O plantio consorciado de café com macadâmia, além de gerar duas fontes de renda para o produtor, ainda aumenta a produtividade das duas culturas. É o que mostra pesquisa desenvolvida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). O plantio consorciado entre as culturas aumentou em 10% a produtividade do café e em 176% da macadâmia. Em condições de irrigação, o salto da produtividade do café foi de 60% e o de macadâmia de 251%. Além disso, o antecipou a colheita da macadâmia em dois anos, diminuindo o tempo para retorno do investimento. A pesquisa é inédita no País.
Os trabalhos se iniciaram em 2005 e foram conduzidos pelo Polo Regional Centro Oeste, da APTA, localizado em Bauru, interior paulista. Os resultados da pesquisa foram publicados nas revistas Agronomy Journal, em que foi capa da edição de março, Horticultural Science e revista Pesquisa Agropecuária Brasileira. Todas as publicações com elevado fator de impacto. A tecnologia de cultivo consorciado, nos moldes propostos pela APTA, já está sendo usada por cerca de 20 produtores, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
De acordo com Marcos José Perdoná, pesquisador da APTA, a rentabilidade insatisfatória do café, ocasionada por produtividade insuficiente, produz uma situação de insustentabilidade na maior parte da cafeicultura paulista. “O estudo da APTA avaliou o crescimento e produtividade do café arábica em monocultivo e consorciado com macadâmia, com e sem irrigação, assim como avaliou a rentabilidade e o período de retorno desses cultivos para as condições paulistas. A pesquisa fornece importantes informações que podem colaborar na viabilidade da cafeicultura no Estado”, esclarece o pesquisador da APTA.
A explicação para o aumento expressivo na produtividade do café está na arborização das plantas, proporcionado pelas árvores de macadâmia, que protegem das ações do calor e vento, que provocam abortamento de flores e ferimentos nas folhas. “O cafezal sofre muito com a ação dos ventos. O uso da macadâmia pode diminuir em 72% a velocidade dos ventos e em 2,2ºC a temperatura média do ar”, afirma Perdoná.
Outra justificativa para o ganho da produção do café está na ciclagem de nutrientes. As raízes da macadâmia, mais profundas que as do cafeeiro, resgatam nutrientes que já estavam perdidos. Com a queda e decomposição das folhas, há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis, melhorando ambiente para o cafeeiro.
O pesquisador da APTA alerta que o ambiente mais úmido também pode causar alguns problemas na produção, como o aumento da ferrugem e broca do café.
Além das vantagens da árvore da macadâmia para a cultura do café, o produtor pode conseguir mais uma fonte de renda com o plantio da noz, já que a macadâmia é a segunda noz mais cara do mundo – perdendo apenas para a noz pinoli, usada para fazer molho pesto. Além disso, com a alta do dólar, o produto é ainda mais atrativo, já que possui ampla venda no mercado externo.
Com relação à cultura da macadâmia, a principal dificuldade enfrentada na sua expansão no Brasil é o elevado período de retorno do investimento – a noz começa a produzir depois de cinco anos e apenas quando atinge 12 anos tem produção rentável, de 15 quilos de noz por planta. Quando consorciada com o café, a macadâmia começa a produzir dois anos mais cedo e aos três anos já tem produção comercial. “O uso de tecnologias, como o cultivo consorciado e a irrigação, são as melhores alternativas para solução deste problema”, afirma o pesquisador da APTA.
Os resultados de oito anos de pesquisas mostram que a produtividade da amêndoa, em relação ao sistema de cultivo de macadâmia solteira foi de 51%, 176% e 251% superior para os sistemas consórcio macadâmia-café, sequeiro, macadâmia solteira irrigada e consórcio macadâmia-café irrigado, respectivamente.
A produção mundial de macadâmia é em torno de 140 mil toneladas anuais. O Brasil produz seis mil toneladas por ano, sendo São Paulo o maior produtor, responsável por 35% do volume nacional, e maior processador da noz. Cerca de metade da produção nacional é consumida internamente e o restante é exportado.
Como conduzir as duas culturas?
Normalmente, a implantação do consórcio pode ser feita em três situações. A primeira delas, quando o cafeicultor quer arborizar seu cafezal e ter mais uma fonte de renda, podendo implantar a macadâmia no cafezal já existente. Outra opção é quando o produtor quer produzir macadâmia e implanta o café para pagar os investimentos iniciais da produção do pomar da noz. Depois que a macadâmia começa a produzir, o produtor pode retirar o café do campo.
O produtor pode, porém, iniciar sua produção consorciando as duas culturas e conduzi-las em conjuntos. Para isso, a APTA elaborou o arranjo de plantas adequado para o cultivo integrado dessas duas culturas. Segundo Perdoná, a ideia é ter duas linhas de café solteiro e uma linha com seis plantas de café e uma de macadâmia. “Com isso, por hectare, teremos quatro mil pés de café e 200 árvores de macadâmia”, afirma. Nesse sistema, há a possibilidade de fazer a mecanização de todas as operações.
Texto: Fernanda Domiciano e Carla Gomes
Assessoria de Imprensa – APTA