“O produtor brasileiro ainda faz pouco uso do manejo integrado de pragas”. A afirmação é do diretor-geral do Instituto Biológico (IB-APTA), Antonio Batista Filho. Segundo ele, a técnica garante redução nos custos de aplicação de agroquímicos e sustentabilidade da produção, porém, ainda falta conhecimento do agricultor sobre ela. A temática do manejo integrado de pragas (MIP) será abordada por Batista Filho durante a mesa redonda “Gestão Sustentável do Controle de Pragas e Doenças”, que será realizada na EsalqShow, feira de inovação e empreendedorismo promovida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de 9 a 11 de outubro de 2018, em Piracicaba, interior paulista. A palestra de Batista Filho será proferida no dia 10 de outubro, às 15h, e faz parte da programação do AgTech Valley Summit. O IB é ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O manejo integrado de pragas consiste na otimização do controle de pragas agrícolas, como ácaros, insetos, doenças e plantas daninhas. A ideia é utilizar diferentes ferramentas, como produtos químicos, agentes biológicos, extratos de plantas, feromônio, manejo cultural e plantas iscas, por exemplo, para controlar as pragas agrícolas quando necessário. “O manejo integrado surge do desafio de produzir alimentos com foco na sustentabilidade, aliando biodiversidade e produção agrícola e integrando tecnologias na gestão de pragas e doenças. É uma reação ao uso indiscriminado de defensivos agrícolas. Com a técnica é possível manter as pragas sempre abaixo do nível em que causam danos para as culturas”, explica Batista Filho.
A base para implantação do MIP envolve as condições de ambiente, como níveis de controle, bioecologia e monitoramento, além de medidas para reequilíbrio do sistema, que incluem o vazio sanitário, utilização de produtos seletivos para preservação de inimigos naturais, utilização de refúgio para plantas transgênicas e rotação dos princípios ativos.
Na prática, para identificar se há necessidade ou não de aplicar agroquímico na cultura da soja, por exemplo, o agricultor contaria a quantidade de lagartas encontradas em um metro de sua lavoura. “Para o controle da lagarta da soja, por exemplo, é indicado utilizar produtos químicos quando forem encontradas 40 lagartas por metro. Muito agricultor acaba aplicando esses produtos quando nesta área tem apenas duas lagartas. Muitos utilizam calendário de aplicação e não verificam no campo se há necessidade ou não de aplicar os produtos”, explica.
Além do desperdício de produto e de dinheiro para a aplicação, o uso incorreto de agroquímicos pode prejudicar o meio ambiente e colocar em risco a saúde do trabalhador rural. “O produtor faz isso, pois muitas vezes não tem conhecimento sobre o manejo integrado de pragas. Além disso, ainda temos poucos estudos na área para culturas menores”, afirma o diretor do IB.
Saber qual a praga que está atacando a lavoura, a quantidade e até mesmo o tamanho delas traz mais autonomia para o produtor, que pode escolher um produto químico específico para combater aquela praga ou optar por soltar no campo o seu inimigo natural, fazendo uso do controle biológico. “Além disso, é possível ver as populações de insetos na lavoura e identificar se já existe a ocorrência de inimigos naturais daquela praga. Por exemplo, se o produtor de soja vai a campo e percebe que as lagartas estão brancas, é sinal que o inimigo natural delas já está fazendo o controle e não é necessário aplicar nenhum agroquímico”, explica Batista Filho.
Controle biológico
O controle biológico é uma das estratégias de controle integrado de pragas e consiste no uso de inimigos naturais para diminuir a população de uma praga. “Ele abre espaço para uma agricultura mais sustentável. Resumidamente, pode ser definido como natureza controlando natureza. Um exemplo de controle biológico no manejo integrado de pragas é a utilização de ácaro predador no manejo de ácaro rajado em diversas culturas, como feijão, milho e soja”, afirma o diretor do IB.
Os agentes de controle biológico agem em um alvo específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e preservam os polinizadores. “O avanço tecnológico na produção de alimentos em função da utilização de insumos modernos é indiscutível. Contudo, o emprego inadequado tem levado a situações de risco. Existe a consciência de que é necessário encontrar um ponto de equilíbrio que compatibilize a demanda crescente de produção de alimento e preservação do futuro. O controle biológico é uma ferramenta importante para isso”, diz.
Segundo Batista Filho, no passado o mercado de controle biológico era restrito, com percepção de baixa eficiência, qualidade inconsistente e sem grandes empresas. Hoje, esta situação mudou. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico (ABCBio), a tecnologia cresce de 15% a 20% ao ano. Em 2016, o setor movimentou US$ 17 bilhões. “Existem, aproximadamente, 60 biofábricas que produzem organismos para uso no controle biológico no Brasil. Essas novas empresas surgiram junto com novas possibilidades para obtenção de patentes e propriedade intelectual dentro de um novo arranjo institucional”, afirma.
Em 2017, o Instituto lançou o Programa de Inovação e Transferência em Controle Biológico com o objetivo de integrar todas as áreas de pesquisa do IB com controle biológico e disponibilizar ao setor produtivo suas tecnologias e serviços. “Queremos promover a inovação e a transferência de tecnologia na área de controle biológico por meio de ações voltadas para a geração de conhecimentos e prestação de serviços. Das 60 biofábricas existentes no País, 56 delas já receberam assessoria técnica do IB. Juntas, essas empresas geram 500 empregos diretos e três mil indiretos, aproximadamente”, diz Batista Filho.
EsalqShow
A EsalqShow é um fórum dedicado a estimular inovações e empreendedorismo na agricultura, frente a produtos, serviços, últimas tendências do mercado, futuros desafios e novas ideias. O evento é realizado pela Esalq/USP e conta com a colaboração e presença de profissionais de diferentes setores, de acadêmicos e pesquisadores, líderes de empresas e startups, além de estudantes do Brasil e do exterior.
A mesa redonda “Gestão Sustentável do Controle de Pragas e Doenças” contará com a palestra de Antonio Batista Filho, diretor-geral do IB, Edson Begliomini, cientista da Mtsui Chemicals do Brasil, Adriano Vilas-Boas, presidente da América Latina da AgBitech, e José Roberto Postali Parra, pesquisador da Esalq/USP. A AgTech Valley Summit, da EsalqShow, será realizada em 10 e 11 de outubro, com mesas redondas focadas em gestão de sistemas integrados em agricultura e agricultura tropical e sociedade no futuro.
Durante a EsalqShow, o público poderá conferir apresentações e discussões técnicas em três painéis temáticos: agricultura digital, startup e agronegócio e agricultura familiar. Na área de exposição, chamada de Espaço Inovar Esalq e Cia, ocorrerá mostra de estandes de empresas, instituições públicas, empresas incubadoras e startups. Na Vitrine Esalq, os departamentos acadêmicos mostrarão seu produtos e serviços disponibilizados à sociedade.
Por Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – APTA
19 2137-8933