A notícia de um caso positivo do mal da vaca louca no município de Marabá (PA), divulgada no dia 22 de fevereiro, deixou o setor agropecuário apreensivo e os exportadores de carne bovina em alerta. Por enquanto, aguarda-se o resultado da contraprova, que está sendo feita no Canadá; no entanto, tudo indica tratar-se de um caso atípico – que ocorre espontaneamente em todas as populações de bovinos.
Mas, o que é o mal da vaca louca? Quais as características e sintomas dessa doença? Pode ser transmitida aos seres humanos? Essas são as perguntas mais frequentes sobre a doença.
A médica veterinária Claudia Del Fava, pesquisadora científica do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, responde a estas e outras perguntas:
O que é o mal da vaca louca?
A encefalopatia espongiforme bovina (BSE), popularmente conhecida como mal da vaca louca, é uma doença transmissível do sistema nervoso de gado adulto (Bos taurus e Bos indicus), causada pelo acúmulo de uma proteína anormal chamada “príon” no tecido nervoso. Foi descoberta no Reino Unido, em 1986, e rapidamente foi detectada em outros países.
A doença pode ser transmitida para os seres humanos?
A BSE é considerada zoonose devido à sua suposta ligação com o surgimento da variante da doença de Creutzfeldt-Jakob. A doença em humanos é extremamente rara, mas é uma condição grave e muitas vezes fatal. Os sintomas incluem perda de memória, mudanças de comportamento, problemas motores e táteis.
A BSE é sempre perigosa?
Existem duas formas de apresentação:
• Atípica (BSE tipos H e L) – ocorre espontaneamente em todas as populações de bovinos e não depende da ingestão de alimentos contaminados com príons. Até o momento não há evidências de que a BSE atípica seja transmissível por alimentos contaminados. No entanto, protocolos para gerenciar o risco de exposição de príon atípico na cadeia alimentar continuam a ser recomendados como medida de precaução.
• BSE Clássica (BSE tipo C) – sua transmissão ocorre pela alimentação de bovinos com farinha de carne e ossos de bovino contaminada com príon da BSE, e ou ração animal contendo farinha de carne e ossos contaminada com príon da BSE. Embora a BSE clássica tenha sido identificada como uma ameaça significativa na década de 1990, sua ocorrência diminuiu acentuadamente nos últimos anos, como resultado da implementação bem-sucedida de medidas de controle eficazes, e agora é estimada como extremamente baixa. Essas medidas de controle foram impostas pela Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), que exigiu dos países membro que seus sistemas de Defesa Sanitária Animal implementassem e executassem programas sanitários de combate à doença, o que resultou no declínio da BSE tipo C em todo o mundo. Até o momento, a incidência de ambas as formas de BSE é insignificante e estimada em quase zero casos por milhão de bovinos.
Como ocorre a transmissão?
Com relação à transmissão e propagação da BSE, estudos apontam que o gado geralmente é infectado por meio da ingestão de alimentos contaminados com príons durante o primeiro ano de vida. O risco de contaminação ocorre se a ração contiver produtos derivados de ruminantes, como farinha de carne e ossos, que é o produto proteico obtido pela transformação de certas partes de carcaças de animais, inclusive de pequenos ruminantes e bovinos de criação, que não são utilizados para consumo humano.
Como o príon infeccioso é resistente a procedimentos comerciais de inativação, como calor, não pode ser destruído no processo de aproveitamento de resíduos de tecidos. A incidência de BSE foi muito maior em bovinos leiteiros do que bovinos de corte, porque geralmente os rebanhos leiteiros são alimentados com rações concentradas que, antes da introdução de controles mais rigorosos, continham farinha de carne e ossos.
Não há evidências de transmissão direta entre animais (transmissão horizontal) e poucos dados apontam que a BSE seja transmitida de mãe para filho (transmissão vertical).
O caso relatado no Pará é motivo de preocupação?
Com relação ao foco de BSE investigado em Marabá (PA), o bovino macho de nove anos, criado em pasto, sem ração, foi abatido e sua carcaça incinerada no local. O serviço veterinário oficial brasileiro local (Agência de Defesa Agropecuária do Pará - ADEPARÁ) coletou amostras de sistema nervoso central para análise laboratorial, e está realizando a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado laboratorial.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está adotando todas as providências, a fim de proteger o mercado de exportação de carnes brasileiras contra barreiras sanitárias decorrentes da BSE. Sendo assim, notificou o foco de Marabá à WAOH em 23 de fevereiro de 2023, porém é necessário aguardar a análise de amostras que foram encaminhadas para tipificação do príon por Western Blotting no laboratório de referência em Alberta - Canadá. Se confirmando caso atípico, o Brasil manterá seu estado de Risco BSE insignificante, podendo exportar carne bovina para China e outros países membros da WAOH sem restrições sanitárias.
Qual a importância da Defesa Agropecuária nesse contexto?
O Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina – coordenado pelo Mapa e executado pelas agências de Defesa Sanitária Animal dos estados brasileiros –, bem como os laboratórios que contribuem com o diagnóstico, atuando na vigilância da BSE, representa um trabalho fundamental. A identificação desse foco é resultado de um trabalho conjunto entre essas instituições. Esse Programa visa manter o Brasil com o menor risco para a doença, mediante a aplicação de medidas de prevenção da entrada do agente no país, de mitigação de risco na cadeia produtiva de ruminantes e de vigilância para a detecção precoce da doença.
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Nara Guimarães
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