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Projeto Oliva SP da APTA estuda o cultivo de oliveiras em condições paulistas

O azeite de oliva é rico em compostos fenólicos – substâncias que combatem os radicais livres no organismo humano – trazendo inúmeros benefícios para a saúde, ainda é pouco consumido e produzido no Brasil. O consumo de azeite de oliva e azeitonas pela população brasileira é de 0,2 kg por habitante no ano. Em países mediterrâneos como Espanha, Itália e Grécia, esse número pode chegar a 23 kg. O Brasil é ainda totalmente dependente de importação de azeites de países europeus e de conservas de azeitonas, especialmente da Argentina – devido principalmente às condições climáticas não favoráveis para cultivo. Com o objetivo de discutir os desafios da produção de azeitonas no País e conscientizar os consumidores sobre a qualidade do produto, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), realiza o 2º Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura, durante a 5ª ExpoAzeite e Delifood, que será realizada entre 12 e 13 de setembro, em São Paulo.
O Brasil gasta anualmente em torno de R$ 400 milhões na importação de azeitonas para mesa e azeite da Comunidade Econômica Européia (86,5%) e da Argentina (13,4%). Nos últimos nove anos, o consumo e importação de azeite de oliva e azeitona tiveram aumento de 120% e 45%, respectivamente. Mesmo assim, a produção no País é muito baixa por conta principalmente do clima. A oliveira exige temperaturas mais baixas que as apresentadas na maioria dos estados brasileiros para que haja o florescimento e frutificação.
Segundo Angélica Prela Pântano, pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, a oliveira demanda originalmente calor e tempo seco para crescer e temperaturas baixas para frutificar, no período que antecede a floração. A temperatura de inverno ideal deve ser entre 7,0ºC e 10ºC. Também, para que ocorra melhor pegamento e boa formação dos frutos, uma amplitude térmica, isto é, diferença de temperatura máxima e mínima no inverno, não deve ultrapassar 18º C. "É uma planta de dias longos, floresce bem em invernos amenos e chuvosos e em verões quentes e secos, e necessita de período e inverno frio de dois meses, em torno de 100 a 200 horas de temperatura abaixo de 7,2ºC", afirma Angélica.

Poucas regiões brasileiras têm essas características. De acordo com a pesquisadora do Polo Regional APTA Centro Sul, Edna Bertoncini, no Estado de São Paulo as regiões onde já existem pequenos produtores de oliveira e são boas para cultivo estão localizadas nos municípios próximos à Serra da Mantiqueira. "Os 15 municípios dessa área estão em altitude variando de mil a 2.789 metros, apresentando microclima com quantidade de horas de frio necessárias para o florescimento das plantas", afirma. Outras regiões como o Sul do Estado de São Paulo, municípios inseridos na Serra da Mantiqueira no Estado de Minas Gerais e os Estados do Sul do Brasil oferecem condições de cultivo das oliveiras com os atuais cultivares presentes no Brasil até o momento. 
De acordo com Edna, o desafio dos pesquisadores é desenvolver cultivares que se adaptem às condições subtropicais, obter técnicas de manejo da cultura – que é exótica para as condições brasileiras – e conscientizar e transferir conhecimentos a agricultores, agroindústrias, consumidores, comerciantes e legisladores.
Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da APTA, IAC, Instituto de Tecnologia dos Alimentos (ITAL) e Instituto de Economia Agrícola (IEA), juntamente com profissionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (CATI) e Agenzia Servizi Settore Agroalimentare Marche (ASSAM), da Itália, criaram o grupo de estudo "Oliva SP", em 2009, em função da crescente demanda de informações pelos produtores e investidores nacionais e internacionais interessados no cultivo de oliveiras no Estado de São Paulo.

O objetivo do projeto – inédito no Estado de São Paulo – é fazer o levantamento de demanda de pesquisa para o setor, auxiliar e conscientizar produtores e consumidores de azeite, implantar novos cultivares adaptados às regiões produtoras mais quentes e, futuramente, desenvolver cultivares menos exigentes em horas de frio para o florescimento, de modo que as oliveiras possam ser cultivadas em áreas extensas no Brasil, como ocorreu com o trigo, soja e maçã. Produzir um pacote tecnológico para os produtores rurais e ainda conscientizar os consumidores sobre quais os componentes necessários para que o azeite aja de forma benéfica para a saúde são também pontos abordados pelo projeto.

Os produtores brasileiros de azeitona utilizam cultivares de oliveiras oriundas de regiões mais frias, como da Espanha, Portugal e Itália. O grupo "Oliva SP" já providencia a vinda de materiais de regiões como Sicília, na Itália, Marrocos, Tunísia e Grécia para realizar estudos de melhoramento genético. "Esses locais são um pouco mais quentes, por isso, acreditamos que as cultivares vão se adaptar melhor ao Brasil. Depois de chegarem, vamos fazer testes nos campos e, se necessário, realizar cruzamento com outros cultivares de interesse para formação de blends harmoniosos de azeites. Esse processo, porém, pode ser demorado", explica a pesquisadora do Polo APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 

Chegando ao Brasil, as plantas devem permanecer em quarentenário para garantir que nenhuma praga ou doença entre no País. "Os olivais brasileiros ainda não apresentam pragas e doenças de difícil controle, como aquelas presentes nos países tradicionalmente produtores. Eles apresentam pragas e doenças comuns às frutíferas brasileiras e são controlados por pesticidas usados nessas culturas, pois ainda não temos nenhum produto químico registrado especificamente para a oliveira, no Brasil", diz. A pesquisadora alerta para o perigo de chegar ao País doenças como a lagarta Prays oleellus. "Não temos idéia de como essa doença agiria em clima tropical, muito mais propicio à proliferação de insetos e pragas, devido ao calor e excesso de umidade em algumas épocas do ano. Por isso, a necessidade de controle de mudas e sementes que entram no País", afirma Edna.
Plantio e Manejo 
Além da escolha da área de produção – que atenda às exigências climáticas da oliveira – e as mudas de boa procedência, os produtores devem ter cuidado na escolha do solo e no espaçamento escolhido para o plantio. A oliveira não suporta solos encharcados, sendo muito exigente em solos com valor de pH próximos ou acima de 7. 

Outro desafio a ser enfrentado na parte agrícola refere-se à colheita e pós-colheita. De acordo com a pesquisadora do Polo APTA, no Brasil a colheita é feita de forma manual, já que os equipamentos são importados. A indústria nacional ainda não os disponibiliza. Os frutos estragados e as folhas devem ser retirados, sendo necessária a lavagem antes do processamento. Segundo Edna, a conservação deve ser feita em caixas aeradas e distantes do solo, evitando o armazenamento em pilhas ao ar livre, que contribuem com a deterioração dos frutos e a má qualidade dos azeites. "O tempo de estocagem, da colheita até o processamento não deve ultrapassar 48 horas, sendo mais recomendado, 24 horas", recomenda.

Não há ainda no Brasil nenhuma indústria extratora de azeites. Segundo Edna, no País há poucas máquinas para extração do azeite. "O ideal é que aqui ocorra o mesmo que acontece na Europa. Lá, os produtores compram o equipamento em sociedade, porque ele vai ser usado apenas uma vez no ano e há um custo de compra e manutenção da planta extratora. A ideia é que se formem cooperativas", diz.

Segundo a pesquisadora do Polo APTA, a produção em larga escala de oliveira no País pode diminuir o preço do produto para o consumidor final, aumentar a qualidade, incentivar a indústria e ser fonte de renda para o pequeno produtor – assim como as frutas.
Zoneamento agrícola
Com o objetivo de detalhar as regiões paulistas que atendam às exigências climáticas para o cultivo de oliveiras, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, começou um estudo para zoneamento agrícola da cultura. O Instituto possui a rede meteorológica mais antiga de São Paulo, com dados de temperatura desde 1890. Os principais aspectos considerados no zoneamento estão relacionados à temperatura e altitude, além da cultivar. É necessário ainda um estudo das condições climáticas da região e avaliação da adaptação da cultura sob essas condições. 

Segundo a pesquisadora do IAC, durante muito tempo foi feita nas estações meteorológicas a coleta de dados convencionais, ou seja, as médias diárias. "O ideal para a elaboração do zoneamento da oliveira seria a temperatura na escala horária – o que já existe no IAC", diz Angélica.

De acordo com a pesquisadora, uma das opções para um estudo mais detalhado é a parceria entre o IAC e os produtores que já iniciaram a produção. "Essa parceria auxiliará muito pois com os dados reais de cultivo já teríamos um avanço enorme nas pesquisas em relação ao desenvolvimento da cultura em nosso Estado. O produtor será nosso parceiro no sentido de nos fornecer informações a respeito dos cultivares implantados para que possamos avaliar o desempenho de altura, diâmetro, início de florescimento, primeira produção e posteriormente a qualidade do azeite produzido", afirma.

A principal diferença de São Paulo para os países que são grandes produtores de azeite e azeitona, de acordo com Angélica se refere a uma estação fria bem definida, com temperaturas baixas, bem diferenciadas das observadas na primavera e verão. "É nesse período em que as plantas ficam expostas a baixas temperaturas, em repouso, e em seguida com o aumento da temperatura recebem o start para o início do florescimento e posterior frutificação. A umidade relativa nesse período é também importante. A alta umidade relativa do ar no florescimento, além da queda de flores, contribui para o aparecimento de doenças fúngicas, interferindo diretamente na qualidade de frutos", explica a pesquisadora do IAC.

Com o zoneamento agrícola será possível também a viabilidade de empréstimo bancário ou seguro para o agricultor. "A oliveira, como qualquer outra cultura, só recebe empréstimos bancários após o estudo de zoneamento climático. Fica praticamente impossível o governo ou mesmo um órgão financiar a implantação de uma cultura quando não se tem estudos sobre as possibilidades de desenvolvimento da mesma para a localidade pretendida", afirma.

O tema do zoneamento agrícola será abordado por Angélica Prela Pântano, no II Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura, durante a ExpoAzeite Delifood, no dia 12 de setembro, às 11h.
Qualidade do azeite
A formação do grupo "Oliva SP" e as discussões que o grupo vem propondo no seu curto período de existência têm contribuído para alertar importadores e consumidores quanto à qualidade do produto encontrado nas gôndolas de supermercados brasileiros. "O azeite é um produto caro e o consumidor tem que saber quais características deve apresentar para trazer benefícios reais à saúde. Se algumas normas não forem seguidas, azeite pode até mesmo fazer o efeito contrário e prejudicar a saúde das pessoas", afirma a pesquisadora Edna Bertoncini. 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) elaborou uma norma em 2011 regulamentando o registro e comercialização de azeites no Brasil. "Fica proibido com essa norma, por exemplo, a mistura de outros óleos de grãos, como soja, milho e girassol ao azeite. O consumidor deve estar atento aos rótulos das embalagens", afirma.

Para melhor conservação do produto, o azeite deve ficar em embalagem de vidro escuro ou de lata para não permitir que a luz oxide o líquido. Segundo Edna, quando a luz entra em contato com o azeite ele rancifica e estraga. O excesso de calor nas prateleiras de supermercado e o longo período de estocagem também contribuem para a deterioração do produto. "Essas condições propícias à deterioração do produto são comuns em supermercados brasileiros, diz a pesquisadora do Polo APTA.

O consumidor deve ficar atento também se na gôndola do supermercado não tem luz incidindo diretamente no produto e, ao abrir a garrafa, se o odor não é de ranço, mofo ou qualquer outro cheiro que indique deterioração do azeite. O ideal é que o azeite exale aroma de ervas frescas, fruta madura ou grama cortada. Azeites "mais adocicados", como os de origem portuguesa e espanhola, muito comercializados no Brasil, se degradam mais rapidamente, com tempo de vida mais curto entre a extração e o consumo. Azeites com toques amargos e picantes, como os chilenos, gregos e italianos, apresentam maiores quantidades de polifenóis, que protegem o organismo de radicais livres e também aumentam a vida útil dos azeites.

Aos consumidores, a pesquisadora orienta que o tempo ideal de consumo entre a extração e consumo é de 6 a 12 meses. O consumidor deve preferir embalagens menores, consumir o produto até 03 meses após a abertura da embalagem e conservar o produto em local seco, com pouca luz e com temperaturas amenas, até 18
oC.
A acidez, que geralmente é o fator de maior preocupação dos consumidores, nem sempre é garantia de produto de qualidade, de acordo com a pesquisadora. Isso porque o azeite pode apresentar no rótulo acidez livre menor ou igual a 0,8, classificado como extra-virgem, qualidade máxima de um azeite, mas esta qualidade pode se alterar até o momento do consumo, em virtude das condições de transporte e estocagem do produto.
Evento
O 2º Encontro da Cadeia Produtiva de Olivicultura acontece junto à 5ª ExpoAzeite, maior feira de azeites do Brasil, e tem o objetivo de fomentar e discutir o desenvolvimento tecnológico, científico e sustentável no Brasil, abrangendo desde a implantação dos olivais até a qualidade do fruto colhido, pós-colheita, extração, análises físico-químicas e sensoriais, conservação do produto e legislação brasileira que regulamenta o registro e comercialização dos azeites no Brasil.
Cases de cultivo internacional de países como Chile, Uruguai, Argentina, Espanha e Portugal serão contados no evento. Os pequenos produtores rurais brasileiros terão participação efetiva no evento, pois será distribuído um questionário para eles responderem questões como a produção de seus olivais, número de plantas e onde é feito o cultivo. Assim, os pesquisadores terão mais informações para os estudos do projeto "Oliva SP".
O público-alvo do evento são pesquisadores, produtores, consumidores e profissionais ligados à culinária. O encontro será realizado durante a ExpoAzeite 2011 Delifood, que acontece da 12 e 13 de setembro, das 10 às 19h, no Centro Fecomércio de Eventos, em São Paulo.
Serviço 

Mais Informações, fotos, apresentações:
www.apta.sp.gov.br/olivasp

2º Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura e ExpoAzeite 2011 Delifood
Data: 12 e 13 de setembro de 2011
Horário: das 10h às 19h
Local: Centro Fecomércio de Eventos
Endereço: R. Dr. Plínio Barreto, 285, São Paulo – SP
Mais informações: http://www.expoazeite.com.br/
Texto
Fernanda Domiciano – estagiária – APTA
Assessoria de Comunicação da Apta
José Venâncio de Resende
Camila Amorim/Eliane Christina da Silva (estagiárias)
(11) 5067-0424

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