Os técnicos são habilitados na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da APTA de São Roque
Alimentar-se melhor e diminuir os impactos ambientais são desejos de uma parcela cada vez maior da população que busca ingerir alimentos orgânicos. Esse tipo de alimento gera interesse não só dos consumidores, mas também dos produtores rurais, principalmente os familiares, por ser uma alternativa de produção economicamente viável e sem custos com adubos químicos e agrotóxicos. Estima-se que no Estado de São Paulo existam 151 mil produtores rurais familiares. Com o objetivo de capacitar técnicos da extensão no Estado de São Paulo para que possam orientar agricultores em sistemas de produção orgânicos, para fomentar o mercado, o Governo paulista lançou o São Paulo Orgânico. Uma das ações do projeto é capacitar os técnicos, que agem como multiplicadores da tecnologia para os produtores rurais. O 5º. Curso de Capacitação em Agricultura Orgânica e Sustentável para Técnicos da Extensão Rural será realizado de 17 a 21 de junho de 2013, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de São Roque, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente. Ao todo, o curso tem duração de 40 horas, divididas entre aulas teóricas e práticas, além de visitas a propriedades orgânicas. Esta é a quarta turma que será capacitada no ano.
O módulo básico do curso começou em 2012 e vai até o final de 2013. Cerca de 200 técnicos da Secretaria de Agricultura, de Meio Ambiente e daJustiça e da Defesa da Cidadania, através do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), devem ser capacitados para orientar os agricultores. De acordo com o pesquisador da APTA, Sebastião Wilson Tivelli, a expectativa é que o módulo dois comece no segundo semestre de 2013. “Ao final do curso, os participantes informam quais são as culturas ou criações de animais para as quais têm ou terão demanda de capacitação para a produção orgânica. O segundo módulo vai tratar de tópicos específicos para cada região do Estado de São Paulo”, explica Tivelli.
Os participantes do curso passam por um processo de sensibilização, com o depoimento de um produtor orgânico de frutas e hortaliças. Em seguida, os técnicos são despertados para a importância da biodiversidade nos sistemas agrícolas do ponto de vista agroecológico e para o papel dos micro-organismos no solo, como os fungos, bactérias, actinomicetos, leveduras, microinsetos, entre outros. Segundo Tivelli, a sensibilização dos profissionais é importante porque muitos não aprenderam sobre agroecologia na graduação.
A Legislação Federal da Produção Orgânica Vegetal, a certificação, o mercado e as formas de comercialização dos produtos, além da biodiversidade do solo são tratados no segundo dia do curso. “Em todos os dias do curso procuramos mesclar um pouco de teoria com a prática, no preparo de biofertilizantes, e compostagem, e na visita aos experimentos da UPD de São Roque”, afirma TIvelli. Nos três últimos dias será feita uma visita a experimentos da UPD da APTA em São Roque e a propriedades orgânicas de frutas, hortaliças e em fazenda de leite e derivados, para demonstrar como os conhecimentos teóricos são aplicados na prática.
A Unidade de Pesquisa da APTA foi escolhida para ministrar o curso por ser referência nos estudos com orgânico no Estado de São Paulo. Desde 1994, a UPD da APTA em São Roque realiza pesquisas com orgânicos, principalmente com hortaliças. Entre os resultados recentes estão o desenvolvimento de uma cultivar de cebola, o consórcio de hortaliças com adubos verdes e a seleção de micro-organismos capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e disponibilizá-los para as culturas. “Além disso, transferimos esses conhecimentos e tecnologias aos agricultores através de experimentos locais, um papel primordial desempenhado pela APTA”, diz Tivelli.
A finalidade do consórcio entre as hortaliças com outras plantas é melhorar o solo e a biodiversidade do local. O método permite o cultivo simultâneo de duas ou mais culturas em uma mesma área, sem que o agricultor deixe de obter renda. O consórcio melhora o solo e aumenta a biodiversidade da espécie no local. Dependendo das espécies selecionadas, é possível ter a fixação de nitrogênio atmosférico para as plantas, o controle de doenças e a produção de habitat para o desenvolvimento de inimigos naturais de pragas agrícolas. “O consórcio aumenta ainda a área fotossintética no sistema de cultivo, mantém um sistema radicular denso e ativo no solo e proporciona o aporte de matéria orgânica para alimentação dos micro-organismos”, explica o pesquisador da APTA.
Segundo Tivelli, há várias bactérias do solo que fixam o nitrogênio atmosférico e o disponibilizam naturalmente às culturas por meio de um processo de simbiose com as plantas. “O trabalho da pesquisa é identificar quais bactérias potencializam essa simbiose com cada uma das culturas de interesse econômico, como foi descoberto para a soja e para o milho”, exemplifica. Sem a presença dessas bactérias, as plantas não conseguem aproveitar o índice de 78% de nitrogênio presente no ar e que é a base para a produção de proteínas.
Bokashi
No segundo dia do curso, em 18 de junho, o pesquisador da APTA, Issao Ishimura, vai ministrar aula prática sobre o biofertilizante bokashi. A APTA, por meio de seus trabalhos de pesquisa, conseguiu reduzir em até 40% os custos para a produção do composto utilizado como biofertilizante para cultivo de orgânicos.
Originalmente, a tonelada do biofortificante japonês custava em média R$ 810,00. Com a substituição de alguns componentes, a pesquisa paulista conseguiu desenvolver um bokashi mais de 40% mais barato, ao custo de R$ 460,00 a tonelada. “O farelo de soja, por ser utilizado como matéria-prima para fabricação de ração animal, é inviável para o preparo do adubo, então, o substituímos por farelo de mamona, abundante na região de São Roque e em todo mercado agropecuário do Brasil”, afirma Ishimura. Outra mudança foi em relação à farinha de peixe industrializada, que custa em média R$ 2,20 o quilo, por sobras da limpeza de peixes frescos das peixarias, que são distribuídas a custo zero. O farelo de arroz – fonte de amido – foi trocado por resíduos da indústria de fécula e fritas de batata, que também não custa nada. De acordo com o pesquisador da APTA, a composição e a dosagem aplicada variam conforme o estado do solo – degradado ou não – os níveis de nutrientes existentes e a espécie que será cultivada.
Foi por meio da pesquisa paulista também que os produtores de tomate orgânico passaram a produzir mais. Quando os pioneiros na produção orgânica utilizavam no cultivo de tomate apenas compostos simples, preparados com esterco animal conseguiam produzir pouco, apenas 0,5 kg de tomate por pé. Na agricultura tradicional é possível produzir em média oito quilos. Atualmente, recomenda-se utilizar o bokashi em conjunto com o composto orgânico comum à base de esterco animal curtido com material celulósico e capim, usado como condicionador do solo, o que melhora as condições físicas e biológicas. “Na região de São Roque, na cidade de Ibiúna, há um grande produtor que consegue produzir até três quilos por pé, ou seja, seis vezes mais. Quando o agricultor é pequeno e familiar, pode chegar a dobrar a produção”, afirma Ishimura.
O bokashi, produzido a partir de ingredientes do beneficiamento de matérias-primas fermentados por micro-organismos benéficos, evita o ataque de doenças fúngicas ao tomateiro e outras espécies suscetíveis a doenças. “Isso acontece porque a quitina presente nas penas de aves e nos frutos do mar, como casca de siri, caranguejo e camarão, induz à diminuição de micro-organismos patógenos”, explica Ishimura.
O biofertilizante pode ser utilizado no plantio de hortaliças, como cebola, batata, alcachofra e louro. Se não fosse a utilização para esse fim, os resíduos que compõem o produto iriam para aterros sanitários. “O bokashi aplicado em solo nutricionalmente desequilibrado e degradado pelo uso excessivo de insumos químicos permite sua recuperação por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e principalmente biológicas, em equilíbrio com a natureza, de acordo, com enfoque agroecológico”, explica o pesquisador da APTA. Segundo Ishimura, seu preparo depende somente de material originado de recursos naturais renováveis sendo, portanto, uma tecnologia ecologicamente correta.
Ainda de acordo com Ishimura, os resíduos sólidos produzidos na região são reaproveitados na produção de alimentos dos próprios municípios, gerando riqueza. “Pode-se dizer que este reaproveitamento dos resíduos na região é muito importante na sustentabilidade do agricultor, além de aumentar a garantia da sua segurança alimentar, o que traz um enorme benefício para a comunidade”, afirma.
Compostos orgânicos
Na quarta-feira, 19, o técnico de apoio à pesquisa da APTA, Celso dos Santos, vai ensinar os participantes do curso a maneira de utilizar os compostos orgânicos – importantes para o sistema de cultivo, por auxiliarem no fornecimento de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas. “A maioria dos materiais necessários para a compostagem normalmente é encontrada na própria unidade produtiva. O produto final, formado por sais minerais e húmus, visa melhorar condições físicas, químicas e biológicas do solo, revitalizando-o e promovendo o desenvolvimento da planta e, consequentemente, melhorando a qualidade do produto e o meio ambiente”, explica dos Santos.
Entre os materiais que podem ser utilizados estão resíduos vegetais de qualquer natureza, como palhas, galhos, folhas, sementes, cascas e sabugos, resíduos agroindustriais e de animais. Os produtores também podem utilizar enriquecedores como calcários, melaços, farelos, carvão, rocha moída e terra oriunda de tratos culturais. Carboidratos energéticos, inoculantes alternativos, estercos, farelos, leite, soro de leite, compostos biofertilizantes prontos, inoculantes comerciais e terras oriundas de tratos culturais também podem ser utilizados na compostagem.
Durante o curso, também serão ministradas palestras de técnicos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Faculdade Cantareira e dos Produtos Yamaguishi. Os participantes visitarão o Sítio Catavento, em Indaiatuba, e a Fazenda Nata da Serra, em Serra Negra, nos dias 20 e 21 de junho, respectivamente.
Orgânicos no Brasil
O Brasil está em quinto lugar no ranking dos países que mais produzem alimentos orgânicos, de acordo com dados de 2004. O País foi responsável por US$ 100 milhões dos US$ 26,5 bilhões movimentados mundialmente, ocupando o 34º lugar entre os exportadores dos produtos. Os Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo produzem 70% dos orgânicos cultivados no País.
Atualmente, segundo o pesquisador da APTA, Sebastião Wilson Tivelli, a procura de alimentos orgânicos é maior do que a oferta. Para incentivar ainda mais o consumo e também o cultivo desses alimentos o governo do Estado lançou, em março de 2013, o “Programa São Paulo Orgânico”. O Projeto oferece os cursos de capacitação e ainda disponibiliza linha de crédito aos produtores, por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP).
Em âmbito federal, há o projeto de tornar a Copa do Mundo de Futebol no Brasil em orgânica, com o abastecimento da rede hoteleira com os produtos. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo e a de Meio Ambiente têm um Grupo de Trabalho (GT) sobre o tema.
Serviço
Curso “Capacitação: Agricultura Orgânica para Técnicos da Extensão Rural”
Data: 17 a 21 de junho de 2013
Horário: das 8h às 17h30
Local: UPD de São Roque da APTA
Endereço: Av. Três de Maio, 900 Jd. Maria Trindade - São Roque/SP
Texto: Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – APTA
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