O Instituto Biológico (IB-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, integra projeto de pesquisa internacional, coordenado pela University Hospital Cleveland Medical Center & Case Western Reserve University, dos Estados Unidos, para descobrir se os percevejos de cama podem transmitir doenças ao homem. O instituto de pesquisa paulista trabalha para coletar amostras de percevejo de cama em todas as regiões brasileiras. A população pode ajudar no projeto, enviando os percevejos encontrados em suas casas para o IB, em São Paulo.
De acordo com Ana Eugênia de Carvalho Campos, pesquisadora do IB, os percevejos de cama são uma praga reemergente no Brasil e não são reconhecidos como transmissores de doenças ao homem. Entretanto, com as técnicas de nova geração de biologia molecular, é necessário investigar novamente a questão.
“Com as novas ferramentas de biologia molecular é possível identificar qualquer microrganismo, bactéria, protozoário associados a plantas e animais. A ideia é utilizar essa tecnologia para refazer os testes com os percevejos e termos uma conclusão mais confiável sobre ele ser ou não vetor de doenças ao ser humano”, explica.
Coleta
De acordo com Ana Eugênia, regiões endêmicas da Doença de Chagas, como nos Estados da Amazônia Legal, onde há casos agudos da doença, com casos isolados em outros Estados, serão muito importantes para a coleta dos percevejos. A pesquisadora do instituto de pesquisa paulista explica que os percevejos de cama pertencem à mesma ordem dos barbeiros, vetores da Doença de Chagas. “Vamos analisar se a Doença de Chagas também pode ser transmitida pelo percevejo, já que ele e o barbeiro têm uma relação de parentesco”, diz.
Atualmente, equipes ligadas ao Ministério da Saúde realizam vistoria em busca do barbeiro, em casas localizadas em regiões endêmicas. A ideia é que durante essas buscas também seja verificada a presença dos percevejos de cama.
No projeto internacional, o Instituto Biológico é responsável pela coleta dos percevejos em todas as regiões do território nacional. Para isso, o IB conta com o auxilio de associações controladoras de pragas urbanas em todo o Brasil e da própria população que poderá ajudar a coletar os insetos.
“A população pode ajudar nos enviando amostras de percevejos encontrados em suas residências ou hotéis e lugares turísticos. Os insetos devem ser coletados em frascos contendo álcool concentração 70% ou mais, rotulados com o local de coleta”, explica Ana Eugênia.
Monitoramento
O Instituto Biológico realiza o monitoramento dos percevejos de cama desde 2012, por meio de um questionário online que pode ser preenchido por pessoas comuns que estejam com o problema ou empresas que controlam a praga. “O intuito é avaliar os locais onde o percevejo tem ocorrido, se a pessoa realizou viagem ao exterior e o que vem fazendo para controlar a infestação”, conta Ana Eugênia. Cerca de 450 pessoas já preencheram o questionário, que pode ser acessado neste link.
O percevejo de cama é uma praga reemergente no Brasil. Sua ocorrência era comum na década de 1960, principalmente, em pequenas estalagens, onde os viajantes passavam a noite, e em residências mais pobres. Na década de 1990, a ocorrência se restringia a albergues de pessoas em situação de rua, favelas e prisões e estava, geralmente, associada aos ambientes de pouca limpeza. “O uso de inseticidas clorados para controle de vetores da Doença de Chagas e febre amarela promoveu, paralelamente, o controle do percevejo de cama”, explica Ana Eugênia.
Com o passar dos anos, os insetos voltaram a ser registrados em vários países devido à proibição desses inseticidas clorados por moléculas menos tóxicas ao homem e ao ambiente e às novas tecnologias de aplicação. “Os Estados Unidos, países da Europa e Austrália foram os primeiros a relatar a reemergência do inseto há 15 anos, aproximadamente. Além da mudança no controle da praga, houve aumento significativo das viagens internacionais, o que facilitou a dispersão do inseto para novos continentes, com o agravante de suas populações estarem resistentes ao principal grupo químico utilizado para seu controle, o piretróide. Os primeiros relatos no Brasil ocorreram em 2010”, conta a pesquisadora.
No questionário realizado pelo IB há um campo onde é possível informar o CEP residencial da pessoa que está sofrendo com o problema, o que facilita na identificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do local. “Esta informação é importante para entender se as infestações continuam restritas a regiões mais pobres e socialmente menos favorecidas ou se sua distribuição encontra-se dispersa, em qualquer classe social”, afirma.
A cidade com menor índice de IDH relatada no questionário foi a de Francisco Badaró, em Minas Gerais, com IDH 0,622. O bairro da Vila Conceição, na Capital paulista, que apresenta IDH 0,961, foi o local com maior índice registrado no levantamento do IB. “Isso mostra que o inseto não faz distinção entre as classes sociais”, diz a pesquisadora. Apenas 14% das pessoas relataram que fizeram alguma viagem ao exterior, o que, segundo a pesquisadora do IB, indica que a praga já está estabelecida no País.
O projeto de pesquisa internacional também trará novos dados para os trabalhos coordenados pelo IB no Brasil. Com o recebimento das amostras, o Instituto espera ter melhor detalhamento sobre as regiões em que são encontrados os insetos e qual das duas espécies de percevejo é mais encontrada no Brasil.
SERVIÇO
Os interessados em contribuir com o projeto podem encaminhar os percevejos que encontrarem ao Instituto Biológico, no endereço Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1.252, CEP 04014-900, São Paulo (SP), aos cuidados de Ana Eugênia de Carvalho Campos.
As amostras de percevejo devem estar em álcool, com concentração 70% ou mais, rotulados com o local da coleta.
Por Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa - APTA
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