Data da postagem: 25 Abril 2014
Com arroz e feijão ou com cerveja no bar. Quem não gosta de batata frita? Aquela bem sequinha e crocante? E o purê consistente? Pois são essas as características dos três cultivares de batata desenvolvidos pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, que serão expostos na Agrishow 2014. A novidade deste ano é mostrar os materiais plantados em sistema orgânico, em vasos. As pesquisas estão sendo realizadas por pesquisadores do IAC e da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itararé, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que está em fase de certificação para cultivo orgânico em 50 hectares. A expectativa é que em 2015 a APTA comece a produzir batatas-semente orgânicas para disponibilizar aos produtores.
As cultivares IAC Aracy, IAC Itararé e IAC Aracy Ruiva são 35% mais produtivas do que as batatas importadas Ágata e Asterix. Nas avaliações em diferentes regiões do Estado de São Paulo, a produtividade média dessas três cultivares do IAC foi de 30 toneladas por hectare,enquanto que as importadas produziram cerca de 20 t/ha. Os materiais do IAC têm moderada resistência a doenças foliares, o que pode reduzir em quase 20% o uso de agrotóxicos. “Além do mais, eles têm demonstrado menor exigência em fertilização em relação as cultivares estrangeiras, que dominam o mercado nacional. Por terem essas características, identificamos o potencial para cultivo em sistema orgânico”, afirma Valdir Josué Ramos, pesquisador da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Um dos entraves encontrados pelos produtores é o alto custo de produção de batata em razão do uso intensivo de insumos químicos derivados de fontes não renováveis, cuja maioria são importados e de custo elevado na atualidade.
A UPD da APTA, em Itararé, está em fase de certificação junto ao IBD Certificações e cadastramento no Registro Nacional de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Renasem/MAPA), para a produção e comércio de batatas-semente orgânicas. O Governo do Estado de São Paulo é o responsável pelos investimentos, por meio da Ação São Paulo Orgânico. “A partir de 2015 poderemos realizar a produção e comercialização de batatas-semente orgânicas e convencionais do IAC e disponibilizá-las, inclusive, para produtores rurais de médio e pequeno porte da Agricultura Familiar”, afirma Ramos. A Agricultura Familiar é responsável por 70% da produção de alimentos no Brasil. Neste contexto, há a possibilidade de redução da dependência de importação de batatas-semente de cultivares estrangeiras.
De acordo com o pesquisador da APTA, o custo de produção orgânica é cerca de 10% a 15% menores em relação à produção convencional. O preço médio do quilo da batata convencional é de R$ 1,49, enquanto a orgânica pode ser vendida a R$ 5,71. “Contudo, ainda são indispensáveis, as informações de pesquisa para consolidar os sistemas de produção mais sustentáveis e o orgânico”, afirma Ramos.
Alta qualidade culinária
Além das características que agradam os produtores rurais, as cultivares desenvolvidas pelo IAC são ideais para fritura em palito, chips ou palha, para cozimento e preparo de batata-lanche e para a indústria de enlatados, pela elevada produção de tubérculos graúdos. “Alguns clones IAC em avaliação se mostraram promissores para o abastecimento do mercado in natura e de processamento na forma de palitos”, afirma Ramos. Ele explica que o Brasil importou em 2010, aproximadamente, 250 mil toneladas de batata congelada, que equivale a 500 mil toneladas de batata in natura. “Isso demonstra o potencial de produção e de abastecimento nacional de batata, com uso de cultivares nacionais”, afirma o pesquisador da APTA.
De acordo com Ramos, as cultivares do IAC ainda não entraram no mercado de batata in natura, pois as redes de supermercados priorizam o comércio de tubérculos com formatos alongados ou ovalados, pele lisa e brilhante, desprezando as aptidões culinárias.
Produção de batata
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de batata no Brasil atingiu 3,57 milhões de toneladas em 2013. São Paulo produziu 646 mil toneladas, 18% do total, e ocupa a terceira posição no País.
A batata está sendo eleita em países pobres e populosos como o principal gênero alimentício que garantirá a necessidade de calorias ao homem. A FAO declarou 2008 como o ano internacional da batata, com o objetivo de chamar a atenção para a importância estratégica que esta tuberosa representa para a dieta humana mundial e devido à sua adaptação aos mais diversos climas dos cinco continentes. A batata é o terceiro alimento em importância agrícola no mundo, depois do arroz, trigo, constituindo-se em uma das culturas fundamentais para humanidade.
Biofertilizante Bokashi
A APTA também vai apresentar na Agrishow 2014 tecnologia para cultivo de orgânicos. A pesquisa paulista conseguiu reduzir em 40% os custos de produção do biofertilizante japonês bokashi, substituindo alguns componentes, como o farelo de soja pelo de mamona e a farinha de peixe industrializada pelas sobras das limpezas de peixes frescos das peixarias. O farelo de arroz, usado no biofetilizante tradicional, foi substituído por resíduos da indústria de fécula e fritas de batata.
Por meio da pesquisa paulista, os produtores de tomate orgânico passaram a produzir mais. Quando os pioneiros na produção orgânica utilizavam no cultivo de tomate apenas compostos simples, preparados com esterco animal conseguiam produzir pouco, apenas 0,5 kg de tomate por pé. Na agricultura tradicional é possível produzir em média oito quilos. Atualmente, recomenda-se utilizar o bokashi em conjunto com o composto orgânico comum à base de esterco animal curtido com material celulósico e capim, usado como condicionador do solo, o que melhora as condições físicas e biológicas. “Na região de São Roque, na cidade de Ibiúna, há um grande produtor que consegue produzir até três quilos por pé, ou seja, seis vezes mais. Quando o agricultor é pequeno e familiar, pode chegar a dobrar a produção”, afirma o pesquisador da APTA, Issao Ishimura.