A produção de bicho-da-seda é considerada uma importante atividade para pequenos e médios produtores rurais. Na condição de atividade agroindustrial, atende a dois setores da economia: fiação de seda e produção das lagartas que tecem o casulo, gerando emprego e renda no meio urbano e rural. Para trazer melhorias ao processo produtivo, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo realiza projeto que visa à redução dos custos de produção e o uso racional da mão de obra, conferindo eficiência produtiva e colocando a atividade como opção rentável e sustentável para o estado de São Paulo, através da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios.
A APTA desenvolve e disponibiliza tecnologias aplicadas à sericultura (produção de bicho-da-seda), que abrangem as áreas de produção animal e das amoreiras usadas para alimentação dos bichos-da-seda, desenvolvidas, normalmente, em uma mesma área. Os estudos visam o aumento da eficiência produtiva e na utilização da mão de obra, o que reflete diretamente na redução dos custos de produção, reestruturando o modo de produção atual.
Dentre as pesquisas da APTA é possível citar a avaliação e disponibilização de cultivares selecionadas de amoreira com alto potencial produtivo e melhor produtividade, utilização da amoreira como fitoterápico, o que pode abrir nova fonte de renda para o produtor, além do desenvolvimento de novas formas de produção de amoreira, com o aproveitamento de áreas ociosas como carregadoras, cercas, beira de estrada para otimização do uso da área rural.
Há ainda trabalhos que propõem o armazenamento da amoreira onde se possibilita a racionalização no uso de mão de obra, tempo de colheita e armazenamento dos ramos, com ganhos no processo de manejo de criação das lagartas do bicho-da-seda, além da utilização de nova técnica para suplementação nutricional da amoreira e possível implementação na produção de seda e estudos de novo Módulo Produtivo na Sericicultura, adequado às atuais condições socioeconômicas de produção e novas tecnologias.
“Apesar de a sericicultura ter atingido seu auge no estado de São Paulo entre as décadas de 1960 e 1990, atualmente tem-se observado um gradual crescimento da atividade, principalmente na região Centro-Oeste, com aumento no número de produtores motivados pela melhor remuneração do casulo e pela disponibilidade de novas tecnologias”, afirma Antonio José Porto, pesquisador da APTA.
Atividade viável para pequenos e médios produtores
Segundo Porto, a produção de bicho-da-seda é uma atividade recomendada, principalmente, a pequenos e médios produtores rurais, por apresentar características voltadas para o agronegócio familiar. Uma das justificativas está no seu alto valor agregado. “A sericicultura pode ser considerada uma atividade rentável e viável a curto e médio prazo, principalmente por resultar em rápido retorno do investimento. De modo geral, todas as despesas com equipamentos, maquinários e instalações, são amortizadas em 10 a 15 anos, período considerado curto”, afirma.
Pesquisas realizadas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas (Emater) mostram que um sericicultor (produtor de bicho-da-seda) pode obter renda anual de R$ 19.366,06 por hectare, sendo que um produtor rural, trabalhando com leite ou cana, necessitaria produzir, no mesmo hectare, 21.517 litros de leite ou 349 toneladas de cana para conseguir renda como essa.
De acordo com o pesquisador da APTA, outro ponto importante do cultivo do bicho-da-seda está na sua capacidade de produção em conjunto com outras atividades, como cafeicultura, fruticultura, olericultura, bovinocultura de leite, avicultura e apicultura, por exemplo. “A estratégia é explorar diferentes fontes de renda na propriedade, uma prática comum na sericicultura. É necessário, porém, escolher de forma correta a atividade, considerando o uso de agentes químicos que podem contaminar a produção dos animais”, explica Porto.
A atividade é também considerada de baixo impacto ambiental, por conta do modelo de produção adotado no Brasil, chamado de cepo, em que a parte aérea da planta é cortada rente ao solo, com 70 a 90 dias após a brotação. A prática diminui o ataque de pragas e doenças que afetam as folhas, reduzindo e até mesmo eliminando a necessidade de aplicação de defensivos agrícolas. A adubação também é feita, normalmente, com adubos orgânicos e aproveitamento dos restos de culturas e sobras da criação das lagartas. “Na criação do bicho-da-seda o produtor deve controlar as doenças priorizando o trabalho profilático de limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos”, conta o pesquisador da APTA.
Integração entre empresas de fiação e produtores rurais
Porto explica que a produção do bicho-da-seda passou por diversas modificações, tornando-se mais tecnificada. Na década de 70 e 80, a criação do bicho-da-seda era conduzida pelos produtores desde a fase do ovo. “Hoje, as empresas fazem a criação das lagartas na fase jovem, cabendo ao produtor a criação a partir do chamado terceiro ínstar até a formação do casulo”, explica.
De acordo com o pesquisador da APTA, esta medida, além de melhorar a uniformidade na produção, diminui o período de criação da lagarta para o produtor, passando de 32 a 35 dias para 25 a 28 dias. “Com isso, há retorno mais rápido do capital aplicado e receita mensal de até nove meses, quando considerada a safra de setembro a maio”, afirma.
A atividade é firmada nos moldes de integração entre empresas de fiação e produtores. As empresas fornecem os subsídios necessários para o cultivo e o produtor disponibiliza mão de obra e os meios de produção. Neste molde, a venda do produto é veiculada à empresa parceira, que mantém postos de compra localizados estrategicamente nas regiões produtoras, garantindo mais segurança na comercialização. “O preço pago pelo casulo produzido é estipulado no início da safra, com base em um valor de referência, mantendo-se inalterado até o final da mesma, mas condicionado à qualidade, o que facilita o planejamento financeiro do produtor”, diz Porto.
A produção intensiva é outro ponto levantado pelo pesquisador da APTA que mostra a viabilidade da atividade. Para a produção do bicho-da-seda, as lagartas são mantidas confinadas em barracões e são criadas de forma intensiva, havendo o aproveitamento racional do espaço interno das instalações. A maior necessidade de área, segundo o pesquisador, está na produção da amoreira, que tem as folhas usadas na alimentação das lagartas.
“Com o avanço dos programas de melhoramento genético, desenvolvidos no Instituto de Zootecnia, que resultaram no lançamento das cultivares de amoreira IZ, hoje mantidas e estudadas na Unidade de Pesquisa de Gália da APTA, houve ganhos significativos na produtividade das amoreiras, chegando a 25 toneladas de folhas por hectare no ano. Alia-se a isso a aplicação de novas técnicas para plantio, espaçamento, mecanização, uso de fertilizantes e defensivos, que possibilitou a redução da área plantada, sem afetar a produção das folhas”, explica.
Por Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – APTA
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