto Citros: 100 toneladas, que será apresentado pelo pesquisador aposentado, José Antônio Quaggio. O projeto busca desenvolver tecnologias sustentáveis para a produção citros com alta produtividade e qualidade, com base em boas práticas de manejo de água e nutrientes por fertirrigação, além de validar novas tecnologias.
Quaggio destaca que para uma produção citrícola sustentável é necessário o uso de material genético de copa e de porta-enxerto responsivos aos principais fatores de produção; planejamento de espaçamentos e orientação de plantio; preparo inicial do solo. “O projeto está sendo aplicado no momento em algumas áreas de produção”, afirma.
Entre os benefícios apontados por Quaggio estão os ganhos de produtividade e qualidade de fruta pela transferência direta de tecnologias inovadoras, a participação no grupo de discussão e p acompanhamento do desenvolvimento tecnológico. “Os produtores parceiros recebem orientações técnicas para a instalação e manejo das áreas-pilotos, diagnósticos das demandas de água e nutrientes para o avanço da produtividade e qualidade dos frutos, plano de desenvolvimento de inovações e transferência de tecnologia para a cadeia citrícola, além de participação de reuniões técnicas para discussão das conquistas do projeto”, diz.
Serviço:
40ª Semana da Citricultura; 44º Expocitros e 49º Dia do Citricultor
Data: 04 a 08 de junho de 2018
Local: Centro de Citricultura/IAC, Cordeirópolis/SP
Contato: | eventos@ccsm.br
Programação: http://ccsm.br/eventos/semana-da-citricultura-e-expocitros/
Por Carla Gomes (MTb 29156) e Mônica Galdino
Assessoria de imprensa – IAC