Índice pluviométrico, cotação do dólar e o preço do boi gordo
Data da postagem: 12 Agosto 2008
Câmbio e chuva estão entre as principais variáveis que definem o preço do boi gordo. Estudo recente do pesquisador Eder Pinatti, do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, indica que o preço do boi gordo é influenciado pelo dólar comercial e pela precipitação pluviométrica. A pesquisa foi realizada com base em dados levantados no período de 1995 a 2006.
As informações do mercado, principalmente o comportamento dos preços, são indispensáveis para o correto planejamento da atividade agrícola e imprescindíveis para a manutenção da lucratividade, diz Pinatti. Os fatores de produção (recursos naturais) influenciam a qualidade, a produtividade e o volume de produção dos produtos agrícolas. Os fatores naturais, principalmente os climáticos, são os que mais influenciam a atividade agropecuária, pois são de difícil controle pelo homem, acrescenta.
Além disso, os fatores macroeconômicos (de mercado) influenciam todas as atividades econômicas, principalmente as agrícolas, observa o pesquisador do IEA. A taxa cambial (real por dólar americano) é um fator importante, já que muitos produtos agrícolas, chamados de commodities, são cotados em dólar, e outros têm parte de sua produção exportada diz Pinatti.
O índice pluviométrico faz com que, na época de seca, o preço do boi gordo suba, porque cai a produtividade dos pastos, diz o pesquisador. Devido à falta de chuva, os pastos ficam secos e os animais não ganham peso - alguns até emagrecem. Com o baixo peso dos animais, não é possível ter uma quantidade de animais para atender à demanda. Assim, os produtores esperam a época de chuvas para que os animais recuperem peso. Na época de seca, animais com o peso ideal são poucos, levando a um aumento do preço da arroba.
Apesar do aumento do confinamento dos animais, a sazonalidade ainda não está totalmente eliminada, porém está em um patamar bem menor que na década passada, informa Pinatti. O aumento da produtividade somente é possível com a adoção de tecnologias, investimentos em sanidade, nutrição (principalmente com melhoria e manejo de pastagens), reprodução, manejo racional, melhoramento genético e gerenciamento, diz.
O pesquisador explica que há defasagem de tempo da influência da quantidade de chuva na cotação do preço do boi gordo O fato pode ser explicado por dois motivos: um deles é o ciclo intra-anual (período de safra, que corresponde aos meses de maior precipitação pluviométrica, e o período de entressafra, durante o inverno seco, quando a precipitação pluviométrica é menor, menos favorável ao crescimento das forrageiras); e o outro, as variações mensais dos preços do boi gordo. Os agentes, conhecendo este comportamento nas variações mensais e também o comportamento das chuvas no ano anterior e conseqüentemente das pastagens (principal alimento dos bovinos), procuram antecipar as tendências de sentido das variações de preços ao seu favor.
Para o índice de precipitação pluviométrico, 51,25% das variações são transmitidos para a cotação do preço do boi gordo (...). Essa transmissão ocorre com defasagem temporal de 10 meses, diz o pesquisador do IEA.
Com relação ao dólar, os preços que os frigoríficos ofereciam pelo boi durante o período da pesquisa variavam de acordo com a cotação do dólar, informa Pinatti. Os produtores e os frigoríficos ainda mantinham um resquício de indexação. Nessa relação entre o produtor e o frigorífico, no período estudado, a cotação do dólar sempre influenciou no preço do boi gordo.
Para cada 1% de aumento no valor do dólar, o preço do boi gordo subia 0,25%, segundo o estudo, explica Pinatti. "Quando o dólar variava (valorização ou desvalorização), o preço do boi gordo seguia a mesma tendência (de aumento ou queda). Em nosso estudo, concluímos que 25% das variações do dólar eram repassados aos preços do boi gordo. Assim, quando a cotação do dólar variava 1%, 0,25% da variação (no mesmo sentido) do boi gordo era função exclusivamente do dólar".
Este é um valor significativo, principalmente pelo fato de que a cotação do dólar pode variar e esse preço é repassado para o consumidor, diz o pesquisador do IEA. Diante da acentuada desvalorização do dólar nos últimos anos, a influência do dólar sobre o preço do boi gordo diminuiu. Entretanto, somente um novo estudo com dados atuais pode dimensionar esta diminuição.
Pinatti pretende desenvolver um novo estudo, no qual acrescentará o número de fêmeas abatidas (fator do sistema de produção), que determina o ciclo plurianual (entre 5 e 8 anos), aos dados utilizados neste estudo. O objetivo é verificar se a sua inclusão proporcionaria um valor mais preciso, conclui.
O trabalho foi publicado na Revista de Economia Agrícola (na edição nº1 de 2008), cuja versão eletrônica está disponível no site www.iea.sp.gov.br.
José Venâncio de Resende/ Maitê Laranjeira da Silva
Assessoria de Comunicação da APTA
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