Novas tecnologias com potencial inovador serão expostas pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo no InovaCampinas Trade Show, um dos principais eventos de inovação do Brasil, que ocorre entre os dias 30 e 31 de outubro, na Expo D. Pedro, das 8h às 19h. A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura de São Paulo, fará a exposição de tecnologias que trazem novas soluções para agricultura, pecuária e processamento de alimentos no espaço exclusivo para agronegócios do evento. O InovaCampinas TradeShow é organizado pela Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi).
O objetivo da Secretaria é mostrar parte do portfólio de tecnologias e patentes da APTA para o público, formado, principalmente, por empresários e investidores. “Queremos mostrar para esses tomadores de decisão as tecnologias que temos trabalhado e que podem rapidamente ser disponibilizadas no mercado. A ideia é estar no evento para formar parcerias e interações, com empresas e instituições, buscando um setor mais competitivo dentro do sistema agroalimentar”, afirma Gisele Anne Camargo, diretora da Rede NIT-APTA, formada pelos Núcleos de Inovação Tecnológica do Instituto Agronômico (IAC-APTA), Instituto Biológico (IB-APTA), Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA), Instituto de Pesca (IP-APTA) e Instituto de Zootecnia (IZ-APTA).
Além da exposição de tecnologias, a APTA participará da rodada de negócios por meio da plataforma 100 Open Techs, aplicativo que permite o cadastramento de tecnologias e a conexão delas com empresas que buscam soluções inovadoras. “Esse aplicativo possibilita que as empresas agendem reuniões com os pesquisadores e gestores dos NIT para conhecer o que está sendo desenvolvido e negociar possíveis parcerias. Em 2018, realizamos diversas reuniões, que permitiram nos colocar em contato com grandes empresas do setor”, explica Gisele.
O InovaCampinas terá pela primeira vez atividade de estímulo ao ecossistema de inovação no agronegócio. No Inova#Agro a programação será focada em dois temas: fortalecimento de hubs e polos de Agtechs brasileiras e os desafios e soluções na indústria dos agroalimentos. A iniciativa é organizada pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag). A pesquisadora da SAA Ana Paula Reis Nolêtto, que atua no Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) do ITAL, ministrará palestra sobre o uso de embalagens inteligentes no mercado de agroalimentos visando a redução de perdas e desperdícios e garantindo a qualidade e segurança dos alimentos. Sua participação ocorrerá no painel que abordará tecnologias em embalagem, conservação e monitoramento no segundo dia do evento, em 31 de outubro, das 10h às 11h10.
Para o coordenador da APTA, Antonio Batista Filho, os Institutos desenvolvem há mais de um século pesquisa para o setor agropecuário, com resultados que ultrapassam as fronteiras paulistas e brasileiras, chegando até mesmo no exterior. “As pesquisas dessas instituições contribuíram e ainda contribuem para o Brasil ser considerado o país detentor da agricultura tropical mais avançada do Planeta. A agropecuária e a indústria de alimentos sempre foram usuárias dessas tecnologias. Porém, nosso trabalho precisa sempre avançar, por isso, temos construído mecanismos para incentivar as pesquisas de caráter inovador nas instituições, facilitando a interação entre esses institutos e as empresas privadas. É na empresa que a inovação acontece. Precisamos congregar cada vez mais esforços para ter avanços na produção brasileira de alimentos”, diz.
Conheça as tecnologias que serão expostas no evento pela APTA, da SAA, em 30 e 31 de outubro, no espaço dos agronegócios no InovaCampinas.
30 de outubro
Pecuária 4.0
Estão em desenvolvimento na APTA, pesquisas para o desenvolvimento de um produto natural, a base de terebintina, uma resina extraída do pinheiro, para controle de ectoparasitas, ou seja, carrapatos, bernes e mosca dos chifres em vacas leiteiras e gado de corte. Chamado de Terexxo, o bioinsumo visa o controle ambiental das fases de vida livre de ovos e larvas de ectoparasitas, de outros artrópodes e agentes, atuando principalmente em pastagens, piquetes e em áreas de maior concentração e circulação e nos próprios animais. “Queremos que os carrapatos e outros ectoparasitas não infestem os animais. O produto é natural, feito a partir de óleo essencial abundante em São Paulo e no Brasil. São Paulo é o maior produtor do País de terebintina. Esse produto poderá ser usado ainda para controle de ectoparasitas em pets e do cascudinho, um besouro que causa grandes prejuízos na produção de frango”, afirma Carlos Frederico de C. Rodrigues, pesquisador da APTA.
Rodrigues também trabalha no desenvolvimento do Rabixoo, um dispositivo chamado de órtese biomimética, que é fixado no terço médio da cauda das vacas para auxiliar no controle dos ectoparasitas. As duas tecnologias são interativas e possuem efeito sinérgico. O equipamento é formado por plástico poliuerano e fios de nylon com terebintina. A atuação do Rabixoo nos animais ocorre na forma mecânica e química. Ao ser fixado no rabo dos animais, age repelindo os ectoparasitas, impedindo que eles infestem as vacas, principalmente em locais que o rabo normalmente não atinge, como no cupim e paleta – em regiões nobres do couro, lombo e costados –, e no chifre. Isso ocorre, pois o equipamento proporciona 20% de incremento da amplitude da varredura da cauda do animal. Por ter terebintina nos fios de nylon, o dispositivo também age de forma química, evitando a ocorrência dos ectoparasitas. “Este dispositivo foi produzido no conceito web vestíveis customizável”, explica o pesquisador. A tecnologia já teve pedido de patente registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e está sendo desenvolvida em conjunto com startup. A ideia é conseguir investidores para colocá-la no mercado como ferramentas de gestão e bem-estar animal na pecuária 4.0.
Óleos essenciais para controle de carrapatos
O Instituto de Zootecnia trabalha no desenvolvimento de um produto natural com capacidade para combater os carrapatos em bovinos de forma eficiente e rápida. Segundo a pesquisadora do IZ, Luciana Katiki, os resultados mostram que o produto é eficaz. “O diferencial está na ação sob todas as fases do carrapato. Após a aplicação do produto, as fêmeas ingurgitadas e demais fases secam, de modo que não chegam a por ovos, havendo eliminação de grande parte da população, evitando a resistência dos carrapatos ao produto”, afirma.
Os testes realizados pelo IZ mostram que o produto é eficaz e seguro para o animal e para o aplicador. O carrapaticida natural, chamado do HYGIZ, tem como foco a sustentabilidade, por não deixar resíduos nos produtos de origem animal e também no ambiente. Desenvolvido em parceria com a empresa HYG, a equipe busca empresas interessadas em viabilizar a produção em escala e disponibilização no mercado.
Leite A2
O Instituto de Zootecnia desenvolveu duas metodologias para genotipar os animais para os alelos A1 e A2 do gene CSN2 da beta-caseína. As mesmas metodologias também podem ser usadas para a fiscalização de leite comercializado A2, o qual apresenta sensibilidade acurada para detectar a presença de A1 em amostras de A2. Uma das metodologias é baseada em PCR em Tempo Real seguida de HRM enquanto que a outra possui um sistema de duas enzimas acoplado aos primers híbridos RNA-DNA para identificar com precisão as variações alélicas.
Probióticos para cultivo da tilápia
Pesquisa inovadora do Instituto de Pesca (IP-APTA) isolou da tilápia-do-nilo bactérias que podem trazer benefícios para a piscicultura brasileira. Essas bactérias atuam como probióticos, colonizando o sistema intestinal dos peixes e propiciando melhoras em vários aspectos da saúde dos animais. Apesar dos probióticos serem utilizados na tilapicultura, nenhum era específico para a atividade, o que levava a resultados menos efetivos. A utilização dos probióticos promete ser uma aliada dos pscicultores que buscam melhores resultados na produção. Entre os benefícios estão o aumento da capacidade imunológica do animal, equilíbrio na microbiota intestinal e melhores taxas de sobrevivência, em caso de doença. Além disso, há redução no uso de produtos químicos sintéticos para a produção animal e maior e melhor crescimento dos peixes, trazendo retorno mais rápido ao produtor.
Macroalga pode ser usada na produção de biocombustíveis e biofertilizantes e na alimentação humana e animal
O IP desenvolve pesquisas relacionadas a macroalga marinha Kappaphycus alvarezii em três frentes: biocombustíveis, biofertilizantes e alimentação (humana e animal). O Instituto, em conjunto com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), desenvolveu tecnologia inédita para a obtenção de um hidrolisado de glicose por meio do processamento industrial de macroalgas marinhas. Além de diminuir os resíduos na indústria de processamento, a tecnologia permite a produção de uma matriz energética passível de uso na fabricação de biocombustível, biofármacos, enzimas, antibióticos e alimentos. O pedido de patente foi depositado no INPI, em março de 2017. Estudos também foram desenvolvidos com a Universidade de São Paulo (USP – Ribeirão Preto) na obtenção do bio hidrogênio.
Na área de biofertilizantes, o IP, em conjunto com a Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri-Unicamp), verificou que o cultivo da k. alvarezii pode ser uma alternativa econômica para pescadores do litoral norte paulista, que podem produzir artesanalmente o extrato aumentando significativamente a produtividade na agricultura. “Já existem muitos trabalhos científicos que comprovam a eficiência desse extrato de forma foliar na agricultura, com diminuição de doenças, resistência a estiagens e aumento na produtividade - só para alface, por exemplo, esse aumento foi de, em média, 23%”, afirma a pesquisadora do IP, Valéria Cress Gelli. Estudos do IP também mostraram que a farinha da macroalga pode ser usada na alimentação, para enriquecimento de fibras e outros componentes nos alimentos para consumo humano e na ração animal.
Novos produtos: sucedâneo de caviar de truta arco-íris
Considerado uma iguaria gastronômica, o caviar, obtido das ovas do peixe esturjão, tem elevado valor agregado e desperta interesse do consumidor. Em função da sobrepesca, o esturjão corre risco de extinção, o que pode resultar na diminuição da oferta de caviar e elevação do preço do produto final. O Instituto de Pesca (IP-APTA) desenvolve pesquisas para a utilização de ovas de truta como sucedâneo de caviar. O produto é mais barato para o consumidor, em relação ao caviar importado. Enquanto 100g do caviar importado é encontrado no mercado por valores que variam de R$ 480,00 a R$ 1.500,00, a embalagem de 40g do sucedâneo de caviar de truta pode chegar a R$ 25,00. “O caviar tem ovas pequenas, com sabor intenso, salgadinho e com odor marinho. O sucedâneo de caviar de truta tem ovas maiores e sabor e odor delicados”, afirma Thaís Moron Machado, pesquisadora do IP-APTA.
31 de outubro
Invicta: uma proposta diferenciada para produção de mudas de cana de alta qualidade
A adoção de mudas de cana-de-açúcar com alta qualidade fitossanitária e genética é o primeiro passo rumo à produtividade de três dígitos (acima de 100 toneladas por hectare). Além de permitir elevada produtividade e longevidade dos canaviais, a adoção de mudas sadias também tem impacto direto na redução dos custos de produção. Essa tecnologia foi desenvolvida pelo IAC e fundamenta-se na limpeza clonal de variedades de cana, em laboratórios de cultura de meristemas, seguida da checagem da sanidade de todas as plantas para as doenças sistêmicas transmitidas por mudas, utilizando métodos avançados de biologia molecular, além da identidade genética certificada por fingerprint de DNA. Chamada de INVICTA, a produção de “muda semente de cana”, como tem sido proposta, deve ser a base para fornecimento de material propagativo para os viveiros multiplicação de muda de cana-de-açúcar, garantindo os requisitos fundamentais quanto a pureza genética e qualidade fitossanitária para as doenças sistêmicas transmitias por muda.
Os resultados oriundos em viveiros de mudas INVICTA evidenciam que é possível elevar a produtividade e longevidade dos canaviais a patamares ainda não alcançados: viveiros de multiplicação atingem produtividade de 250 t/ha aos 13 meses (130 t/ha aos sete meses de cana planta e 120 t/ha aos seis meses de cana soca), e longevidade do canavial projetada para até 12 anos, desde que sejam executados os controles fitossanitários adequados. “A tecnologia INVICTA foi gerada após uma demanda intensa do setor sucroalcooleiro pela produção de mudas sadias, uma vez que apenas a micropropagação não é suficiente para garantir a sanidade do material multiplicado em biofábrica. A tecnologia INVICTA é única e está sendo colocada a disposição do setor sucroalcooleiro, cumprindo nossa missão institucional de desenvolver pesquisa fundamentada na inovação e transferência de tecnologia”, afirma Silvana Creste, pesquisadora do IAC.
MPB: o sistema que tem alterado o modo de se plantar cana no Brasil
Durante o InovaCampinas, o IAC apresentará seu Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB), tecnologia que tem alterado o modo de plantar cana-de-açúcar no Brasil. O Sistema MPB consiste na utilização de gemas para a formação de mudas. Com o método é possível reduzir significativamente a quantidades de material de propagação que vai a campo. Para o plantio de um hectare, o consumo reduz de 20 toneladas de cana no sistema convencional, para duas toneladas no MPB. Isso significa que 18 toneladas de cana que seriam enterradas como mudas irão para a indústria produzir etanol e açúcar. Além disso, o MPB traz velocidade na adoção de novas variedades pelos canaviculturoes, aumentando a produtividade das lavouras e o vigor fitossanitário.
Em 2019, o IAC obteve a marca registrada do Sistema pelo INPI. Cerca de 800 profissionais já foram treinados pelo IAC nesse sistema pioneiro de produção. A qualificação da produção tem contribuído para alçar alguns produtores a viveiristas de mudas credenciados pelo Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Corte por deslizamento: nova tecnologia para colheita da cana-de-açúcar
O IAC tem patente exclusiva referente ao sistema de corte de base pertencente ao ramo de máquinas agrícolas. A tecnologia substitui, na cultura da cana-de-açúcar, o corte por impacto pelo corte por deslizamento, associado ao uso de lâminas serrilhadas. A invenção do IAC reduz os danos causados por impacto provocado pelo método até então existente. O novo sistema aumenta a longevidade do canavial, por causar menor dano à soqueira.
O sistema é uma novidade do ponto de vista técnico. “Pode ser adaptado em qualquer colhedora comercial, sem a necessidade de modificações na máquina, apenas trocam-se os discos e as lâminas”, afirma o pesquisador do IAC, Roberto da Cunha Mello. “O corte por impacto danifica as soqueiras e facilita o ataque de micro-organismos, que prejudicam a rebrota e reduzem a produtividade”, explica. O sistema anterior também prejudica a cana colhida, aumentando o volume de perdas e o teor de impureza mineral. A tecnologia criada pelo IAC vem atender a uma necessidade do Brasil, o maior produtor mundial de cana, que enfrenta perdas de 10% a 15% ocorridas com a colheita mecânica. O tipo de corte adotado está entre os responsáveis por esses prejuízos.
Alimentos
O ITAL estará presente na área de exposições nos dois dias de evento com exibição de resultados de alguns de seus serviços técnicos especializados, com destaque para o aproveitamento de resíduos da agroindústria e o palmito em embalagem flexível, além de orientações e esclarecimento de dúvidas através de pesquisadores de seu corpo técnico.
Na área da Rede NIT-APTA, no dia 31, o ITAL se dedicará à negociação de tecnologias, em especial o extrato aquoso e a fibra de casca de café, ingredientes naturais fonte de cafeína, cujo processo de obtenção sem uso de solventes - fruto de parceria com o Instituto Agronômico (IAC) - tem pedido de patente depositado no INPI. Com possibilidade de aplicação tanto em alimentos industrializados e bebidas não alcoólicas quanto em cosméticos e fármacos, o ingrediente poderá ser provado em bala mastigável e chocolate.
Tecnologia sustentável: controle biológico
Em um mundo que exige cada vez mais alimentos com menos ou nenhum defensivo agrícola, o Instituto Biológico (IB-APTA) oferece ao produtor rural opções que dispensam o uso de produtos químicos. É o controle biológico, tecnologia sustentável que movimentou R$ 464,5 milhões no Brasil em 2018, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle biológico (ABCBio). O IB é referência no assunto e suas cepas IBCB 66 e IB 425, usadas na fabricação de bioinseticidas para controle biológico da mosca branca, ácaro rajado, cigarrinha-da-raiz do milho e cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar, foram selecionadas pelo Instituto e hoje são usadas por mais de 90% das empresas que fabricam esses produtos biológicos. Todas as 75 biofábricas brasileiras de produção de produtos para controle biológico já foram assessoradas pelo Instituto de pesquisa paulista, que é referência no Brasil e no Mundo nesta área.
Cidadão do campo “no mapa”
No InovaCampinas o público poderá conhecer o Rotas Rurais, projeto lançado pelo Governo de São Paulo e Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que visa mapear as estradas paulistas, por meio de um software, via satélite, e disponibilizar para a população da zona rural a localização de sua propriedade. O principal ganho com a implementação do Rotas Rurais em todo o Estado será a viabilização de acesso a serviços públicos básicos e fundamentais, como saúde e segurança. Além disso, o projeto irá facilitar a atuação de empresas privadas, cooperativas e associações de produtores, a logística e a distribuição de produtos agropecuários e a melhoria da infraestrutura do campo como um todo.
O plano inclui a distribuição de mapas para órgãos estaduais e também o compartilhamento com a iniciativa privada de forma a melhorar e universalizar os aplicativos de rotas, como Waze, Google Maps e outros. Usando a lógica interativa, todos os envolvidos no projeto poderão compartilhar e colaborar com a inserção de localizações. O projeto é realizado em parceria com a Fundepag e é patrocinado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).