A maioria das unidades agrícolas produtoras está se ajustando para a adoção do sistema de colheita e transporte de cana inteiramente mecanizado. Mesmo porque os órgãos governamentais gerenciadores do meio ambiente, nas esferas federal, estadual e municipal, se encontram vigilantes quanto à poluição ambiental em suas variadas formas e ao aquecimento global do planeta, impondo prazos que se encerram em 2014 e 2017 para o término da prática de queimada de palha de cana, conforme a viabilidade das condições específicas de colheita.
Para contribuir com a discussão do assunto, o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, promove no dia 24 de novembro (terça-feira), em Ribeirão Preto (SP), o workshop “Carretas de Transbordo para Cana-de-açúcar: projeto e construção”. O evento, coordenado por Jair Rosas da Silva, Paulo Graziano Magalhães e Pedro Sérgio Pontes, é destinado a engenheiros, empresários, professores e pesquisadores.
O conjunto de corte, colheita e transporte de cana-de-açúcar – no jargão técnico, conhecido como CCT – em sua adequação moderna emprega colhedoras autopropelidas, carretas de transbordo de cana e diversas versões de composições com caminhões para transporte, de grande capacidade de carga, que entregam a matéria-prima na esteira de recebimento das usinas, diz o pesquisador do Centro de Engenharia e Automação (CEA-IAC) Jair Rosas da Silva. Nesta fase, tem início todo o processamento industrial de fabricação de açúcar, etanol, energia, leveduras e outros produtos.
“Portanto, para a engenharia agrícola, mister é conhecer e procurar aprimorar esse importante elo dessa importante cadeia agroindustrial, com os objetivos de reduzir custos de produção e aumentar a competitividade. Considera-se que hoje o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, com condições de assumir o primeiro posto, ostentado pelos EUA, que obtém o produto a partir do milho.”
Jair Rosas define carretas de transbordo de cana-de-açúcar como equipamentos rodoviários, de aplicação agrícola, tracionados por tratores de alta potência, dotados de atrelamento ou acoplados como carrocerias de caminhões, conduzindo uma a três unidades autônomas, constituídas por um chassi reforçado, com um a três eixos, podendo ser exterçantes, rodado de pneus, geralmente de alta flutuação, sustentando uma estrutura metálica de alta resistência em forma de caixa, com sistema hidráulico de basculamento de cana e sistema pneumático de frenagem. Tem a função de trafegar de modo sincronizado junto às colhedoras automotrizes e receber as cargas de cana em forma de rebolos e, em seguida, abastecer as composições que transportam a matéria prima às esteiras das usinas. O volume das caixas é variável, podendo cada unidade ter capacidade para transportar entre 6 e 14 toneladas.
Importância econômica
A cultura da cana-de-açúcar destaca-se hoje como umas das lavouras de maior expressão econômica, energética e social, no Brasil, sobremaneira nos Estados de São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, observa Jair Rosas. “Cada hectare de cana colhida com uso de queimada emite cerca de 300 kg de material particulado. A área queimada na colheita de cana em 2006 gerou 750.000 toneladas de particulados, causando problemas respiratórios e sobrecarregando o sistema de saúde pública.”
Em São Paulo, a cana-de-açúcar atingiu em 2009 o valor da produção de R$ 15,53 bilhões, segundo estimativa preliminar do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA). Este valor representa 38,20% do valor da produção agropecuária total do Estado, avaliado em R$ 40,65 bilhões.
O pesquisador do IAC informa que existem hoje no Brasil 434 indústrias que processam a matéria prima cana-de-açúcar, das quais 251 unidades produtoras são mistas, isto é, produzem etanol, açúcar e, em grande parte, também energia elétrica a partir da energia química contida no subproduto bagaço de cana. Outras 167 unidades industriais fabricam etanol e 16 produzem apenas o alimento açúcar.
O vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti, disse no último dia 10, durante o painel “A importância do etanol na matriz energética brasileira e no desenvolvimento do Paraná”, em seminário realizado na Assembléia Legislativa, que o setor sucroenergético se tornou de extrema importância ao Paraná porque alçou o Estado como segundo produtor nacional de açúcar e álcool. “É um setor que tem dado uma contribuição importante e tem sido parceiro na construção de políticas públicas nas áreas social, econômica e ambiental.”
No mesmo evento, o presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (ALCOPAR), Anísio Tormena, afirmou: “Somos um setor que gera só no Paraná 80 mil empregos diretos e outros 500 mil indiretos. Além disso, somos responsáveis pela geração de R$ 600 milhões por ano em tributos para o Estado”. Ele estima que o Brasil deve produzir este ano (safra 2009/10) 30 bilhões de litros de etanol, enquanto nos Estados Unidos esta produção deverá ser 15% maior. Mas, segundo ele, o Brasil tem condições de ganhar a liderança da produção mundial nos próximos anos. Um dos fatores que podem contribuir para este avanço seria o aumento da área plantada de cana-de-açúcar, matéria-prima usada no Brasil na produção do etanol. “O Brasil tem hoje sete milhões de hectares de área plantada de cana, mas há ainda outros 63 milhões de hectares disponíveis para esta cultura.”
Segundo Jair Rosas, afora os aspectos econômicos, ocorrem parâmetros agronômicos de importância fundamental que precisam ser levantados e equacionados, como a compactação do solo. Ele cita estudo de Coleti e Dematte (1982) no qual alertam que grande parte das terras das usinas de açúcar e destilarias do Estado de São Paulo, e mesmo em outros Estados, é profunda, argilosa ou de textura média. E que, além disso, aproximadamente 50% dos meses de safra coincidem com o período de chuvas, portanto propício ao incremento da compactação do solo.
Por essas razões, conclui o pesquisador do IAC, as principais preocupações do evento são as de procurar reduzir o peso dos implementos e obter a melhor distribuição de cargas transferidas ao solo pelas carretas; questionar o conceito de que a adoção dos eixos do tipo tandem realmente é uma solução adequada; aperfeiçoar projetos de engenharia e levantar a compactação do solo resultante e os custos de produção. “Neste último aspecto, estamos competindo com nada menos que os EUA.” Além disso, serão discutidos outros temas não menos importantes que envolvem a sustentabilidade na produção de etanol, açúcar e energia e as questões relativas ao meio ambiente.
O workshop será realizado no Centro de Convenções do Centro de Cana IAC - Rodovia Prefeito Antonio Duarte Nogueira, Km 321 - Ribeirão Preto - SP. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 4582-8155 ou pelo e-mail ppontes@iac.sp.gov.br.
Link: programação completa
Assessoria de Comunicação da APTA
José Venâncio de Resende
(11) 5067-0402/0424
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