A terceira edição do maior censo de variedades de cana-de-açúcar do Brasil, realizado pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), mostrou a redução da adoção da variedade mais plantada no país, a RB867515. A área instalada nesta safra é bem menor que o total da área cultivada, que reúne toda a cana, em todos os estágios de corte. O levantamento também mostrou que a variedade CTC4 apresentou o maior crescimento em relação à safra passada, juntamente com a RB966928. Os dados também mostram uma redução de 77,1% para 66,1% na concentração varietal. As variedades IAC representaram 4,5% em todo o censo e 5,1% das intenções de plantio para a próxima safra.
O censo 2018 alcançou 216 unidades recenseadas, totalizando 5.957.393 hectares. Iniciado em maio de 2018 e concluído em novembro, o objetivo do censo varietal é levantar informações sobre as áreas de variedades cultivadas em todo o país.
A incidência da concentração de variedades indica a relutância dos canavicultores em lançar mão de novos materiais, mesmo tendo conhecimento sobre os riscos biológicos existentes na falta de diversidade varietal. O Programa Cana IAC recomenda que em uma área de produção, uma única variedade de cana-de-açúcar não represente mais do que 15% do total, de acordo com o pesquisador Marcos Guimarães de Andrade Landell. “A diversidade varietal é estratégica para garantir a segurança biológica e evitar que, em caso do ataque de praga ou doença severa, grande parte do canavial seja atingida”, explica Landell.
A RB867515 é uma variedade antiga, com restrições em sua adaptação aos sistemas mecanizados. “Por isso ela está saindo do mercado de São Paulo; essa variedade está na quarta posição nas intenções de plantio para a próxima safra”, explica o consultor do Programa Cana IAC, Rubens Leite do Canto Braga Junior.
O censo também mostrou que as variedades IAC permanecem em crescimento na maioria das regiões produtoras de cana-de-açúcar, com maior representatividade nos Estados de Goiás e Mato Grosso e na região de Ribeirão Preto, no interior paulista, onde essas variedades foram responsáveis por 16,8%, 10,3% e 11,2% das áreas de plantio, respectivamente. As variedades IAC, sobretudo a IACSP95-5094, aparecem com proporções maiores no levantamento de intenções de plantio para a próxima safra.
Assim como ocorreu na segunda edição do censo, o levantamento mostrou que a cana-de-açúcar nos campos brasileiros está velha. “Há menos cana do que deveria ter nos primeiros estágios de corte e mais do que deveria ter nos estágios mais avançados”, afirma Braga Junior. Esse envelhecimento do canavial reflete diretamente na produtividade, que cai ao longo dos cortes. Nas últimas dez safras, houve uma queda de 27 toneladas, por hectare, quando se compara a média dos dois primeiros cortes com a média dos demais estágios de corte. O desempenho variou de 110 para 62 toneladas. Segundo Braga Junior, a idade da cana colhida na próxima safra será ainda mais velha do que a colhida na safra atual.
A renovação dos canaviais está baixa porque este é um dos processos mais onerosos da canavicultura. Como o setor tem vivido períodos de baixo rendimento, os produtores procuram economizar, adiando a renovação. Entretanto, o prejuízo é previsto, considerando que as variedades modernas são adaptadas ao plantio mecanizado, apresentam menor quantidade de falhas, têm alta produtividade e resistência às doenças e ao acamamento.
Os estados do Espírito Santo e do Mato Grosso têm o maior índice de concentração varietal por região. Nos canaviais capixabas, em 68% da área cultivada predomina a RB867515, que também está em 47% das lavouras mato-grossenses e é a mais cultivada em todos os estados brasileiros.
São Paulo tem se mostrado mais eficiente na modernização varietal, conforme constatado nesta e nas edições anteriores do censo. Ribeirão Preto, no interior paulista, apresenta a menor concentração varietal. Sede do Centro de Cana do IAC, o município tem variedades IAC tanto nas áreas cultivadas como nas plantadas recentemente. Também está nesta região a maior intenção de plantar materiais IAC na próxima safra, com 5,5% para a IACSP95-5094, que ocupa o quinto lugar nas manifestações de interesse. A primeira é a CTC4, com 13,1%. Em Piracicaba, com 39 mil hectares amostrados, 2,2% pretendem plantar a IACSP95-5000.
De acordo com o censo, as variedades IAC tem boa representatividade em todos os estados, exceto Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Paraná. No Estado de Minas Gerais, o levantamento sobre intenção de plantio mostrou que a IACSP95-5094 tem 3,0% das intenções de plantio e a IAC91-1099, 2,5% em 72 mil hectares amostrados.
Em Goiás, a IAC91-1099 ocupa 7% da área cultivada de 640.171 hectares recenseados e a IACSP95-5000 está em 4%. Na área plantada, a IAC91-1099 é a terceira, com 9,3%; a IACSP95-5000 tem 2,9%; a IAC87-3396, 1,9%, e a IACSP95-5094, 1,6%. No Mato Grosso, a IAC91-1099 está na terceira posição, com 8,4% da área plantada de 17.808 hectares recenseados.
Em São Paulo, região de Araçatuba mostra uma renovação mais lenta – apesar de não haver variedade IAC na área cultivada, na área plantada recentemente aparece a variedade IAC91-2195, com 1,2%.
Saiba mais:
Diferença entre área cultivada e área plantada:
Área cultivada: toda a cana que está no campo, em todos os estágios de corte.
Área plantada: cana instalada na safra atual.
Por Carla Gomes (MTb 28156)
Assessora de Imprensa – IAC
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