Data da postagem: 23 Outubro 2014
Um dos papeis da ciência é antever demandas. Na ciência agrícola não é diferente. Os pesquisadores precisam estar atentos ao que o produtor rural precisará, no futuro. Este é o caso das pesquisas do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, com o estresse hídrico no feijoeiro. Os pesquisadores do IAC buscam desenvolver plantas mais resistentes ao déficit hídrico, capazes de se desenvolverem com volume de água até 30% menor que o usual. A expectativa é que os novos materiais estejam no mercado em cinco anos. De acordo com o pesquisador e diretor do Centro de Grãos e Fibras IAC, Alisson Fernando Chiorato, os quatro últimos lançamentos de cultivares de feijão do Instituto já estão sendo utilizados em regiões onde há menor disponibilidade hídrica, a exemplo da cultivar IAC Imperador, que apresenta ciclo precoce ao redor de 75 dias e tem apresentado boa tolerância ao déficit hídrico ocorrido nos anos de 2013 e 2014 nas lavouras paulistas e mineiras.
Segundo Chiorato, 74 linhagens potencialmente resistentes ao estresse hídrico estão sendo avaliadas no IAC, em Campinas. Para fazer os cruzamentos, o Instituto utilizou materiais de seu próprio banco de germoplasma e também importou outras 250 linhagens do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), localizado em Cali, na Colômbia. “Essa importação foi importante porque o CIAT vem trabalhando há anos no desenvolvimento de cultivares tolerantes ao déficit hídrico, visando à transferência dessas cultivares aos países africanos”, explica o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
A ideia é que os pesquisadores do IAC repassem essas características de tolerância ao estresse hídrico para as suas cultivares. Segundo Chiorato, não é possível usar no Brasil os materiais colombianos, pois eles não possuem a qualidade de grão exigida pelo mercado brasileiro. “Dessa forma, necessitamos realizar o melhoramento genético, adequando cultivares que apresentam qualidade de grão e tolerância ao déficit hídrico”, afirma. Trabalhos já realizados comprovam que algumas cultivares desenvolvidas pelo IAC mostraram-se mais tolerantes à seca do que alguns genótipos repassados pelo programa do CIAT. O mercado brasileiro aprecia grãos grandes, casca fina e clara, além de caldo espesso.
Os pesquisadores do IAC esperam que ao usar plantas tolerantes ao estresse hídrico, o produtor rural economize até 30% de água em todo o processo de produção. Para diminuir a necessidade de água na planta, os pesquisadores do IAC buscam materiais precoces e com boa qualidade de raiz. De acordo com Chiorato, a precocidade é importante, porque estudos do CIAT indicam que a cada dia em que o feijoeiro fica a mais no campo sofrendo com a falta d’água, ocorrem perdas ao redor de 74 kg por hectare, por dia. “Quanto maior o ciclo da planta, mais ela vai sofrer com a falta de água e maior será a perda”, afirma. A qualidade de raiz é outro fator importante, pois amplia a absorção de água nas camadas mais profundas do solo e possibilita que a planta absorva mais nutrientes do solo para repassar ao grão.
A proposta é usar os materiais resistentes ao déficit hídrico em regiões em que o veranico tem sido superior a 30 dias sem chuvas. Esta característica tem ocorrido com maior intensidade nas regiões do Sudeste, Nordeste e do Centro-Oeste brasileiro. “Não estamos desenvolvendo uma planta que não precisa de água, mas sim uma cultivar mais rústica, que crie mecanismos para produzir com menor quantidade de água. Estamos minimizando a sensibilidade das plantas em período de veranicos, em que é comum ficar de 15 a 40 dias sem chuva”, afirma o pesquisador do IAC.
As quatro últimas cultivares de feijoeiro desenvolvidas pelo Instituto Agronômico já são usadas pelos agricultores brasileiros para tentar diminuir os efeitos dos períodos de pouca chuva. “Os feijões IAC Alvorada, IAC Formoso, IAC Imperador e IAC Milênio já são considerados tolerantes aos estresse hídrico, mas ainda estamos realizando testes para determinar qual é a redução no consumo de água”, diz Chiorato.
O Instituto Agronômico iniciou em 2009 os estudos para desenvolver cultivares de feijão com o perfil de resistência ao estresse hídrico. Em fevereiro de 2013, o Instituto concluiu a construção de um laboratório específico para realizar essas análises, em Campinas. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 700 mil na compra de equipamentos, nacionais e importados. Os recursos foram concedidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O IAC montou também uma estufa coberta, com total controle de irrigação.
Carla Gomes (MTb 28156) e Fernanda Domiciano – Assessoria de Imprensa – IAC