Por Antônio Carlos Simões
No Brasil, poucos são os estudos sobre qualidade da água na aquicultura, se comparados àqueles em ambientes aquáticos naturais e em reservatórios. A descrição de características físicas, químicas e biológicas de viveiros de produção de organismos aquáticos pode contribuir para a manutenção de níveis adequados de qualidade da água, melhorando o desenvolvimento dessa atividade. Quem fala sobre isso é a pesquisadora Cacilda Thaís Janson Mercante (cthais@pesca.sp.gov.br), diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Hídricos do Instituto de Pesca (IP-APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Sabe-se que a atividade de piscicultura gera processos de intensa eutrofização (enriquecimento da água através da carga excessiva de nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo). Tais processos promovem crescimento descontrolado de algas na água do próprio viveiro e, consequentemente, seu efluente também estará carregado de grande quantidade de algas.
O Centro de Recursos Hídricos desenvolveu recente trabalho com a finalidade de ampliar as informações a respeito não somente da qualidade da água e do manejo, como também das modificações que a elevação dos teores de nitrogênio e fósforo pode ocasionar na água do viveiro, tendo como foco o cultivo de tilápias. O referido trabalho, financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), integrou a dissertação de Mestrado de Jeniffer Sati Pereira, aluna do curso de Pós-graduação do Instituto de Pesca, tendo o pesquisador Júlio Vicente Lombardi como coordenador do projeto principal intitulado “Análise ecotoxicológica de efluentes de aquicultura continental”.
O projeto teve como escopo atender a recomendações da Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que contemplam a necessidade de tratamento dos efluentes.
Segundo Julio Lombardi, estudos que avaliem o grau de poluição dos efluentes de aquicultura são de extrema importância para minimizar os impactos gerados através de propostas de manejo. Conforme descrito no Capítulo IV, Artigo no 24. da Resolução CONAMA 357/2005, “Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o seu devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis”.
Para Thaís, é importante descrever as principais características físicas, químicas e biológicas de um sistema de piscicultura e relacioná-las ao manejo empregado, objetivando o melhor desenvolvimento dessa atividade. Ainda com vistas a um manejo sustentável, deve-se discutir sobre a incorporação de nitrogênio e fósforo no sistema, caracterizando o processo de eutrofização durante o ciclo do cultivo e sugerir formas de minimizar os impactos gerados no corpo hídrico receptor do efluente.
Os resultados desse estudo indicam que a atividade de piscicultura promoveu intenso processo de eutrofização na água do viveiro, notadamente pelos elevados valores de fósforo total em todos os meses pesquisados e em todos os pontos de estudo, comenta a pesquisadora do Instituto.
Como forma de minimizar os impactos gerados pela atividade, o uso de alimentos de boa qualidade e de alta digestibilidade e, como medida mitigadora, a implantação de sistemas de tratamento do efluente devem ser necessariamente considerados.
De acordo com resultados obtidos em alguns trabalhos, pode-se dizer que, com relação ao processo de eutrofização, as variáveis nitrogênio, fósforo e clorofila precisam ser monitoradas por constituírem as principais fontes poluidoras da atividade de piscicultura, recomenda Thaís. Para ela, tais variáveis devem estar de acordo com os níveis recomendados pela Resolução CONAMA.
Aspectos do manejo e qualidade da água
Condições inadequadas de qualidade da água prejudicam o crescimento, reprodução, saúde e sobrevivência dos peixes. Desse modo, monitorar e corrigir a qualidade da água é um fator decisivo no sucesso dos empreendimentos aquícolas.
Thaís revela que as concentrações de clorofila “a”, nitrogênio total e fósforo total tendem a se elevar com o incremento de alimento no viveiro de piscicultura. Os teores de oxigênio dissolvido tendem a diminuir progressivamente, em especial no período noturno.
Simultaneamente, se o manejo não for bem praticado, a taxa de conversão alimentar (relação entre a quantidade de alimento oferecido e o ganho de peso dos peixes) e a degradação do sistema tendem, respectivamente, a diminuir e aumentar ao longo do cultivo. Dessa forma, o estudo das relações entre a taxa de conversão alimentar, a qualidade da água e a produção de peixes é de fundamental importância para um manejo adequado, visando à melhoria da produção, orienta a especialista. Estudo sobre o tema vem sendo realizado por João Saviolo Osti, também aluno do Pós-graduação, orientado pela pesquisadora Thaís.
Citando Landell (2007), Thaís observa que o potencial de eutrofização das rações deve fazer parte das preocupações de todo o elo da cadeia de produção (dos fabricantes e piscicultores). É que existe uma relação direta entre o potencial poluente das rações e as taxas de conversão alimentar, observando-se eutrofização mais baixa quando se encontra uma melhor conversão alimentar.
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