O equilíbrio social, ambiental e econômico, que resume tão bem o conceito de sustentabilidade, é uma condição primordial e inquestionável para a vida no planeta, em todos os seus setores. E na agricultura, por que seria diferente?
A pergunta é retórica. O senso comum tende a acreditar, e muitos afirmam com convicção, que agricultura e meio ambiente são universos completamente antagônicos. Nesse cenário, os conceitos se misturam como água e azeite e, exagerando um bocado, agricultores desmatam porque só pensam nos lucros, ambientalistas protegem porque só pensam nas árvores, são inimigos mortais, e por aí vai.
São várias as razões para que as pessoas acreditem nisso, e a maioria delas está ligada ao grande desconhecimento que o público, principalmente urbano, tem dessa atividade que é a mais antiga da história da humanidade. A agricultura é fundamental para a existência e para a manutenção da vida na Terra.
Foi em torno dela que nasceram os primeiros povoados, foi por causa dela que os homens deixaram de ser nômades na procura por alimentos. A agricultura foi o alicerce das civilizações. Com a sua evolução e a descoberta de tudo o que é capaz de produzir, o “plantar e colher” deixou de significar apenas ter o que comer, beber ou vestir.
E a sustentabilidade é um conceito a ser perseguido por todos os setores, e pela agricultura com ainda mais afinco: é preciso suprir a demanda mundial não só por alimentos, mas também por fibras e energia. De acordo com estimativas da ONU, seremos 9 bilhões de habitantes até 2050. E o Brasil terá que aumentar em 40% a sua capacidade produtiva, utilizando o mesmo espaço, para atender a esta demanda.
É possível aumentar a produtividade, com sustentabilidade? Como? Dentre tantos elementos necessários para vencer este enorme desafio, podemos citar tecnologia agrícola de ponta, plantio direto, sistemas integrados de produção, recursos humanos altamente capacitados, assistência técnica, programas e projetos de desenvolvimento rural, legislação ambiental, fiscalização eficiente e recomposição de vegetação nativa. São Paulo tem tudo isso, e é um exemplo a ser seguido pelo Brasil e pelo mundo.
O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, fomenta e desenvolve o agronegócio paulista com base nas premissas sociais, econômicas e ambientais. Foi a primeira Secretaria, inclusive, a prestar conta de suas ações com a publicação de um relatório de sustentabilidade reconhecido internacionalmente.
“O grande desafio das economias, no século XXI, é esse: manter o vigor produtivo, sem perder de vista a proteção do meio ambiente e dos diversos atores que integram as cadeias produtivas, de trabalhadores a consumidores finais”, afirmou o governador Geraldo Alckmin.
Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Arnaldo Jardim, vivemos um momento de convergência. “Durante um período recente a agricultura esteve muito associada a um conflito, a uma tensão com relação ao meio ambiente. É nossa postura, emanada da decisão do governador Geraldo Alckmin, e eu tenho a responsabilidade de implementá-la, de buscar substituir esse distanciamento por uma parceria. Ninguém se interessa mais e melhor pela preservação ambiental do que o nosso agricultor, o nosso produtor rural”, afirma.
Desconstruir é preciso
“A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade”, escreve Carlos Drummond de Andrade em seu poema “Verdade”.
Quando vamos pesquisar sobre o que se diz ou se atribui à agricultura, muitas vezes nos deparamos com “meias verdades”. Uma delas, muito falada nos tempos atuais de escassez de água, vem da divulgação de um dado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), de que a atividade agropecuária é a principal responsável pelo consumo de água no mundo – cerca de 70%.
“O primeiro ponto a se esclarecer sobre isso é com relação às vocações regionais da atividade. Impossível aplicar esse percentual de 70%, por exemplo, à região do Alto Tietê, na qual a produção de hortaliças, em sua maioria, vem da agricultura familiar, que utiliza um volume muito menor de água do que o setor industrial ou a população da região metropolitana de São Paulo, por exemplo”, explica o pesquisador científico e coordenador da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), da Secretaria Estadual de Agricultura, Orlando Melo de Castro.
“De qualquer forma, isso não pode ser interpretado como desperdício de água. A agricultura depende dos recursos hídricos em seus processos produtivos, mas utiliza esses recursos de forma cada vez mais racional, inclusive com sistemas que a tornam uma atividade mais produtora do que consumidora de água. É o caso do plantio direto, por exemplo, uma tecnologia capaz de armazenar água no solo e assim beneficiar tanto o crescimento da planta quanto a alimentação e a manutenção dos lençóis freáticos”, esclarece Castro.
O gás emitido pela ruminação do boi no pasto é outro ponto que traz muitas controvérsias, colocando muitas vezes a pecuária como uma das grandes vilãs do efeito estufa. O boi emite metano? Sim.
“O setor pecuário também é fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, portanto, o aumento contínuo da produção de carne pode aumentar a pressão sobre o meio ambiente e os recursos naturais”, explica Renata Arnandes, diretora do Instituto de Zootecnia, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Os rebanhos são, então, os grandes causadores do efeito estufa? Não. Vamos com calma, sem colocar a carroça na frente dos bois. Os combustíveis fósseis são os principais poluentes, e como veremos adiante, o programa de etanol em São Paulo tem dado uma contribuição significativa na redução da emissão de GEE.
A ciência domina o conhecimento para, inclusive, antecipar demandas. No caso específico da pecuária, há várias pesquisas em curso para aprimorar técnicas que aumentam a eficiência do uso da terra e da água, como os sistemas integrados de ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), assim como para reduzir a emissão de gases do efeito estufa por unidade do produto.
“De acordo com o relatório da FAO, as pastagens (nativas e cultivadas) representam a segunda maior fonte potencial global de sequestro de carbono (C), com capacidade de drenar da atmosfera 1,7 bilhão de toneladas por ano, ficando atrás somente das florestas, cuja capacidade estimada chega a 2 bilhões de toneladas de C por ano. O uso de práticas de manejo adequadas em pastagens, sobretudo de reposição da fertilidade do solo, possibilita o acúmulo de C no solo a uma taxa de 0,3 t de C/ha/ano, o que corresponde, aproximadamente, à mitigação de 1,1 t de CO2 equivalente/ha/ano. Esse valor, bastante conservador, seria suficiente para anular cerca de 80% da emissão anual de metano de um bovino de corte adulto, estimada em 57 kg, que equivale a 1,42t de CO2 (57 kg de CH4/ano x 25 potencial de aquecimento global do gás = 1,42 t de CO2-Eq)”, esclarece Renata Arnandes.
Trocando em miúdos, uma pastagem bem formada tem um sequestro de carbono muito significativo, “o que traz equilíbrio ao sistema produtivo”, completa Orlando Castro.
“Nós temos discutido muito como melhorar o impacto da atividade pecuária, encurtando o prazo para o abate, buscando alternativas de nutrição que sejam mais eficientes e buscando também uma gestão mais adequada dos dejetos que sobram da atividade da pecuária e da suinocultura, por exemplo”, conta o secretário Arnaldo Jardim.
Programa de Regularização Ambiental
O secretário adjunto de Agricultura e Abastecimento, Rubens Rizek, que já foi secretário estadual do Meio Ambiente, faz uma reflexão sobre a importância das políticas públicas, das parcerias com a iniciativa privada, da pesquisa para maior produtividade e do restauro ambiental para a conservação do meio ambiente. “Não temos dois planetas”, afirma.
“Todos os 330 mil proprietários rurais paulistas terão que fazer o cadastro no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e a partir daí aderir a programas de regularização ambiental das áreas, sendo que na maioria dos casos isso vai exigir algum restauro. Estamos prevendo um restauro de vegetação da ordem de 1,5 milhão de hectares. E não estamos falando em um restauro espalhado ao longo de décadas. Estamos falando em restaurar 1,5 milhão de hectares simultaneamente. É o maior programa de restauro ecológico do mundo”, explica Rubens Rizek.
Para Frederico Soares Machado, especialista em políticas públicas do WWF Brasil e representante do Programa Agricultura e Meio Ambiente, o agricultor é um potencial aliado nas questões de conservação ambiental. A ONG internacional, criada em 1961, desenvolve cerca de 2 mil projetos em mais de 100 países do mundo.
No âmbito de agricultura, o objetivo das ações do WWF Brasil é aplicar o conceito de sustentabilidade em pelo menos três esferas: cadeias produtivas, políticas públicas e consumidor final.
Quanto ao desmatamento, a ONG tem uma posição clara e defende o conceito de ZNDD, sigla em inglês para “Desmatamento e Degradação Líquidos Zero”. Significa concentrar esforços mundiais para que, até 2020, o balanço entre o que se desmata e o que se restaura de florestas seja igual a zero.
“Temos visto queda de desmatamento na região da Amazônia, em decorrência de nossos projetos em parceria com as cadeias produtivas da soja e da pecuária, e trabalhos importantes estão sendo desenvolvidos com o setor sucroenergético paulista, por exemplo”, conta o especialista do WWF Brasil.
“O produto rural do Brasil se diferencia dos produtores de outros países do mundo, porque aqui há legislação para que o agricultor mantenha áreas remanescentes de vegetação nativa em suas propriedades”, explica Machado. “O Código Florestal, o Cadastro Ambiental Rural e a recomposição de vegetação nativa representam também uma grande oportunidade que o nosso produtor rural tem de mostrar e qualificar o seu trabalho de conservação ambiental”, completa.
Para o secretário Arnaldo Jardim, a preservação é condição vital para a agricultura, razão pela qual não tem medido esforços para aproximar o corpo técnico da Secretaria de Agricultura aos projetos de sustentabilidade, sejam eles da iniciativa pública ou privada. ”Quando nós temos os recursos hídricos preservados, quando temos o nosso solo pronto para manter a sua funcionalidade, a diversidade da fauna e flora mantidas, nós temos uma condição de maior produtividade agropecuária”, explica.
Além do Programa de Regularização Ambiental, que será feito num prazo de aproximadamente 20 anos, o Governo de São Paulo lançou o Programa Nascentes – Mata Protegida, Água na Fonte. A maior iniciativa já lançada pelo poder público para manter e recuperar as matas ciliares – vegetação localizada às margens de nascentes, rios, córregos, lagos e represas que protegem e limpam as nossas águas.
O Programa promoverá a restauração ecológica ao mesmo tempo em que protegerá os recursos hídricos. A meta inicial é recuperar 4.464 hectares de matas ciliares, uma área equivalente a 5.400 campos de futebol, utilizando 6,3 milhões de mudas de espécies nativas. Num primeiro momento o programa está sendo desenvolvido nas bacias hidrográficas Alto Tietê, Paraíba do Sul e Piracicaba-Capivari-Jundiaí, regiões que concentram mais de 30 milhões de habitantes.
A agricultura é protagonista no projeto, uma vez que a conservação dos recursos hídricos depende essencialmente da conservação do solo. Mais uma vez, o papel do agricultor é fundamental. “A agricultura é a principal responsável pela defesa do solo. A Secretaria de Agricultura tem mais de 120 anos de expertise nisso. Todo o manejo que a gente chama de agricultura sustentável significa ter o correto manejo do solo, justamente para evitar a erosão”, explica Rubens Rizek.
“Todos nós sabemos que a questão própria da conservação do solo esteve muito associada ao padrão de produção e às novas metodologias que o homem foi construindo ao longo do tempo, com o surgimento do arado, das curvas de nível, do plantio direto, da integração lavoura-pecuária-floresta”, explica Arnaldo Jardim.
O Programa Nascentes vai mobilizar não apenas investimentos públicos como também direcionar privados, por meio de incentivos e pagamento por passivos ambientais. O objetivo final do programa é promover a restauração de 20 mil hectares de matas ciliares e proteger 6 mil quilômetros de cursos d´água.
“Este ano, e assim definiu a FAO/ONU, é o Ano Internacional da Conservação do Solo. Interessa ao meio ambiente e também interessa ao agricultor que não ocorra o assoreamento dos fundos de vale, que não ocorra o comprometimento das nascentes, que não ocorra o comprometimento dos cursos d´água”, completa o secretário.
São Paulo rumo ao desmatamento zero.
Estudo divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica (SOSMA) e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o “Atlas de Remanescentes Florestais” revelou que a taxa de desmatamento da mata atlântica, em 2014, recuou 24%. Foram derrubados 183 quilômetros quadrados ante 240 em 2013 da vegetação remanescente em todo o País. O estado de São Paulo está próximo de zerar o desmatamento, com menos de 1 quilômetro quadrado de devastação.
“A cada ano você experimenta um incremento de cobertura vegetal nativa no estado de São Paulo, e isso não seria possível se não existisse todo esse trabalho de técnica de manejo e de desenvolvimento rural sustentável”, afirma Rubens Rizek. O sucesso não seria possível sem fiscalização. “São Paulo tem dois mil agentes em campo todos os dias, dedicados exclusivamente à fiscalização ambiental, sem contar as estruturas municipais, federais e de outros órgãos estaduais”, completa.
Trabalhando em prol da conservação de solo e da recuperação de matas ciliares, a Secretaria de Agricultura assinou recentemente, com a Fundação SOS Mata Atlântica, um Termo de Cooperação que prevê a recuperação das nascentes em regiões consideradas críticas.
“Quando falamos da preservação da Mata Atlântica, falamos de qualidade de vida, que gera impactos diretos na sociedade”, ressaltou Mario Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica. O objetivo da parceria é a regularização das matas ciliares de propriedades localizadas ao entorno das bacias hidrográficas. A princípio o trabalho será realizado em Campinas, mas se estenderá para áreas das bacias do Alto Tietê e Paraíba do Sul.
“Com esse termo, queremos unir os produtores rurais, com as empresas que precisam fazer compensação ambiental. Queremos juntar esses dois elos. Os produtores precisam restaurar áreas de proteção permanente (APP), mas não têm os recursos para isso. Nossa ideia é que pessoas físicas e jurídicas que precisam fazer compensação ambiental a façam nessas propriedades rurais”, explicou Arnaldo Jardim.
De acordo com ele, estima-se que haja R$ 4 bilhões de dívidas para compensação ambiental no Estado de São Paulo. “É um valor respeitável e quem vai ganhar com a junção desses elos é a sociedade. O governador Geraldo Alckmin determinou que nós buscássemos esse tipo de parceria que, inclusive, contribui para amenizar a crise hídrica”, afirmou.
Recuperação de pastagens
Na Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), lançada em 2012, São Paulo se comprometeu a recuperar 20% de suas áreas degradadas até 2020. A Secretaria de Agricultura criou, então, o Integra SP, para promover a implantação de sistemas integrados de produção, como o ILP – integração lavoura-pecuária, e o ILPF – integração lavoura-pecuária-floresta.
Um programa que contempla desde a recuperação de áreas degradadas, reforma e manejo racional de pastagens, otimização dos recursos de produção da propriedade, sinergia entre as atividades de produção animal e vegetal, inclusive florestas plantadas, produção forrageira para a entressafra, até a melhoria da genética do rebanho, seja de grandes ou pequenos animais.
O governo reconhece a importância da reforma de áreas degradadas, propiciando ganhos de produtividade, geração de renda e mitigação de gases de efeito estufa à medida que incrementa a entrada de biomassa no sistema e o acúmulo de carbono no solo, como nos demais sistemas agrícolas.
Ciência e produtividade na agricultura
“O que fazemos com excelência em São Paulo é conseguir mais produtividade, justamente com a ciência e o desenvolvimento de novas tecnologias. E essa coisa de produzir mais e melhor em menos espaço é uma das maiores contribuições dessa Secretaria ao meio ambiente. É uma contribuição extremamente relevante porque se você não tem isso sendo feito a todo momento, você está condenando o mundo a uma maior exploração do que ainda resta de reserva natural”, enfatiza Rubens Rizek.
E a contribuição da pesquisa não é apenas pela quantidade da produção, mas também pela qualidade desses alimentos. Para atender à demanda de um público cada vez mais exigente, é preciso produzir os alimentos de alto valor nutritivo, os funcionais, os seguros, os orgânicos etc.
O trabalho de desenvolvimento de novas espécies e variedades, mais produtivas e resistentes (por resistentes entenda-se melhoramento genético convencional, e não transgênico), com características diferenciadas, contribui para o meio ambiente, para a redução de custos de produção dos agricultores e, consequentemente, para uma melhor qualidade de vida no meio rural. Uma atividade, portanto, sustentável em seu mais puro conceito.
São Paulo tem feito isso com excelência, pois traz na bagagem de seus institutos de pesquisa centenários (o Instituto Agronômico, por exemplo, tem 128 anos) uma coleção de importantes cultivares lançados (mais de 1.014 variedades de 96 espécies vegetais) e conduz, atualmente, mais de 1.420 linhas de pesquisa.
“Buscar novos cultivares que sejam mais resistentes ao stress hídrico, cultivares que tenham um ciclo mais curto na sua produção e cultivares que tenham também maior produtividade faz parte daquilo que se busca no sentido de determinar que as atividades de produção agrícola tenham menor impacto ao meio ambiente”, explica Arnaldo Jardim.
“Certamente o público que vive nos grandes centros urbanos não se atenta para a forte participação das instituições de pesquisa em suas vidas, que resulta em alimentos mais saudáveis e disponíveis em várias épocas do ano, campos com produtividades maiores, sem aumento da área plantada e com usos mais racionais dos recursos naturais”, explica Castro.
O sucesso paulista da cana-de-açúcar e a bioenergia
O maior exemplo de que a agricultura paulista trabalha em sintonia fina com o meio ambiente é a atuação do setor sucroenergético e as políticas estabelecidas pelo governo paulista. Trata-se de um setor que representa 44% do valor bruto da agropecuária, sendo a maior atividade agrícola do estado.
São Paulo é o maior produtor de cana, açúcar e etanol do Brasil, pioneiro em pesquisa e desenvolvimento nesta área e detém uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo (55%), com a energia gerada a partir da biomassa de cana. A meta para 2020, estipulada pela PEMC, é de que essa matriz seja composta por 69% de energias limpas, e esse tento não será possível se o etanol e a cogeração não contribuírem com a maior parcela.
“Se você for aos países mais desenvolvidos verá que eles não conseguem passar dos 10% de energia renovável em suas matrizes energéticas. Quando a gente fala que em São Paulo, que é um estado industrializado, nós temos um percentual acima de 50% as pessoas não acreditam! Num mundo que está se debatendo com as questões de aquecimento global e mudanças climáticas, você conseguir uma performance desta, com energia renovável vindo da agricultura, é algo espetacular”, afirma o secretário adjunto Rubens Rizek.
O estado reconhece a importância do apoio à produção canavieira, promovendo a oferta do etanol e da bioeletricidade. Estima-se que, desde 1975, o uso de etanol no Brasil, em substituição à gasolina, permitiu uma redução de emissões de 600 milhões de toneladas de CO2 equivalente, que correspondem ao plantio de 2 bilhões de árvores.
Para reforçar o compromisso com o meio ambiente, o governo paulista e a cadeia produtiva da cana-de-açúcar adotaram, em 2007, o Protocolo Agroambiental para o setor sucroenergético. Ele tem abrangência estadual e define metas mais restritivas, como a antecipação do prazo para a eliminação da queima da palha da cana, a proteção de remanescentes florestais de nascentes e de matas ciliares, e a redução de consumo de água na etapa industrial.
Desde a assinatura do Protocolo até o final da safra 2013/2014, 7,16 milhões de hectares deixaram de ser queimados. Assim, o setor deixou de emitir 26,7 milhões de toneladas de poluentes (monóxido de carbono, hidrocarbonetos e material particulado) e 4,4 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa (metanol e óxido nitroso).
Com relação ao uso responsável dos recursos hídricos, as usinas signatárias já reduziram seu consumo específico de 1,89 m3 para 1,18 m3 por tonelada de cana moída. Mais de R$ 42 milhões foram investidos no fechamento e na reutilização da água os circuitos industriais, o que resultou em economia de mais de 106 bilhões de litros de água desde 2007, o suficiente para abastecer por dois anos uma cidade de cerca de 1 milhão de habitantes.
Pioneirismo em orgânicos
Em mais uma iniciativa inédita, em junho do ano passado, a Secretaria de Agricultura lançou a primeira semente orgânica de milho do Brasil. Este grande feito é mais um dos frutos de um trabalho que vem sendo desenvolvido em parceria, da qual também resultou a criação do Projeto São Paulo Orgânico.
A atuação da Câmara Setorial de Agricultura Ecológica, de pesquisadores, extensionistas, produtores rurais, empresas, associações e cooperativas, tem sido crucial para que as iniciativas tenham sucesso.
“Podemos contribuir muito com o governo, colaborar com novas técnicas, indicar caminhos a seguir. Os alimentos orgânicos são uma demanda da sociedade, cada vez maior. A BioBrazil Fair, única feira que representa o setor, realizada em São Paulo, cresceu 40% este ano. Mais uma indicação de que os orgânicos têm que estar na pauta do poder público”, afirma Márcio Stanziani, presidente da Câmara Setorial de Agricultura Ecológica, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, e secretário executivo da AAO (Associação de Agricultura Orgânica).
“Os orgânicos têm que estar, e estão na pauta do Governo. Estudar alternativas à utilização química, seja nos defensivos, seja nos adubos, também é prioridade desta Secretaria. O agricultor é quem mais ama, mais tem preparo e mais tem condições de ser o agente conservador do meio ambiente”, afirma Arnaldo Jardim.
O projeto contempla a formação de multiplicadores; a produção de sementes orgânicas; a criação de linhas de crédito para investimento e custeio, que permitem mais tranquilidade para o período de transição do sistema convencional para o orgânico, e para o financiamento do próprio processo de certificação; as rodadas de negócios, essenciais para aproximar produtores de compradores.
A maioria dos orgânicos produzidos no Brasil, como hortaliças e frutas, é cultivada com sementes convencionais. A produção de sementes orgânicas existe, mas em pouca quantidade e, em sua maioria, feita por pequenos agricultores. Uma normativa do Ministério da Agricultura havia determinado que o uso de sementes orgânicas seria obrigatório para a produção de agroecológicos, regra que valeria a partir de dezembro de 2013. Porém, com a insuficiente oferta de sementes para abastecer o mercado, a decisão foi adiada.
A primeira semente de milho orgânica, batizada de “AL Avaré”, é produzida por produtores cooperados, vinculados ao Núcleo de Ataliba Leonel, do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes, da Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Esta variedade foi escolhida em virtude de suas ótimas qualidades de produção, resistência natural às pragas e doenças e fácil adaptação às diversas condições climáticas.
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA Regional), por meio da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itararé, é a única instituição brasileira certificada e cadastrada para a produção de batatas-sementes orgânicas. As variedades trabalhadas apresentam excelente qualidade culinária, ideais para o preparo de chips e purê.
A certificação pelo IBD Certificações foi realizada em outubro de 2014, ano em que foi feito o cadastro no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). Agora, a Unidade, localizada no interior paulista, está apta a produzir e disponibilizar para produtores rurais batatas-sementes orgânicas, livre de vírus. A vantagem para os produtores são segurança fitossanitária do material que será plantado, menores custos e diminuição da dependência por sementes importadas.
Em paralelo, o trabalho de formação de recursos humanos continua a todo vapor. De dezembro de 2012 até maio de 2014, já realizou onze edições do Curso de Capacitação em Agricultura Orgânica e Sustentável, com cerca de 300 técnicos de extensão rural treinados para trabalhar como multiplicadores. Os cursos são ministrados pela Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Ecológica da APTA, localizada no município de São Roque, a única do governo do estado de São Paulo que é 100% orgânica.
Por essas e outras podemos afirmar que, mais do que parceira, a agricultura é protagonista – e vital – para a conservação do meio ambiente.
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