A 31ª Reunião Anual do Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para fins Agrícolas, realizada pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, acontece nesta terça-feira, 24 de fevereiro de 2015, das 9h às 17h, na Sede do IAC, em Campinas. Este ano, o IAC ultrapassa três décadas de atividades ininterruptas nesse trabalho, o que o difere de qualquer outra ação no Brasil na área de solos.
Esta edição coincide, em 2015, com o Ano Internacional dos Solos, conforme anúncio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A Reunião abre o calendário de eventos que serão promovidos pelo IAC em torno deste tema (leia mais abaixo).
O evento reúne laboratórios de análises de solos privados do Brasil e do Exterior, que adotam tecnologias desenvolvidas pelo IAC em análises de solos. Além da transferência de métodos, o IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, acompanha o desempenho dos laboratórios, ao longo do ano, por meio do Ensaio de Proficiência, que envolve a checagem das análises realizadas pelas unidades particulares.
Com essa atividade, o IAC contribui para a capacitação das empresas e, consequentemente, para que os agricultores, baseados em análises de solos precisas, obtenham melhores resultados em suas lavouras.
A capacitação do setor por meio de transferência de tecnologia do IAC e a avaliação das atividades dos laboratórios participantes são constatadas em números. Em 2014, foram feitas 1 milhão e 200 mil análises básicas, por 60% dos laboratórios participantes do Ensaio de Proficiência IAC. Desse total, 57% foram feitos por laboratórios de São Paulo. O grupo fez ainda 358 mil análises de micronutrientes e 310 mil de granulometria.
Dos 128 inscritos no Ensaio de Proficiência, 83% são privados, 59% são de São Paulo e há também participantes do Paraguai, Uruguai e Guatemala. Segundo o pesquisador do IAC e coordenador do Ensaio, Heitor Cantarella, observa-se, ao longo dos anos, um aumento do número de laboratórios com melhores conceitos (A e B) e redução do número de laboratórios com notas inferiores (C e D). Em 1995, quando começaram as análises de micronutrientes, só 10% dos laboratórios participantes obtiveram nota A. Hoje 47% têm esse conceito. A granulometria começou em 2000, quando apenas 15% dos participantes tinham conceito A. Hoje são 46% com essa avaliação. O coordenador relata que os laboratórios se empenham em obter o selo de qualidade, pois o mercado já procura saber se a unidade tem esse selo do Instituto Agronômico.
“Constatamos o sucesso do Ensaio de Proficiência pelo número crescente de adesões de laboratórios, que resulta da respeitabilidade do Instituto junto aos usuários”, avalia Cantarella. Para ele, os dados sobre a melhoria do desempenho dos laboratórios são indicativos de que o trabalho vem atingindo seus objetivos. A contribuição efetiva do IAC para a qualificação do setor privado pode ser comprovada por meio de estatísticas. Atualmente, 55% dos laboratórios participantes fazem análise completa, incluindo análise química, básica, de nutrientes e granulometria. No passado, a maior parte dos laboratórios só fazia análises básicas. Hoje, somente 12% são restritos a esse serviço. Essa mudança no perfil dos laboratórios mostra, na avaliação de Cantarella, que o IAC tem contribuído de maneira eficaz para a capacitação dos laboratórios. A adoção dos métodos do IAC e a melhoria nos processos levam as unidades ao aumento da gama de análises. “Em cerca de dois anos, a partir do ingresso do laboratório no Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas, a maior parte dos laboratórios com problemas analíticos atingem níveis satisfatórios”, diz.
O Ensaio diferencia-se, sobretudo, por dois aspectos: a qualidade do método desenvolvido pelo IAC, pioneiro na área, e a constância no desenvolvimento do trabalho, somadas ao rigor na orientação e acompanhamento dos laboratórios participantes. “A constância do nosso trabalho e o respeito aos cronogramas são aspectos importantes; essa aferição de resultados tem que ser tarefa rotineira dos laboratórios”, considera.
O Instituto transfere métodos e checa a qualidade das análises feitas pelos integrantes com as amostras do Programa Interlaboratorial. A adesão é voluntária e os laboratórios com conceito A e B recebem selo atestando proficiência nas análises realizadas. A relação do grupo está disponível no site do IAC. Tudo é feito por sistema eletrônico, sem identificação do laboratório, que acessa os próprios dados por meio de senha pela internet.
IAC adota o tema em 2015 como mote da comemoração de 128 anos
Reunião Anual do Ensaio de Proficiência IAC abre o calendário comemorativo
A 31ª edição do evento coincide, em 2015, com o Ano Internacional dos Solos. Atendendo à solicitação da FAO de promover ações de divulgação sobre a importância deste recurso natural e de sua conservação, o IAC adotou o tema como o mote de sua campanha de aniversário de 128 anos, que serão completados em junho próximo. Nesse sentido, serão realizados eventos sobre solos para públicos diversos, a fim de levar aos interessados informações, ciência e tecnologia geradas pelo Instituto. Também está sendo realizado o Curso de Verão em Solos e Gestão Ambiental, de 23 a 27 de fevereiro, organizado pela Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico.
A FAO objetiva informar a população em geral sobre o caráter não renovável deste recurso natural, essencial para a vida em todos os seus aspectos. Espera-se que, ao conhecer os benefícios proporcionados pelo solo, a população colabore para a sua conservação.
Segundo o pesquisador do IAC, Heitor Cantarella, 95% de todo alimento produzido no mundo vêm do solo. “A importância do solo para a manutenção na vida vai além de servir de substrato para a produção de alimentos e de outras matérias-primas para a agroindústria. O solo também é um grande reciclador de nutrientes”, afirma.
Cantarella explica que, por decompor resíduos orgânicos de várias origens, os microrganismos ali presentes têm papel fundamental no papel higienizador do ambiente que o solo exerce. Se não fosse esta ação, o mundo teria um problema enorme com dejetos de gado, suínos e aves, além de resíduos orgânicos urbanos, agrícolas e industriais. O pesquisador afirma ainda que, ao absorver gás carbônico, o solo contribui para mitigar o aumento de CO2 na atmosfera. Cantarella explica que a água vinda das chuvas pode conter poluentes e ao passar por todas as camadas do solo, ele exerce o papel de filtro, onde ocorrem trocas gasosas, o que vai tornando a água límpida. “É assim que, quando chega ao lençol freático está em condições potáveis, para consumo humano”, esclarece.
O momento atual, quando pessoas do Brasil todo sentem os impactos da falta de água, reforça a necessidade de o mundo se atentar para o solo, pois, segundo os pesquisadores do IAC, seu manejo adequado contribui para preservação da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos. “É função do solo filtrar a água”, diz a pesquisadora do IAC, Isabella Clerici De Maria. Apesar de haver uma ideia de que o solo “suja”, na realidade, esse recurso natural tem o papel de filtrar impurezas na água e no ar. “Ele presta esses serviços ecossistêmicos, os filtros do solo desintoxicam o ambiente”, resume a pesquisadora. Isabella alerta que, se o solo não estiver bem cuidado, a água não consegue infiltrá-lo e, assim, carrega sedimentos que assoreiam rios. “Esse processo diminui a vida útil dos reservatórios de água para abastecimento e para hidrelétricas”, diz.
Contribuição prática e direta
O Ensaio de Proficiência do IAC qualifica os prestadores de serviços em análises de solo e contribui com todos os setores de produção agrícola. Essa tecnologia é fundamental para a produtividade de qualquer cultura. Cana, citros, café e outras culturas de grande importância para o Estado de São Paulo têm suas lavouras orientadas com base nesse recurso. O passo seguinte às análises são as recomendações de adubação e calagem. Esses insumos representam, em média, 20 a 30% do custo de produção de qualquer das lavouras. “As análises de solo permitem otimizar esses investimentos, pois levam a lavoura a atingir seu potencial de produção para aquela condição de solo e clima”, explica Cantarella. Com base no diagnóstico, é possível evitar o excesso do uso de produtos e assim minimizar gastos e impactos ambientais. Todos esses benefícios podem ser obtidos com baixo investimento, já que cada análise sai por R$ 30,00 a R$ 35,00.
São paulistas 72 dos 122 laboratórios que enviaram resultados e foram avaliados. Minas Gerais vem em segundo lugar, como 18 participantes. No total, 12 Estados brasileiros participam do Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas — Goiás, Paraná, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Santa Catarina e Tocantins. Essa presença nacional explica-se pela credibilidade conquistada pelo IAC nessa área. Os laboratórios que têm nas análises de solo e planta sua principal atividade, chamados independentes, somam 40%.
Para concorrer ao selo de qualidade do IAC, os laboratórios devem fazer todas as determinações do conjunto analítico em que pretendem participar, além de analisar um número mínimo de 16 amostras, por ano. Isso representa 80% das distribuídas. Em 2014, 106 concorreram ao selo, que é dispensado pelas unidades que fazem análises somente para uso interno.
Pioneiro no Brasil a fazer análises de solo, além de capacitar laboratórios, o IAC continua fazendo análises para agricultores e fornecendo recomendações. São feitas cerca de 20 mil análises anualmente.
Quando essa atividade teve início no País, somente laboratórios públicos prestavam esse serviço. Com o aumento da demanda, fruto do maior interesse dos agricultores pela tecnologia disponível e pelo despertar do setor pelo novo mercado, unidades privadas passaram a prestar o serviço. Nesse novo cenário, o Instituto Agronômico — como instituição pública — assumiu o papel de oferecer suporte ao setor privado, transferindo os métodos de análises de solos, capacitando os laboratórios particulares e aferindo a qualidade do serviço prestado. O Instituto Agronômico desenvolveu os métodos, lançados em 1983, com foco em diagnósticos mais confiáveis para os solos paulistas. Um ano depois, lançou o Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas de Qualidade de Laboratório de Solos. Desenvolvido para São Paulo, ao longo do tempo o Ensaio foi atraindo laboratórios de outros Estados e até de outros países.
Por Carla Gomes (MTb 28156) – Assessora de Imprensa – IAC