A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), lançou o primeiro diagnóstico de viveiros suspensos de mudas de seringueira no Estado. A pesquisa mostra que é um sistema viável para os produtores de mudas suspensas, por atender à Resolução 23 da SAA, além de proporcionar mudas com elevado desempenho no campo, comparadas às produzidas no chão, e beneficiar a sanidade e rastreabilidade genética do sistema.
Entre maio e junho de 2016, pesquisadores do Polo Regional de Colina da APTA, Elaine Cristine Piffer Gonçalves, e do Polo Regional de Pindorama da APTA, Antonio Lúcio Mello Martins, o presidente da Câmara Setorial de Borracha do Estado de São Paulo, Luciano Della Nina, o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), Paulo Fernando de Brito, e o técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), Carlos Alberto De Luca entrevistaram 20 produtores de mudas de seringueira em bancada suspensa. “Isso equivale a 90% dos produtores desse sistema”, diz a pesquisadora Elaine. As entrevistas ocorreram pessoalmente, via e-mail e por telefone.
A pesquisa aponta que, dentre os produtores entrevistados, 70% já havia produzido as mudas no chão no sistema antigo, e 30% nunca havia trabalho com este tipo de produção. O trabalho mostra que nenhum iniciante obteve sucesso na atividade. Do total, 45% dos entrevistados eram grandes produtores, com produção de mais de 50 mil mudas, 25% possuíam uma produção média, entre 11 e 20 mil unidades, e 30% eram pequenos produtores, com produção de até 10 mil mudas.
As tecnologias usadas pelos produtores também foram analisadas no levantamento. “A intenção do diagnóstico foi observar quem estava tendo sucesso na produção de viveiros suspensos de mudas de seringueira, e o porquê desse sucesso, e quem estava tendo dificuldade e identificar as possíveis falhas ocorridas”, diz Elaine.
Dos entrevistados, 85% utilizaram substrato de casca de Pinus, de diferentes texturas, como fina, média e grossa. De acordo com o pesquisador Antonio, os produtores afirmaram que a textura é fator fundamental de produção. “Segundo eles, deve-se utilizar o substrato de textura média, pois o fino provoca encharcamento e o grosso seca rapidamente”, diz. Outro substrato utilizado para substituir a terra, que não pode ser usada nesse sistema de produção, foi a fibra de coco, que não apresentou bons resultados.
Para nutrição, 75% utilizaram solução nutritiva, 20% mista (osmocote e solução nutritiva) e apenas 5% utilizaram adubos de liberação lenta e nenhum tipo de nutrição. Foi constatado que o uso exclusivo de fórmulas de liberação controlada dificultou o desenvolvimento dos porta-enxertos e, consequentemente, retardou a enxertia.
“Foi relatado que o uso conjunto de solução nutritiva com adubações foliares ocasionou um maior índice de sucesso, tanto no desenvolvimento do porta-enxerto quanto no pegamento da enxertia”, afirma Elaine.
Na enxertia, os produtores declararam que os fatores relacionados ao sucesso são: número de fileiras de sacolas por bancada, época a ser realizada, manejo de irrigação, enxertadores com experiência e borbulhas utilizadas, que devem ser compatíveis com a idade do porta-enxerto, livre de doenças, que não sofreram durante o transporte e não foram armazenadas por períodos longos. Por isto, existe grande necessidade de terem jardins clonais cadastrados e aptos para venda de borbulhas em diferentes regiões produtoras, pois as borbulhas perdem a viabilidade rapidamente e se o jardim clonal for longe do viveiro, encarece bastante o custo da muda.
Ainda na enxertia, a melhor porcentagem de pegamento ocorre quando o processo é realizado durante os meses de novembro a fevereiro. As análises foram feitas com base no clone RRIM-600, utilizado por todos os entrevistados. “O número de fileiras por bancada é um fator a ser considerado, pois após a enxertia precisa haver aeração e insolação suficientes para o melhor pegamento”, explica a pesquisadora da APTA.
Diagnóstico
Depois de um trabalho realizado pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), da Secretaria, e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, em 2013, foi detectado que 74% das amostras das raízes das mudas de seringueira dos viveiros de chão estavam contaminadas com nematóides. Para evitar o risco de comprometer a produção, o Estado de São Paulo lançou a Resolução Estadual da SAA 23 que exige que as mudas sejam produzidas em bancada suspensa.
Muitos produtores mostraram-se contrários e relutantes a mudar o sistema que vem sendo utilizado na heveicultura há 40 anos. “Por isso, fomos ao campo ver as experiências dos produtores com a produção em bancada suspensa. O Estado de São Paulo é pioneiro nesse sistema de produção de mudas e queríamos analisar se havia produtores conseguindo produzir e quais as dificuldades encontradas”, diz Elaine.
Foi observado que grande parte da resistência pelos produtores se deu pelo fato do mercado de mudas de seringueira estar deprimido neste momento, e pela necessidade de investimentos em infraestrutura e tecnologias. Acostumados a produzir mudas no chão por um custo muito inferior ao das mudas de bancadas, sem tantas exigências sanitárias e de rastreabilidade genética, e devido ao acompanhamento diário e constante que a produção de mudas de bancada suspensa exige, muitos foram contrários ao sistema.
“O viveiro suspenso de mudas de seringueira é um modelo de produção viável para a heveicultura paulista, que segue a Resolução da SAA. Para se adaptarem, há a possibilidade de usarem o Manual Técnico de Produção de Mudas de Seringueira em Bancada Suspensa desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e procurarem a ajuda de técnicos da Pasta. O diagnóstico provou que os viveiristas que utilizaram o Manual Técnico da SAA e pediram orientação técnica obtiveram sucesso. Temos compromisso com a sanidade e estamos aptos a auxiliar os produtores e viveristas, uma recomendação do governador Geraldo Alckmin”, afirma Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento.
Neste sentido a Comissão Técnica de Heveicultura da SAA vem promovendo Workshops para Viveiristas de mudas de seringueira pelo Estado inteiro, em diferentes regiões e fez, em parceria com a Estação Experimental de Bebedouro e outras empresas BioCross e Produquímica, um Projeto Piloto de mudas de seringueira em bancada suspensa. Metade do experimento segue a metodologia proposta no Manual Técnico de produção de mudas de bancada da SAA, e no restante, novas pesquisas relacionadas à nutrição, manejo e enxertia estão sendo realizadas. Em breve, os resultados da pesquisa serão apresentados no V Encontro Técnico da cultura da Seringueira, em Barretos. No início de 2018, será realizado um Dia de Campo, no local do experimento, para todos os Viveiristas do Estado.
Por Giulia Losnak (estagiária)
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